Quem passa em frente à uma inauguração de alguma loja do Assaí se surpreende. Mesmo horas antes da abertura, uma fila de pessoas aguarda ansiosamente para aproveitar as promoções do dia. Sabendo desse movimento, a própria rede de atacarejo fornece salgadinhos e café para o desjejum dos presentes. Ao abrir a porta, alguns afoitos correm para aproveitar os produtos com maior desconto. Filas intermináveis se formam durante todo o dia.
Essa cena se repete praticamente em todas as aberturas. Somente no ano passado foram 20 inaugurações, entre aberturas e conversões de hipermercados Extra em atacarejos Assaí. Outro fato comum em todas as inaugurações é a presença do executivo Belmiro Gomes, presidente do Assaí.
“Só não fui para a inauguração de Diadema, pois a abertura mudou de dia e eu tinha viagem marcada”, afirma ele.
Para Gomes, a sua presença é fundamental para a abertura. Não pelo ego, mas pelo exemplo que essa atitude transmite. De acordo com o executivo, uma empresa só vai ter sucesso com o exemplo dos gestores, independentemente do cargo que eles ocupam. Tudo, no entanto, começa pelo CEO. “O Assaí é feito de gente e de exemplo”, afirma Gomes. “Somente 10% do que falamos a pessoa absorve e o que ela enxerga fica para sempre.”
O executivo, que já ocupou posições como sorveteiro, servente de pedreiro e boia-fria, está caminhando para o seu oitavo ano como presidente do Assaí. Após passar 22 anos no rival Atacadão, agora controlado pelos franceses do Carrefour, foi recrutado com a missão de colocar o Assaí como um dos protagonistas do setor de atacarejo e do grupo Casino. E conseguiu.
Em 2017, o Assaí aumentou a sua receita bruta em 27,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O montante de R$ 18,4 bilhões consolidou a bandeira como a de maior faturamento em todo o grupo Casino. E o crescimento tende a continuar acelerado.
A previsão do GPA é que o Assaí tenha 20 novas lojas por ano e que esteja presente em todos os estados brasileiros – atualmente, são 18. Em 2018, a intenção é entrar em mais duas unidades federativas – Gomes não abriu os locais exatos de abertura.
Salvação do varejo
O investimento no atacarejo faz todo o sentido para todo o setor de varejo. Afinal, em anos de crise, o atacarejo, com os seus preços mais em conta, acompanhou uma migração enorme dos clientes dos supermercados e hipermercados para os seus corredores. No GPA não foi diferente.
Em setembro de 2016, o Assaí se transformou no maior canal de vendas do GPA no varejo de alimentos. No segundo trimestre do ano passado, com as vendas continuamente em alta, se tornou a maior bandeira do mundo do Casino.
Não à toa, o modelo de negócio do Assaí, que consiste em galpões e prateleiras de estilo praticamente espartano, sendo exportado. A Colômbia já tem sete unidades da bandeira Surtimayorista, que é totalmente inspirado no sucesso do Assaí.
E foi o Assaí que recolocou o GPA no jogo, após anos de sucessivas perdas para o maior rival Carrefour. Por conta do sucesso do também atacarejo Atacadão, o GPA ficou atrás do concorrente francês em crescimento de vendas entre o segundo trimestre de 2014 até o primeiro trimestre de 2017.
De lá para cá, a bandeira comandada por Gomes obteve mais sucesso – causado também pela base menor de faturamento em comparação ao Atacadão.
A expectativa é de que os números continuem aumentado – e muito. Segundo dados da consultoria Kantar, em 2017, o atacarejo deve apresentar um resultado de 17,3% de crescimento em volume, enquanto os supermercados atinjam uma alta de 5%. Os números de 2018 devem seguir o mesmo caminho.
Não é “varejo de pobre”
De acordo com o presidente, o atacarejo conseguiu se livrar da pecha de “varejão de pobre”, segundo definição do próprio Gomes, nos últimos anos. Tanto pela necessidade dos clientes de comprar produtos gastando menos quanto pela remodelação das marcas.
“É um modelo de negócio muito mais produtivo e mais democrático”, diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.
Prova de que os tempos mudaram é a penetração do atacarejo na população brasileira. Em menos de dois anos, os brasileiros que frequentam atacarejos subiu de 40% para 56%. A tendência é que continue aumentando. Mesmo com tanta gente comprando nos atacarejos, as pessoas físicas representam apenas 50% do total das vendas.
A outra metade do faturamento do Assaí é vindo de pessoas jurídicas, ou seja, aquele pequeno e médio negócio, como pizzarias e bares. Atualmente, são 900 mil estabelecimentos desse porte ativos na Receita Federal. E a maioria deles vê nos atacarejos a melhor fonte para comprar insumos.
Mais democrático, mais vendas
É inegável que as classes mais baixas enxergam ainda mais valor (e deem mais importância) em negócios como o Assaí. Dados levantados pela Fundação Getúlio Vargas mostram que os mais pobres gastam 41% de toda a renda com alimentos. Logo, qualquer real economizado faz uma grande diferença.
O presidente do Assaí lembra de um caso ocorrido durante a inauguração da unidade em Garanhuns, no estado de Pernambuco. As diferenças dos preços praticados pelo Assaí em comparação aos varejistas da região chegavam a 40%. No dia de abertura, uma mãe de oito filhos foi agradecer pessoalmente a Gomes.
“Ela tinha gastado R$ 500 e disse para mim que comprou o dobro de produtos com o mesmo valor”, diz ele.
A reportagem visitou a inauguração da loja de Mogi das Cruzes, ocorrida em dezembro. Naquele dia, diversos pequenos comerciantes e famílias esperavam ansiosas na fila por promoções que iam de bancos de plástico até latas de cerveja.
Quem aproveitou para aumentar as margens do seu negócio foi o paulista Carlos Nascimento. Ele toca um pequeno estabelecimento de vendas de marmitas e aproveitou a promoção para comprar três sacos de batatas de dez quilos cada. Tudo seria aplicado nas marmitas, que não teriam o preço alterado para o consumidor final. Aqueles poucos reais economizados, no entanto, ajudaram a engordar as festividades de fim de ano.
Fonte: Consumidor Moderno