Por Fernanda Guimarães e Ana Beatriz Bartolo | A Americanas deu um passo que poderá dar fim a um dos maiores litígios judiciais da história corporativa brasileira. Após semanas intensas de negociações, três meses após a eclosão da crise da varejista, a companhia informou na noite desta terça-feira que chegou a um acordo com “alguns credores financeiros” para suspender temporariamente as disputas judiciais em curso. Assim, segundo afirmou a varejista, as partes poderão focar seus esforços na negociação de um plano de recuperação judicial aceitável para a maior parte dos credores e que viabilize o futuro operacional da Americanas.
Trata-se, na prática, de uma exigência que a Americanas tinha colocado aos credores, de que um acordo, incluindo uma capitalização que poderá chegar a R$ 12 bilhões por parte de seu trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, teria como contrapartida o fim de ações na Justiça. O embate judicial que ocorria desde janeiro vinha, inclusive, buscando a responsabilização pelo rombo de R$ 20 bilhões no balanço da empresa, exatamente porque as instituições dão como certo se tratar de uma fraude. Dentre essas ações, algumas já estavam direcionadas ao patrimônio pessoal dos acionistas e administradores, incluindo membros do conselho de administração.
O acordo de cessar-fogo com os credores, na prática, começou a ser negociado há semanas, sendo que o primeiro a assinar foi o BTG Pactual, que protocolou em meados de março a suspensão por 30 dias de uma ação que tramitava na Justiça, abrindo espaço, dessa forma, a um acordo. Depois disso, a Americanas seguiu negociando com os demais credores. Ao longo das últimas semanas vinha trabalhando para que os demais bancos assinassem um acordo semelhante, para suspender ações judiciais e dar continuidade às negociações, explicaram fontes que acompanham o assunto.
Os detalhes e condições do acordo final entre a varejista e credores ainda estão sendo negociados, disseram fontes. Uma minuta do acordo deverá começar a ser esboçada nos próximos dias, apurou o Valor, mas ainda deverá demorar “algumas semanas” para seu desenho definitivo.
Os bancos começaram a enxergar chance de acordo com a Americanas após a varejista elevar o valor da proposta de capitalização para R$ 12 bilhões, sendo R$ 10 bilhões de imediato, considerando o R$ 1 bilhão que já entrou no caixa da empresa em fevereiro, por meio do empréstimo pelo modelo DIP (“debtor in possession”). Já os R$ 2 bilhões adicionais podem ser injetados em duas tranches em “datas futuras a serem acordadas, acima de determinados limites máximos de alavancagem ou abaixo de um nível mínimo de liquidez”. Ou seja: só se for necessário.
Se um acordo for fechado, a Americanas terá que atualizar seu plano de recuperação judicial, no qual ainda consta a proposta anterior. O plano ainda considera a entrada de R$ 2 bilhões via venda de ativos, sendo o principal o Hortifruti Natural da Terra.
Desde o início do escândalo contábil, a capitalização é apontada pelas instituições financeiras como o ponto inicial para o início das negociações. Fora o aumento de capital em si, foram propostas há cerca de três semanas a conversão de R$ 18 bilhões das dívidas dos bancos em ações e em dívidas subordinadas e a recompra de R$ 12 bilhões da dívida em valor de face, com um desconto. Já é dado como certo, assim, que ao final do processo os bancos serão acionistas relevantes da companhia.
Ainda no fato relevante desta terça-feira, a Americanas informou que seus acionistas Bonsucex Holding e Silvio Tini de Araújo indicaram Luiz Nelson Porto de Araújo, como membro efetivo, e Célio de Melo Almada Neto, como membro suplente, para concorrerem à eleição do conselho fiscal da companhia. A eleição dos membros para esse conselho está programada para acontecer na assembleia geral ordinária da Americanas, marcada para 29 de abril.
Fonte: Valor Econômico