Por Sergio Ripardo
A primeira versão do plano de reestruturação da Americanas (AMER3), apresentado à Justiça nesta segunda-feira (20), prevê a venda de ativos como a Natural da Terra, o Grupo Uni.co (das redes Puket, Imaginarium e Love Brands), a VEM Conveniência e o jato da companhia.
O documento foi entregue à 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e indica ainda um aporte de R$ 10 bilhões a ser feito pelos principais acionistas, segundo fato relevante.
Próximo passo: o plano de reestruturação precisa ser aprovado pela maioria dos credores, em número absoluto de votantes e nos valores totais da dívida. A companhia tem 150 dias para convocar uma assembleia de credores para aprovar o plano.
A varejista entrou em processo de recuperação judicial (RJ) no último dia 19 de janeiro, após revelar um rombo de R$ 20 bilhões em sua contabilidade e declarar uma dívida total de R$ 43 bilhões.
São 9.654 credores, em diferentes classes, aguardando o desfecho do evento corporativo que agitou o pregão da B3 no primeiro trimestre. O acesso ao mercado de crédito privado ficou mais caro, com o sistema financeiro mais seletivo em emprestar recursos às varejistas.
A companhia ainda não fechou um acordo com bancos credores, que apontaram a ocorrência de fraude nas “inconsistências contábeis”, expressão usada no fato relevante que expôs o caso na noite de 11 de janeiro.
Com cerca de 1.800 lojas e 44 mil funcionários, a Americanas, fundada em 1929, tem como acionistas de referência os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, sócios da 3G Capital e fundadores da fabricante de bebidas Ambev (ABEV3).
A ação da Americanas fechou, nesta segunda-feira, em alta de 3,85%, cotada a R$ 1,08. Pela manhã, o papel chegou a alcançar a cotação máxima de R$ 1,22, com alta de 17,3%, com a expectativa do anúncio de um acordo com os bancos credores. AMER3 acumula baixa de 96% em 12 meses.
Ativos à venda
Entre os ativos que podem ser vendidos pela varejista está o Grupo Uni. co, que integra a Americanas desde 2021. É detentor das marcas Imaginarium, Puket, Casa MinD e Lovebrands. No final de 2022, o Grupo Uni. co tinha 418 lojas.
Já a VEM Conveniência foi anunciada, em fevereiro de 2022, como uma joint venture entre a Vibra (VBBR3) e Americanas, com uma rede de 1.257 lojas de conveniência com as bandeiras BR Mania e Local. No dia 23 de janeiro, a Vibra anunciou que estava desfazendo a sociedade com a varejista.
Em agosto de 2021, a Americanas comunicou a aquisição de 100% da HNT (Hortifruti Natural da Terra), dona de 73 lojas em quatro estados, por R$ 2,1 bilhões, um negócio concluído em novembro daquele ano. Após a RJ, a companhia chegou a negar, em comunicado, a intenção de vender a rede especializada em produtos frescos com foco em frutas, legumes e verduras.
O Carrefour Brasil (CRFB3) poderia ter interesse na HNT. No mês passado, o então CFO da filial do grupo francês de hipermercados, David Murciano, considerou a rede de hortifrúti como “um ativo naturalmente no mesmo perímetro” do Carrefour, mas descartou fazer alguma oferta.
Além desses negócios, a Americanas possui um ecossistema de comércio eletrônico, afetando variadas cadeias de fornecedores e diversos segmentos do consumo, formado por Submarino, Shoptime, Ame, Skoob, Supermercados Now, Shipp, Bit Capital, Nexoos, Ads e Banco Parati (financeira), segundo o balanço do 3º trimestre de 2022.
Já o RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro) aponta que a Americanas operava um jato bimotor Phenom 300 (modelo EMB-505), fabricado pela Embraer (EMBR3) em 2014. Com capacidade máxima para nove passageiros, a aeronave está com o CVA (Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade) suspenso devido ao vencimento no último dia 14 de março. Um Embraer Phenom 300, de 2014, é cotado em US$ 8,4 milhões no site de venda de aviões usados Controller.com
Para analistas, o Magazine Luiza (MGLU3), o Mercado Livre (MELI34) e a Via (VIIA3) podem ser os principais players beneficiados com a RJ da Americanas, mas avaliaram também que o cenário macroeconômico, marcado pela inflação e juros elevados, além das incertezas sobre a política fiscal do novo governo, pode limitar esses ganhos, já que o varejo em geral sofre com o menor poder de compra do consumidor e o maior endividamento das empresas.
Fonte: Bloomberg Linea