Por Moacir Drska | Há alguns trimestres, a desalavancagem tem ditado o tom do discurso do Assaí. O tema se tornou central na rede de atacarejo na trilha da pressão exercida pela combinação da compra de 66 hipermercados Extra, em 2021, com a escalada da taxa Selic na sequência dessas aquisições.
Esse pacote tem sido embalado por um novo ciclo de alta dos juros, o que se refletiu, em outubro, na revisão do guidance de aberturas e investimentos em novas lojas, e no reforço do foco na redução da alavancagem. Isso não significa, porém, que o grupo está deixando de movimentar outras prateleiras.
Como parte dessa agenda, o Assaí está embalando seu “carrinho”, em paralelo, com uma série de projetos para ampliar o share of wallet. Esse caminho passa por projetos em novas categorias e o reforço dos serviços nas lojas, além da ampliação do portfólio de serviços financeiros.
“O que reduzimos foi o investimento em lojas novas”, disse Belmiro Gomes, CEO do Assaí, a jornalistas na quarta-feira, 13 de novembro. “Esses novos projetos seriam feitos independentemente se estivéssemos abrindo 10, 30, 40 lojas ou se tivéssemos dívida ou não.”
Como parte da revisão anunciada pelo Assaí, que aponta para um investimento entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão para 2025, a parcela dos novos projetos dentro dessa conta está na faixa de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões, no caso dos serviços, e de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões em tecnologia e inovação.
Fique Por Dentro
O Assaí reduziu sua meta de expansão em 2025 de 20 para 10 lojas
O investimento previsto no período será de R$ 1 bilhão a R$ 1,2 bilhão
A meta é chegar a uma alavancagem de 2,6 vezes no fim do ano que vem
O montante restante, entre R$ 650 milhões e R$ 750 milhões, será destinado a abertura de 10 lojas em 2025, contra a projeção anterior de 20 unidades. E é justamente no “chão de loja” que o Assaí vem colocando em prática a inserção de novas categorias em seu mix.
Batizado de “In & Out”, o projeto passa pela ótica de compras de oportunidade, com produtos ofertados a preços mais baixos e por tempo limitado, que podem ou não passar a integrar o sortimento das lojas da rede. Importados e eletrônicos são algumas das categorias em teste nessa nova gôndola.
“Air-friyers, televisores e coolers são alguns dos exemplos que já testamos”, disse Gomes, ressaltando que a rede terá novidades em breve em categorias. “Nós podemos colocar um preço muito agressivo, de fato, porque conseguimos operar com um custo baixo e boa parte desse custo já está lá.”
Com o viés de aumentar o tíquete médio, a recorrência e as vendas cruzadas nas lojas, o projeto reforça uma pegada já de alguns anos do Assaí. Em linha com as mudanças feitas no modelo de atacarejo, a rede incorporou novas categorias em seu mix. E trouxe alguns dados para sustentar essa tese.
O grupo já contabiliza, por exemplo, 1 milhão de pneus vendidos anualmente, o equivalente a 4,5% do mercado brasileiro de pneus de reposição. Em outra área, a empresa já alcançou a marca de 3 mil garrafas de vinho vendidas por hora.
Nessa mesma direção de ampliar o formato para atrair novos públicos, a inclusão de serviços como açougues, padarias e a melhoria das ofertas de hortifruti são outro movimento já feito pelo Assaí. E que vai ganhar cada vez mais espaço na base de lojas da empresa.
Com a previsão de encerrar 2024 com mais de 300 lojas, o grupo tem atualmente 573 serviços já implementados nesse parque, com uma média de serviços por loja. Outros 43 serão implementados ainda nesse ano e, para 2025, o plano é adicionar outros 137 em 80 lojas.
“Havia um ceticismo no mercado quando seguimos esse caminho, pois se falava que os serviços poderiam ser um detrator do modelo de negócio do atacarejo”, disse o CEO. “Mas, de 2015 para cá, o nosso SG&A segue praticamente estável. Ele não foi alterado por conta dessas evoluções.”
Um outro passo dentro dessa evolução é aumentar a oferta na área de serviços financeiros. Atualmente, esse portfólio está centrado em ofertas como o cartão Passaí e na FIC, financeira fruto de uma joint venture com o Itaú Unibanco.
“Hoje, essas ofertas atendem a apenas um pedaço das necessidades, pois são voltadas à pessoa física”, afirmou Vitor Fagá, CFO do Assaí. “Vamos começar a estender esse portfólio a pessoas jurídicas e o primeiro passo será em subadquirência.”
Segundo o CFO, a rede está em fase de definição do parceiro para esse primeiro movimento em subadquirência. E a previsão é de que o projeto em questão deva ser colocado “na rua” no primeiro trimestre de 2025.
Dívida e M&As
No que diz respeito à desalavancagem, a outra prioridade no calendário do grupo, os executivos reforçaram os avanços recentes, com o reperfilamento e o alongamento da dívida, além da meta de fechar 2025 com uma alavancagem de 2,6 vezes.
Nos dados mais recentes, o Assaí fechou o terceiro trimestre com uma dívida líquida de R$ 13,8 bilhões, contra R$ 14,08 bilhões, um ano antes. E uma alavancagem de 3,52 vezes, contra o patamar de 4,4 vezes registrado no terceiro trimestre de 2023.
Gomes reservou tempo ainda para comentar o desafio de equilibrar o mantra da desalavancagem – que se refletiu no pé no freio em expansão – com o avanço de concorrentes, em especial, os regionais e, nesse mapa especificamente, o Grupo Mateus, na região Nordeste.
“O único player que temos visto com mais apetite é o Grupo Mateus, mas, mesmo assim, ainda pequeno”, disse o CEO. “É preciso esperar 2025 para ver quantas lojas de fato vão ser abertas, porque boa parte das aberturas foram anunciadas quando a curva de juros era outra.”
Ele também acrescentou que o que deve ser considerado nessa conta é o fato de que um projeto de abertura orgânica leva, em média, 4 a 5 anos para ser concluído. Além do tamanho total do mercado, de cerca de 2,5 mil lojas hoje.
“Para um mercado desse porte, não são 10 lojas que mexem o ponteiro”, afirmou. “Então, não é porque seguramos investimento em um, dois anos. Mesmo que um player regional ganhe participação, ainda será muito mais baixa que o Assaí em nível Brasil.”
As ações do Assaí estavam sendo negociadas com queda de 4,16% na B3 por volta das 14h10, cotadas a R$ 6,91. No ano, os papéis registram uma desvalorização de 50% e a companhia está avaliada em R$ 9,3 bilhões.
Fonte: Neofeed