Por Eduardo Terra | Pelo décimo ano, a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) publicou o principal levantamento sobre “quem é quem” no mercado brasileiro. O Ranking CIELO-SBVC 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro não é somente uma listagem de varejistas: é um retrato da evolução do setor no país.
Em 2024 o ranking completou 10 anos de vida, mas em muitas coisas ele é inédito. Em primeiro lugar, tivemos naming rights pela primeira vez: a Cielo aceitou esse desafio, por ser uma empresa que olha de forma autêntica para a agenda de dados do varejo. Uma agenda que sempre foi importante, mas que nos últimos anos vem se mostrando essencial para quem quer crescer.
Você pode fazer o download gratuito do Ranking e mergulhar em suas próprias análises. E essa é uma das grandes riquezas do conteúdo: por trazermos dados dificilmente encontrados em outros levantamentos, temos um olhar mais rico sobre o que tem feito a diferença no varejo brasileiro.
De forma bastante pontual (e já te convidando a trazer seus próprios insights para a discussão), aqui vão alguns pontos que, na minha visão, se destacam na edição deste ano do Ranking CIELO-SBVC 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro:
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- A empresa número 300 do Ranking faturou R$ 460 milhões em 2023.
- O grupo das 300 maiores varejistas brasileiras responde por quase metade do faturamento do Varejo Restrito (conforme calculado pelo IBGE). Esse grupo movimentou, em 2023, R$ 1,129 trilhão e continua crescendo mais que o varejo como um todo.
- A consequência é um aumento da concentração do mercado, mas de forma muito leve. Além disso, o maior crescimento tem vindo de empresas fora do top 10 (o que me leva ao próximo insight).
- Crescer nacionalmente em um país tão diversificado quanto o Brasil é coisa para muito poucos. Os desafios tributários, logísticos e de entendimento dos consumidores são enormes. No Ranking, têm crescido mais rapidamente empresas regionais de grande porte, que dominam áreas significativas do País.
- Ainda na questão do crescimento nacional, a capilaridade é impulsionada pelo modelo de franquias, que viabiliza a criação de empresas com milhares de lojas em todo o País. Casos como Cacau Show e Grupo Boticário (as duas maiores em número de lojas do Brasil) comprovam essa tese.
- Desde a primeira edição do Ranking, o varejo sempre abriu mais lojas do que fechou. Mesmo durante a pandemia. Em 2023, as 300 maiores somaram 76.455 lojas, contra 74.182 no ano anterior.
- Os supermercados são os grandes protagonistas do Ranking: 157 das 300 empresas são varejistas de alimentos, sendo que 4 estão entre as 10 maiores.
- O Ranking é cada vez mais formado por supermercados e farmácias, e existem boas razões para isso: em uma década de crescimento lento da economia, o consumo tem se concentrado em itens essenciais.
- Copo cheio: 217 das 300 empresas contam com uma operação online. Copo vazio: mesmo depois de enfrentar uma pandemia e observar a digitalização do comportamento dos consumidores, que levou o e-commerce a avançar de 4% para 14% das vendas totais do varejo, 83 das 300 continuam analógicas.
- Os varejistas asiáticos passam a ter uma forte presença no Brasil por meio dos marketplaces. A Shopee já é maior que a Amazon por aqui (no varejo 3P) e a Shein também está no top 10. Somadas, as duas empresas têm um marketplace tão representativo quanto o do Magazine Luiza, o vice-líder desse mercado.
- O comércio cross border foi muito discutido no ano passado, mas o que tem ficado em segundo plano é a imensa oportunidade que temos de vender para outros países. O varejo cross border, afinal de contas, é uma via de mão dupla.
- Aos poucos, temos acordado para essa realidade. Em 2023, 17 das 300 empresas venderam para outros países – eram apenas 12 um ano antes. Há um potencial enorme a ser explorado, especialmente em mercados como a China, que tem buscado ativamente empresas para vender produtos por lá.
- Há 10 anos, 6 das 10 maiores varejistas brasileiras eram estrangeiras. Hoje, o cenário é bem diferente: o Carrefour lidera o mercado e o GPA tem o Casino como maior acionista (mas não mais majoritário). Todas as demais são nacionais. O Brasil não é para qualquer um, com certeza.
- Há décadas, a chegada de empresas estrangeiras traz o receio de que elas vão acabar com os players nacionais. Não aconteceu com as redes de construção ou os supermercados, nem com as farmácias, nem no varejo de moda – e não vem acontecendo no varejo digital, que também é dominado por empresas brasileiras.
O mercado brasileiro é desafiador, com certeza – mas as maiores empresas têm mostrado que não existe uma crise generalizada, como chegou a ser alardeado ao longo do ano passado. Quem mantém os custos sob controle e se baseia em dados para entender seus clientes e apresentar produtos, serviços e soluções que façam sentido para esse público continua tendo sucesso.
Os dados do Ranking mostram que 78% das empresas cresceram acima da inflação – não dá para dizer que foi um ano de crise. Mas há vários desafios a superar:
- Nos supermercados, a penetração média das vendas online é de apenas 5,7%, contra 18% das 300 maiores.
- Apenas 46% das 300 maiores varejistas usam o WhatsApp para fazer vendas.
- A cultura do uso de dados precisa avançar, especialmente nas empresas regionais, para acelerar o crescimento dos negócios.
- É preciso estar muito atento a ameaças externas ao varejo, como as bets. Um estudo da SBVC mostrou que 19% dos que já fizeram apostas esportivas usaram dinheiro que iria para as compras de supermercados. Essa é uma questão muito séria, não apenas por fatores de negócios, mas principalmente pelo componente social e de saúde pública envolvido em uma atividade que pode ser extremamente viciante.
Os dados do Ranking CIELO-SBVC 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro mostra um mercado pujante, desafiador e cheio de possibilidades. Agora cabe a cada um tirar o melhor proveito das informações e do conhecimento sobre os clientes.