Com ações depreciadas, contas no vermelho e sob pressão intensa de investidores, a varejista on-line Netshoes iniciou as negociações para uma possível venda. Há cerca de um mês, a companhia contratou o banco de investimento Goldman Sachs para achar um sócio ou comprador. O Valor apurou que ao menos quatro grupos demonstraram interesse no ativo.
As varejistas Lojas Americanas, Mercado Livre e Centauro e a gestora de private equity Advent já tiveram reunião com o fundador e presidente da Netshoes, Marcio Kumruian, e com o banco. Foram conversas preliminares e sem qualquer vinculação com proposta firme, até o momento. O Goldman Sachs tem procurado outros potenciais interessados.
O Valor apurou que Kumruian tem resistência a vender sua participação, que hoje é minoritária, e a sair da empresa. No entanto, tenta ser o coordenador do que pode ser o futuro da empresa, para não ficar refém de fundos americanos que estão insatisfeitos com sua administração e podem tirá-lo do negócio a qualquer tempo. O maior acionista é a gestora Tiger Global Management, com 28,6%. Kumruian tem 12,2%.
No prospecto da oferta, não constava qualquer acordo de acionista entre ele e os fundos que garanta a manutenção de Kurmaian na gestão ou algum poder diferenciado de voto. O que consta no documento é uma relação entre o futuro sucesso da companhia e a experiência e visão do fundador.
No cenário ideal de Kumruian, segundo duas fontes, um fundo colocaria dinheiro no caixa da empresa e o ajudaria a recomprar as ações para fechar capital – mantendo o comando inalterado. Mas Lojas Americanas, Advent e Mercado Livre deixaram claro na conversa inicial que só seguem adiante com uma negociação para o controle ou totalidade da Netshoes. “Ele quer apenas um sócio, mas isso não vai acontecer”, diz uma fonte. Por isso mesmo, ninguém antevê resoluções rápidas.
A Lojas Americanas é controladora da empresa de comércio eletrônico B2W, que seria seu canal de sinergia para essa transação. Conforme as fontes, a condução do assunto é feita pelo acionista controlador. Já a Centauro, que tem entre seus acionistas a gestora de private equity GP Investments, chegou a discutir uma fusão com a Netshoes há dois anos. A Centauro tentou um IPO este ano, mas teve que adiar. A empresa passou por uma reestruturação recente e, neste caso, uma possível transação seria de fusão e não aquisição.
Desde o início do ano, as ações da empresa desvalorizaram 73%. A Netshoes tenta garantir um prêmio de “ao menos” 100% sobre a cotação atual. Isso representaria US$ 136 milhões. Ainda assim, o montante é bem abaixo do valor de mercado com que a companhia estreou na bolsa de Nova York em abril do ano passado, quando foi avaliada em US$ 559 milhões. Em maio de 2017, a ação chegou a bater a máxima de US$ 26,73, mas recuou para os atuais US$ 2,39.
No primeiro semestre, a varejista teve prejuízo de R$ 98,4 milhões. No mesmo período de 2017, também havia registrado perda, de R$ 72,9 milhões. Nesse comparativo anual, as vendas caíram 1%.
Desde janeiro, oito escritórios de advocacia americanos anunciaram investigações e abertura de processos contra a Netshoes devido ao desempenho. Os advogados falam em possíveis irregularidades da empresa ao prestar informações para atrair investidores no IPO. O escritório Robbins Arroyo diz que a Netshoes dizia ter fidelidade de clientes e não ter um competidor direto relevante no segmento. “Ao contrário dessas declarações, a Netshoes enfrenta intensa competição em esportes, moda e beleza no mercado de e-commerce, o que ameaçou sua participação de mercado e lucratividade”, diz o documento do Robbins Arroyo destinado a investidores com ações da empresa.
Em agosto, a empresa anunciou a venda da operação no México para a gestora Sierra Capital. Também tem operação na Argentina, mas o Brasil é seu principal mercado. Procuradas, as empresas e gestoras não comentaram. Após a publicação das negociações no Valor PRO na sexta-feira, as ações da Netshoes subiram 9,6% na Nyse.
Fonte: Valor Econômico