Diante da crise das duas principais redes de livrarias do país, Cultura e Saraiva – que juntas devem cerca de R$ 280 milhões às editoras -, a Amazon enviou carta para as editoras de livros propondo antecipação de pagamento. Atualmente, a varejista americana paga entre 60 e 90 dias. “Podemos realizar pagamento antecipado de seus recebíveis com a Amazon em taxas mais baixas do que as de mercado”, informa a carta, à qual o Valor teve acesso.
A Amazon pede ainda às editoras que não cancelem ou adiem seus lançamentos sem antes procurar a varejista, que se oferece para publicar os títulos em formato de eBook e até considera imprimir as obras.
A crise das duas maiores redes de livrarias do país, que sofrem com escassez de produtos, abre uma avenida de oportunidade para a Amazon que, atualmente, detém cerca de 10% do varejo de livros brasileiro. Saraiva e Cultura representavam cerca de 40% da receita de várias editoras. As vendas on-line nessas duas redes equivalem a cerca de 30% da receita e a tendência natural é que essas transações migrem para a Amazon.
O comunicado da Amazon ainda cita a possibilidade de comprar livros físicos ou um pacote de livros de fundo de catálogo para conversão para eBook, aquisição de obras devolvidas, oferta de um percentual das vendas realizadas no site para as editoras, além de melhores condições para títulos do catálogo do Kindle, leitor digital da varejista americana.
Procurada pela reportagem, a Amazon afirmou, em comunicado, que “continua empenhada em usar a criatividade para apoiar nossos parceiros da indústria do livro no Brasil, assim como para promover a leitura e ajudar leitores brasileiros a descobrir novos livros e novos autores.”
Ontem, o fundador da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, publicou uma carta aberta no blog da editora, afirmando que o efeito cascata dessa crise é ainda incalculável, mas já assustador. “Muitas cidades brasileiras ficarão sem livrarias e as editoras terão dificuldades de escoar seus livros e de fazer frente a um significativo prejuízo acumulado”, escreveu. E fez um apelo: “sem querer julgar publicamente erros de terceiros, mas disposto a uma honesta autocrítica da categoria em geral, escrevo mais esta carta aberta para pedir que todos nós, editores, livreiros e autores, procuremos soluções criativas e idealistas neste momento.”
No post, intitulado “Carta de amor aos livros”, Schwarcz afirma ainda que “as editoras já vêm diminuindo o número de livros lançados, deixando autores de venda mais lenta fora de seus planos imediatos, demitindo funcionários em todas as áreas. Com a recuperação judicial da Cultura e da Saraiva, dezenas de lojas foram fechadas, centenas de livreiros foram despedidos, e as editoras ficaram sem 40% ou mais dos seus recebimentos- gerando um rombo que oferece riscos graves para o mercado editorial no Brasil. Na Companhia das Letras sentimos tudo isto na pele, já que as maiores editoras são, naturalmente, as grandes credoras das livrarias, e, nesse sentido, foram muito prejudicadas financeiramente. Mas temos como superar a crise: os sócios dessas editoras têm capacidade financeira pessoal de investir em suas empresas, e muitos de nós não só queremos salvar nossos empreendimentos como somos também idealistas e, mais que tudo, guardamos profundo senso de proteção para com nossos autores e leitores.”
De acordo com fontes do setor, diante do atual cenário e dos riscos que a escassez de livros pode provocar em empresas em fase de recuperação judicial, a Companhia das Letras fechou um acordo com a Livraria Cultura para fornecer uma pequena quantidade de livros, cerca de 10% do volume enviado antes dos problemas de inadimplência. Metade das obras será paga à vista e os outros 50% serão consignados.
Fonte: Valor Econômico