Por Adriana Mattos
Uma das principais marcas de moda on-line no país, a Amaro enfrenta dificuldades financeiras e sondou interessados no negócio, para a venda de participação e capitalização na companhia, conforme antecipou nesta quarta-feira o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Procurada, a companhia confirmou que está em processo de renegociação de seus passivos e avança “em negociações com potenciais investidores para reforçar sua base de capital”. A empresa de consultoria Alvarez & Marsal foi contratada para esse trabalho de reestruturação, afirma o grupo.
Com 20 lojas no país, a companhia tem grande parte de seu faturamento oriundo da venda digital — consultores do setor estimam vendas brutas entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões ao ano. A Amaro foi fundada em 2012 pelos sócios Dominique Oliver, Lodovico Brioschi e Roberto Thiele.
Segundo duas fontes a par do tema, o Mercado Livre foi procurado por representantes da Amaro para um eventual acordo, que precisa passar por um aporte de recursos, mas as chances, neste caso, são remotas. O Mercado Livre se aproximou dos sócios da Amaro recentemente, por conta do fechamento de uma parceria no ano passado, na venda de produtos da marca em sua plataforma.
De acordo com informações que circulam no mercado, Soma e Arezzo foram sondados inicialmente, mas não há negociação em andamento. Procuradas, as empresas não comentaram. O Mercado Livre não se manifestou. Segundo uma fonte, a Amaro já tem buscado novos caminhos para o negócio há algum tempo, mas a deterioração do mercado acelerou o processo.
A intenção é reequilibrar a sua estrutura de capital após crescimento da sua alavancagem com o aumento na pressão de dívidas de curto prazo, afetadas pela alta na taxa Selic. A questão é que, a “seca” do mercado de crédito, especialmente, para as empresas deste setor, vem tornando mais cara e escassas linhas para renegociação de passivos, assim como novas linhas de financiamento. E isso se acentuou com a crise na Americanas.
“Há o efeito do escândalo contábil na Americanas, que reduziu apetite para negócios com maior risco, como as operações digitais. E há também a Selic alta, que encareceu as linhas. Mesmo que as empresas consigam negociar volumes maiores, há financiamentos cobrando 20%, 22% ao ano”, diz uma fonte a par do assunto.
Ainda há outro fator, de proteção das empresas a seu caixa neste momento, e de encarecimento das dívidas financeiras após a alta na Selic — e isso afeta potenciais compradores que poderiam ter caixa para uma negociação.
Fornecedores e parceiros da empresa já vêm executando débitos em aberto na Justiça e, nos processos, advogados da companhia mencionam o cenário econômico.
Em três semanas, entre fim de janeiro e início de fevereiro, entraram na Justiça paulista (TJSP) dois pedidos de falência por parte de fornecedores, sendo um deles com valor pago e ação arquivada, segundo informações atualizadas ontem no site do TJSP.
No fim de 2022, o Shopping Vila Olímpia, do grupo Multiplan, entrou com pedido de despejo por falta de pagamento de aluguel de uma loja da Amaro (valor da ação , cerca de R$ 332 mil). Foi fechado acordo entre as parte no fim do ano passado. Procurada, a Multiplan não se manifestou.
Ainda há quatro execuções de títulos extrajudiciais no Tribunal de Justiça de São Paulo neste ano.
Há três anos, a Amaro era uma das “queridinhas” do setor de moda digital no país, e esteve na lista de negócios com maior potencial de crescimento nas reuniões entre investidores e empresas abertas de moda. Em termos de modelo de negócio, era citada como um dos ativos mais interessantes entre grupos consolidadores.
A empresa aumentou investimentos nos últimos anos, e passou a avançar mais em novos segmentos, como beleza e casa, num período de forte onda de consumo digital, depois da pandemia. Porém, desde o ano passado o comércio eletrônico encolheu no país, e de forma abrupta.
No varejo, casos de empresas em dificuldades vêm crescendo nos últimos meses, assim como aumentaram as renegociações de dívidas extrajudiciais, dizem advogados da área. Nas últimas semanas, a Tok&Stok abriu conversas com credores, assim como a Marisa contratou assessores para renegociar dívidas de pouco mais de R$ 200 milhões.
Empresas de outros setores, mesmo mais resilientes, como indústria de alimentos e frigoríficos, têm relatado problemas financeiros e discutido recuperações extrajudiciais, dizem advogados.
Na nota enviada ao Valor, a Amaro confirma, além do processo de reestruturação de seus passivos, as negociações com investidores, e reforça que mantem seu posicionamento como ecossistema de “lifestyle” no mercado premium, focado em moda, beleza e casa.
Fonte: Valor Econômico