Por Sergio Ripardo | O grupo calçadista Arezzo (ARZZ3) chega ao fim de 2023 com 20 marcas próprias e adquiridas, após Fiever e Unbrand deixarem o portfólio. Definindo-se como uma house of brands, a companhia viu uma delas se destacar neste ano como alavanca de vendas: Anacapri, também como nome de cidade italiana e criada em 2008, que cresceu a um ritmo de 23,9% em 12 meses, totalizando faturamento de R$ 120 milhões entre julho e setembro.
Foi o melhor desempenho de vendas entre as marcas próprias da companhia no terceiro trimestre, destacou, por exemplo, um relatório do banco Goldman Sachs.
Em números absolutos, o valor ainda está longe da receita trimestral das marcas Arezzo (R$ 419 milhões) e Schutz (R$ 221 milhões), mas a alta demanda motiva o grupo a reforçar o posicionamento de Anacapri como referência em calçados mais informais, como sneakers e sandálias.
Com produção em fábricas no Rio Grande do Sul e Bahia, Anacapri possui 220 franquias, diz a diretora executiva da Arezzo, Luciana Wodzik, à Bloomberg Línea. Em novembro, o grupo comandado por Alexandre Birman inaugurou uma espécie de QG da Anacapri na rua Oscar Freire, nos Jardins, onde mantém quase uma dúzia de lojas de diferentes marcas.
Denominada de Estação Ana Capri, a flagship abriga loja, showroom, áreas de desenvolvimento de produtos e de entrega para e-commerce. A Arezzo espera expansão de franquias e de vendas da Anacapri em 2024, com possibilidade de novas flagships em outras cidades. O grupo projetou, ontem, inaugurar 80 unidades em 2024 (acima das 50 em 2023), com Anacapri representando 40 novas lojas, metade do guidance para o ano que vem.
A participação do e-commerce no faturamento de Anacapri representa 18% entre o quarto trimestre de 2022 e o terceiro trimestre deste ano. A fatia é menor do que a registrada em Arezzo (21%), Schutz (25%0, Vans (23%) e AR&CO (28%), revelou o grupo, ontem, em material do Investor Day. Já o market share da marca em 2023 chega a 6,2% no segmento de calçados e bolsas, 6,8% somente em calçados e 4,1% em bolsas e acessórios.
“Anacapri teve um crescimento orgânico, em uma evolução crescente. Além do preço acessível, a marca caiu no gosto da consumidora que deseja descomplicar sua vida. Sapatilhas, botas e tênis são as categorias com maior participação nas vendas. Agora estamos entrando com a categoria de bolsas”, afirma a executiva.
A marca tem sido uma das apostas do grupo em um ano em que os juros elevados ainda pesam sobre o desempenho das ações do segmento de consumo. Os papéis da Arezzo acumulavam queda de 21,81% em 2023 até a quarta-feira (6), na contramão do Ibovespa (IBOV), que tinha ganhos de 14,48%. O Índice de Consumo (ICON) tinha alta de 1,71% no mesmo período.
A localização do QG da marca, em uma região comercial de luxo em São Paulo e próxima a uma estação de metrô, busca, segundo Wodzik, aproveitar o fluxo de potenciais consumidoras, recriando o modelo tradicional de loja de rua com o conceito Stores in Store.
Nesse esforço, a Arezzo fechou parcerias, por exemplo, com uma cafeteria (a rede paranaense The Coffee) e serviços de beleza (Esmalteria Nacional, Creamy + Skelt) e venda de semi-jóias (Piuka).
“A estação de metrô registra, em média diária, um fluxo de mais de 20 mil pessoas. Queremos aproveitar esse movimento. A consumidor para na Estação Anacapri toma seu café, olha os calçados, decide fazer a unha ou comprar um presente para uma amiga. É uma loja de experiências que vai nos trazer muitos insights sobre o varejo, além da inovação e de branding [gestão de marca] e awareness [consciência de marca]”, afirma a diretora.
O QG de Anacapri tem quatro andares distribuídos em mais de 1.600m² com a previsão de desenvolver uma agenda cultural para dinamizar o espaço multiuso. Antes, a marca ocupava um espaço bem menor na mesma rua, que foi fechado e será uma unidade da Vicenza, uma marca gaúcha adquirida em janeiro deste ano.
Marcas adquiridas
Ao considerar tanto marcas próprias como adquiridas, a Anacapri perde em ritmo de crescimento de receitas apenas para o grupo de vestuário e lifestyle da Arezzo nomeado de AR&CO, que contém sete marcas (Reserva, Reserva Mini, Reversa, Reserva Go, Oficina, Simples e Reserva Ink) e mira o público masculino. O nome AR&CO surgiu após a fusão da Arezzo com o Grupo Reserva em 2020.
“As marcas adquiridas sob a AR&CO continuaram a apresentar desempenho superior com crescimento de 25% no comparativo anual, seguidas por Anacapri (+23,9% no comparativo anual). Arezzo, marca principal mais madura do grupo, cresceu a um ritmo mais lento (+10% ano/ano), embora ainda acima da inflação, enquanto a Schutz teve um desempenho inferior (-4% face ao ano anterior)”, citou o relatório do Goldman Sachs, assinado pela equipe liderada pela analista Irma Sgarz.
O Itaú BBA também destacou a importância de Anacapri para as receitas do grupo. “O desempenho das vendas foi forte em Anacapri e AR&CO, com aumento de 24% ano/ano e 25% ano/ano, respectivamente. Em uma nota mais suave, a empresa reportou um crescimento de receita de 10% ano/ano para a marca Arezzo e uma perda de 4% ano/ano para Schutz, que foi o ponto baixo do trimestre”, destacou relatório assinado pela equipe liderada pelo analista Thiago Macruz.
Além de Anacapri, o grupo tem reforçado também o posicionamento de Schutz. Em outubro, abriu uma pop up dedicada à linha de vestuário e sneakers no Shopping Iguatemi São Paulo, que deve ficar aberta até este mês.
A marca é uma das apostas da Arezzo para o mercado internacional, com quatro lojas nos EUA, como a da Maddison Avenue e Broadway Street, no SoHo, em Nova York. Alexandre Birman e Paris Texas, adquirida em março deste ano, também são as alavancas das receitas fora do Brasil.
O grupo reúne, no total, as marcas Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Reserva, Carol Bassi, Vans, Oficina Reserva, Reserva Go, Simples, Reversa, Reserva Ink, Reserva Mini, BAW Clothing, TROC, Vicenza, Paris Texas, Alme, Brizza, além do marketplace ZZ Mal.
Fonte: Bloomberg Linea