Por Pedro Arbex e Geraldo Samor
O Assaí reportou um resultado que veio em linha com as expectativas do sellside — mas com uma geração de caixa expressiva e um avanço de margens nas lojas convertidas do Extra que ajudaram a varejista a reduzir sua alavancagem.
A geração de caixa operacional nos últimos 12 meses dobrou para R$ 5,4 bilhões, de R$ 2,7 bi um ano atrás, ajudada por uma melhora substancial no capital de giro.
O CEO Belmiro Gomes conseguiu reduzir o nível de estoques em 7 dias e aumentar o prazo de pagamento dos fornecedores em outros 7. Isso levou a uma melhora de R$ 2,3 bilhões no capital de giro ano contra ano.
A geração de caixa livre do Assaí (o que sobra depois da empresa fazer seu capex e o pagamento das lojas do Extra) ficou em R$ 1,4 bilhão no período, enquanto a geração de caixa total (que inclui também o custo das dívidas) ficou negativa em R$ 244 milhões.
A forte geração de caixa operacional permitiu ao Assaí reduzir sua alavancagem no trimestre para 2,62x EBITDA, em comparação aos 2,78x do trimestre anterior. (O número reportado não inclui o saldo a pagar ao GPA pelas lojas do Extra nem o ‘risco sacado’, o que elevaria a dívida líquida em cerca de R$ 4,5 bilhões, nas contas de um gestor comprado no papel).
A meta da companhia é chegar no fim do ano com uma alavancagem de 2,2x EBITDA, próxima do nível do final do ano passado.
“A partir de dezembro a nossa alavancagem deve cair bastante, porque não vamos ter mais os compromissos de pagamentos das lojas do Extra,” a CFO Daniela Sabbag disse ao Brazil Journal.
Por conta disso, Daniela descartou um aumento de capital — que estava sendo especulado pelo mercado.
O trimestre também mostrou um avanço importante nas lojas convertidas do Extra. Segundo a CFO, a receita dessas lojas já se multiplicou por 2,5x, e elas já atingiram uma margem EBITDA de 6% no trimestre, em comparação a 5% no trimestre anterior.
Tipicamente, lojas greenfield do Assaí com esse nível de maturidade — entre 8 e 12 meses de operação — operam com margem EBITDA entre 0% e 2%, segundo a CFO.
A tendência é que a margem das lojas convertidas eventualmente ultrapasse a margem consolidada da empresa, já que “são lojas mais privilegiadas em termos de localização, com um mix de produtos mais diferenciado e serviços que agregam nas vendas,” disse Daniela.
Segundo a CFO, a expectativa do Assaí é triplicar a venda das lojas convertidas.
O Assaí já entregou 90% das conversões de lojas do Extra: 60 de um total de 67. Para este ano, a empresa projeta abrir 30 novas lojas, entre conversões e greenfield.
Apesar da surpresa positiva na geração de caixa, os principais indicadores do Assaí no trimestre vieram praticamente em linha com o consenso.
A receita líquida foi de R$ 16 bilhões versus um consenso de R$ 16,3 bi. O EBITDA veio em R$ 1,1 bi (margem de 7%) em comparação a R$ 1,12 bi do consenso; e o lucro líquido ficou em R$ 156 milhões contra R$ 157 mi projetados pelo sellside. Já a margem bruta ficou praticamente flat no trimestre (-0,1 ponto, em 16%, em linha com a margem histórica da empresa).
O crescimento da receita no trimestre, de 20%, veio apenas da expansão do número de lojas, já que o Assaí teve um same store sales negativo no trimestre, com uma queda de 2%.
O Assaí disse que a queda no conceito ‘mesmas lojas’ teve a ver com a deflação de determinadas categorias de produtos e com uma base de comparação forte (no segundo tri do ano passado, o SSS havia crescido 14,7%).
A companhia também disse que ganhou 3,6 pontos percentuais de market share no trimestre.
Segundo a CFO, a deflação tem um efeito negativo para o resultado do Assaí num primeiro momento, já que reduz o preço de alguns produtos, mas no médio prazo o aumento do poder de compra tende a ajudar os volumes, compensando a queda no top line.
A executiva acredita ainda que a dinâmica mais favorável da inflação e dos juros não deve levar o consumidor a fazer um upgrade de canal — saindo do atacarejo e indo para formatos mais premium.
“Quando o cliente vem para a loja e vê que é uma loja moderna, agradável e que ele ainda consegue economizar uns 15%, é muito difícil ele querer voltar para o outro canal,” disse ela.
Fonte: Brazil Journal