Por Sergio Ripardo | A Americanas (AMER3) suspendeu o processo de venda dos ativos do Grupo Uni.co, a plataforma de franquias de varejo especializado que inclui ainda as redes Puket, Imaginarium, Casa MinD e a Love Brands. Segundo a decisão, comunicada na noite de ontem (3), as ofertas apresentadas pelas marcas foram consideradas abaixo das expectativas da companhia.
No último domingo (1º), Bloomberg Línea publicou que o momento desafiador do varejo brasileiro, com margens comprimidas ainda mais pelo consumo inibido pelo “combo”de inflação e juros elevados, desencoraja outros players de apresentar ofertas atraentes pelos ativos, que não apresentam diferencial não replicável que justifique propostas competitivas. A avaliação tinha sido feita por uma pessoa a par das negociações, que pediu anonimato, pois o assunto é privado.
No primeiro plano de reestruturação dentro da recuperação judicial, divulgado em março, a Americanas havia declarado que venderia ativos para reforçar o caixa e ajudar a pagar parte de suas dívidas, que somam mais de R$ 40 bilhões. O Citi tinha sido contratado para receber ofertas dos potenciais interessados pelas marcas do Grupo Uni.co e pela Natural da Terra, rede de hortifruti.
No comunicado de ontem, a Americanas esclareceu que não desistiu da venda, mas admitiu que as condições comerciais apresentadas nas ofertas não eram atrativas e que pode retomar o processo de prospecção de interessados (market sounding) em um momento oportuno.
A companhia não revelou os nomes das empresas que fizeram as ofertas. Segundo explicou a fonte, nesses processos, é comum que quase todos os players do segmento encaminhem propostas, pois há o interesse de acessar os dados sobre os ativos para reforçar suas estratégias, sem ter necessariamente o interesse de apresentar uma oferta competitiva para fechar o negócio.
A suspensão do market sounding ocorre em um momento em que a Americanas continuar a fechar um acordo com seus bancos credores, após nove meses de idas e vindas nas negociações.
As tratativas têm sido marcadas por uma série de batalhas jurídicas, troca de acusações e uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) no Congresso, que terminou na semana passada sem apontar indiciados pela fraude de R$ 20 bilhões em sua contabilidade.
Os próximos capítulos da principal crise empresarial do varejo brasileiro são a publicação do balanço de 2022, prevista para o próximo dia 30 de outubro, passo importante para convocar uma assembleia com credores para aprovar ou não o plano de reestruturação da companhia.
Com as correções das demonstrações financeiras do ano passado, após a identificação de manipulações em valores e linhas do balanço referentes à contabilização do chamado “risco sacado” (antecipação de recebíveis) e aos valores devidos aos fornecedores, a Americanas poderá ficar mais próxima de tentar começar a superar a maior crise de sua história.
Fonte: Bloomberg Linea