Por Cristian Favaro | Depois de uma pandemia que deixou parte das pessoas usando pantufas em casa, a japonesa Asics tem visto uma boa recuperação nos negócios amparada pela forte demanda por tênis, que agora ganha espaço até nos escritórios em meio a uma maior informalidade. A constatação foi dada por Yasuhito Hirota, CEO global da empresa, em entrevista ao Valor. O grupo tem hoje 19 lojas na América Latina, sendo 15 no Brasil, e a meta é multiplicar os pontos físicos nos países da região por quatro nos próximos três anos.
Paralelamente, a companhia lança esforços para ampliar sua liderança no segmento de corridas em meio a um mercado local bastante concorrido.
A pandemia foi dura para a indústria de calçados, contou Hirota. Em 2021, no verão japonês, a empresa teve de suspender a operação na fábrica no Vietnã. “Começamos a investir mais na outra fábrica, na Indonésia. Percebemos o quanto é importante ter um portfólio robusto e diverso”, disse.
A previsão é fechar 2023 com um faturamento global de 550 bilhões de ienes (cerca de US$ 3,69 bilhões), alta de 13,6% na comparação com o ano passado e 45,5% acima de 2019. Na América Latina, o faturamento do grupo está na casa dos 20 bilhões de ienes (US$ 132 milhões) e a meta é manter uma taxa de crescimento na casa de 10% ao ano – o mercado é o sexto maior do grupo.
“Uma tendência é a mudança dos calçados nos escritórios”, disse, referindo-se ao uso de modelos mais informais. A linha de tênis Sportstyle da Asics, que representa 10% das vendas, passou a ganhar atenção nos investimentos.
A pandemia também trouxe outros comportamentos. “As pessoas começaram a se preocupar com a saúde e buscaram esportes que poderiam fazer sozinhas, como caminhada e corrida”, disse.
Outra herança do período foi a maior digitalização dos negócios. Antes da covid, cerca de 7% das vendas globais eram digitais, percentual que está hoje em 18%. “Queremos investir ainda mais no digital”, disse, apostando na junção dessa nova porta de entrada de clientes com as lojas físicas. O grupo reinaugurou no fim de semana sua loja na Oscar Freire, na capital paulista. “Nosso objetivo é aumentar o número de lojas no Brasil, Chile e Colômbia”, disse.
No Brasil, a empresa tem hoje três parceiros responsáveis pela produção local – um deles deve ser substituído no ano que vem, mas os nomes não foram divulgados por causa das negociações em curso. Em termos de volume, 75% da oferta da Asics aqui é produzida localmente e 25% importada – nível considerado bom pelo grupo e que será mantido. Já em termos de valor, 59% é oriundo de produtos nacionais e 41% de importados.
A recuperação, entretanto, tem acontecido diante de desafios. A cadeia de produção e fornecimento se normalizou, mas a inflação global é um problema. “Como existe, por conta dessa inflação, um aumento no custo de produção, nós estamos toda vez pensando na definição de preço”, disse o executivo. Ele destacou que parte é repassado aos clientes.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) mostram que de janeiro a setembro, o volume de calçados esportivos importados caiu 14,1% na comparação com igual período de 2019, para 6,1 milhões de pares. O valor da importação, entretanto, saltou 10,1%, para US$ 155,37 milhões.
O principal negócio do grupo são os tênis de corrida, que responderam por 53,3% do faturamento no ano passado – a Asics é líder por aqui no segmento. A empresa lançou uma versão do Nimbus 25 em homenagem a Ayrton Senna para disputar mais espaço em meio a um mercado altamente concorrido, com marcas internacionais como Adidas e Nike, além de concorrentes locais fortes, como a Olympikus.
O executivo, hoje com 66 anos, tem a corrida como um hobby que se iniciou aos 50 anos de idade. “Quando comecei, foi a primeira edição da maratona de Tóquio. Claro que tem pessoas que correm super-rápido, mas quando eu vi as pessoas correndo e se divertindo, eu achei que também conseguiria”, disse. Hoje, tem a meta pessoal de correr 150 km por mês.
Questionado sobre desafios para o futuro, Hirota disse que o mercado de alta performance para corredores está cada vez mais acirrado. “Estamos o tempo todo investindo para que o tênis se torne cada vez mais leve”, disse. Já no lado da indústria, uma das grandes questões é a redução de emissões de gás carbônico na produção (a empresa tem um modelo com menor emissão no mundo, com 1,95 kg por par, contra uma média de 13,6 kg para o par sem material reciclado, segundo estudo realizado pelo MIT em 2013).
Fonte: Valor Econômico