Por Adriana Mattos (Colaborou Victor Meneses) | O comando do grupo Casas Bahia disse, nesta quinta-feira (8), em teleconferência com analistas, que vê amadurecimento de iniciativas do plano de reestruturação — com novas alavancas de aumento de receita e redução de custos em andamento —, mas espera uma melhora ainda gradual das margens. O foco continua sendo privilegiar rentabilidade, mesmo que em detrimento de venda, porque a cadeia, “não vai abrir mão de margem líquida para crescer”, disse Renato Franklin, CEO da rede.
A ação da empresa abriu o pregão, nessa quinta-feira (8), em forte alta, após analistas entenderem que há sinais de que o plano do comando avança, apesar da receita ainda afetada. O papel subia 24% às 15h50.
“Nós ouvimos: ‘Ah, a receita está baixa’. Mas o que temos que ver é o que vale aumentar venda ou não, dentro do que dá resultado. Aí, com isso claro, você gera valor. Porque isso é meio ‘trick’ [truque], porque você acha que vender mais vai gerar valor, mas isso nem sempre é assim”, disse.
“Nós nos blindamos das pressões de mercado que vinham nessa linha de só privilegiar o que dá venda”, disse. Franklin também disse que não se trata de perseguir apenas margem bruta, mas margem líquida, que gera resultado ao fim do balanço.
“Estamos também nos prendendo menos em margem bruta, porque você, às vezes, faz algo que melhora isso, mas que não gera Lair [lucro antes do imposto de renda e contribuição social]. Eu falo isso ao meu comercial, eu digo: ‘Meu amigo, não quero margem bruta, quero que dê impacto em todas as linhas’. É uma mudança cultural”, disse.
Sobre o plano de reorganização apresentado no começo de 2023, a empresa apresentou aos analistas as medidas e os resultados de parte dos pontos. Um dos principais aspectos era estoque, que chegou a bater em mais de 120 dias no fim de 2021, época de pandemia e risco de falta de produtos.
Hoje, cerca de 92% do estoque têm até 90 dias, melhor índice da história. Está em linha com a média de redes mais saudáveis em termos de gestão de caixa. A ideia é que a empresa vá recebendo produtos o mais perto possível da venda, para não ficar carregando estoque da indústria à toa — algo sempre difícil de negociar com os fabricantes.
Fechamentos de unidades e demissões
Além disso, foram fechados quatro centros de distribuição desde o início de 2023 e 60 lojas foram encerradas no período, parte com desempenho abaixo do esperado. Desde o ano passado, também foram fechados 10 mil postos de trabalho, cerca de 20% do total de 45 mil empregados que a empresa tinha ao fim de 2022, segundo dados arquivados na B3. O corte na área de liderança foi de 40%, com saída de diretores e vice-presidentes da antiga gestão após início de 2023.
A empresa ainda saiu, desde 2023, de 23 categorias vendidas por ela no “marketplace”, deixando segmentos que elevavam custo para a operação e estavam fora do “core” [negócio principal].
Na ponta do lápis, esse processo vai gerando retornos paulatinos. As despesas com vendas, gerais e administrativas ainda caíram menos que a receita, o que afeta a alavancagem operacional. Mas por conta de uma diminuição na linha de “outras despesas”, a queda total das despesas foi maior que o recuo da venda.
Franklin disse que 54% das lojas tiveram melhora na margem de um ano para cá, e em 12% das unidades, o aumento foi maior que cinco pontos percentuais.
A Casas Bahia ainda vê espaço para até R$ 2,5 bilhões de ganhos com o plano de transformação, a previsão era de até R$ 1,8 bilhão, com ações que incluem fechamento de pontos, renegociação de contratos, corte de estoques, entre outras do projeto.
“Sabemos que foi um plano ousado e agressivo e fomos desafiados quanto à capacidade de execução e sabíamos que teria um risco de desalavacagem operacional [despesas crescerem mais que receita], mas isto não ocorreu”, disse.
“Hoje o risco de execução é maior que o do primeiro ano, que antes era parar de fazer o que fazíamos e que era ruim. Agora, é ir acertando melhor para entregar os compromissos”, disse o CEO.
A respeito de expansão orgânica, o executivo disse não ver necessidade de ajuste estrutural do parque de lojas, além das 60 fechadas em um ano. E a expansão de unidades novas se dará após o meio de 2025. Aí será possível detalhar o plano: “Podemos abrir apenas pontualmente lojas”. O grupo tem 1.073 lojas, sendo 939 da Casas Bahia e 134 do Ponto Frio. Um ano antes, eram cerca de 1,1 mil.
Lucro de R$ 37 milhões no 2º tri
A varejista chamou a atenção para a existência de um mercado ainda difícil, apesar da recuperação de produção que a indústria tem informado frente a 2023. “Não há crescimento estrutural do mercado, e ainda há defesa da margem no setor. Ainda tem muita instabilidade política e econômica no país e no mundo”, disse ele.
O Grupo Casas Bahia reportou um lucro de R$ 37 milhões no segundo trimestre, revertendo o prejuízo de R$ 492 milhões apresentado um ano antes. No mesmo período, as receitas somaram R$ 6,48 bilhões, queda de 13,5% em um ano.
Apesar da queda nas receitas, o lucro do segundo trimestre foi influenciado, principalmente, pelo recuo de 94,8% no resultado líquido financeiro, que ficou negativo em R$ 42 milhões, ante ao resultado negativo de R$ 801 milhões apresentado um ano antes.
Fonte: Valor Econômico