O empresário Jaimes Almeida Junior, dono da maior empresa de shoppings de Santa Catarina, a Almeida Junior, com patrimônio de R$ 1,5 bilhão, adiou pela segunda vez em cerca de dois anos, a oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês) da companhia. Cogita retomar esse plano só a partir de março de 2021 – a minuta do prospecto preliminar de sua oferta havia sido protocolada em fevereiro, antes da pandemia. A ideia agora é acelerar a estratégia digital, por meio de seu “marketplace”, antes de ir à bolsa. “Aí voltaríamos em outras condições, e possivelmente num valor [da empresa] maior”, diz Jaimes.
Dono de seis shoppings em Santa Catarina, Jaimes tem a segunda maior operação do setor no Sul do país, perdendo apenas para o grupo gaúcho Zaffari, que tem 13 empreendimentos. Nascido na capital catarinense, Jaimes fundou a Almeida Junior em 1980 e abriu seu primeiro shopping, o Neumarkt Blumenau, em 1993, quando tinha 36 anos, após ter feito carreira no setor imobiliário.
“[O Estado] de Santa Catarina é predominantemente europeu, com cultura alemã, italiana, com nível cultural mais alto, o que nos atraiu bastante”, disse. “Nós entendemos que o Brasil vai da Europa à Etiópia e nós decidimos ficar na Europa. E aqui não tem concorrência, não é como São Paulo que você tem o Iguatemi, o Eldorado, o Morumbi [Shopping]. E o Estado sofreu menos. Somos um Estado exportador, tem o dólar subindo, então é uma situação diferente”.
Dados do IBGE mostram que a taxa de desemprego no país no segundo trimestre de 2020 ficou em 13,3%. Em Santa Catarina essa taxa é de 6,9%. A renda média, nos 12 meses até o segundo trimestre, subiu 6,5% em Santa Catarina, mas no país, a alta foi maior, de 7,2%.
Essa expectativa positiva de Jaimes explica, em parte, a decisão de antecipar o projeto digital no grupo. A empresa suspendeu o IPO e ao mesmo tempo decidiu adiantar de 2021 para este ano o lançamento de seu “marketplace”, com investimento de R$ 100 milhões. No plano de abertura de capital na bolsa da Almeida Junior, o braço digital era irrelevante, o que poderia acabar pesando na definição do valor da empresa. Apesar de ter desde 2016 um laboratório de inovação interno, o AJ. Labs, a empresa já sinalizava em seu prospecto preliminar do IPO que precisava avançar mais nessa área.
“Entendemos que o Brasil vai da Europa à Etiópia e nós decidimos ficar na Europa”, diz Jaimes, dono de seis shoppings em SC
O empresário havia definido que a maior fatia dos recursos do IPO deveria ir para ele – a emissão secundária (voltada para os sócios, e Jaimes tem 100% das ações), seria de R$ 1,1 bilhão. A oferta total atingiria R$ 1,5 bilhão. O restante (R$ 400 milhões) iria para a empresa. Parte dos recursos da oferta primária (para o caixa do grupo), seria destinada para pagamentos de dividendos extraordinários de 2019 ao sócio, no caso, o próprio Jaimes, informa o prospecto, além de expansões e reforço na esttrutura de capital.
Sobre essa questão dos recursos, Jaimes diz que a empresa já tem um caixa mais robusto hoje, superior ao do fim de 2019 – sem mencionar valores – e que isso está sustentando o plano digital. Eram cerca de R$ 60 milhoes entre caixa e aplicações financeiras ao fim de 2019 e dívida bruta de R$ 1,1 bilhão. No ano passado, a receita líquida subiu 7,6%, para pouco mais de R$ 180 milhões – o mercado cresceu perto disso, 7,9%, segundo a Abrasce, associação do setor.
O resultado operacional líquido (NOI, da sigla em inglês) foi de R$ 176,5 milhões, alta de 8%.
Em 2020, o mercado de shoppings perdeu vigor, como reflexo da retração econômica, mas o empresário diz que a Almeida Junior desacelerou menos porque os seus empreendimentos retomaram as atividades antes do resto do país, no fim de abril. Ele projeta que a companhia chegará em 2020 com 90% das vendas de 2019, e espera um 2021 com crescimento em “V”.
Sobre o lançamento do “marketplace”, ele foi montado de forma a atender os lojistas dos seis shoppings (são cerca de 1,7 mil na base do grupo), que podem ter suas lojas numa única plataforma. Batizada de AJ Place, esse braço digital nasce como uma controlada da empresa de shoppings, e registrada como AJ Comércio Digital. Os contratos dos lojistas são com a AJ.
Para eles, começaram a ser oferecidos serviços, como entrega de produtos na casa do cliente, logística de mercadorias entre as lojas, serviço de amazenagem do item vendido em um “hub” dentro do shoppings, onde o cliente faz a retirada. No mercado, cobra-se uma taxa por isso, normalmente de 10% a 20% do valor da venda. O grupo não informa o número. “Seremos competitivos nessa taxa e nós temos gerentes de cada shopping podendo atender diretamente o lojista do AJ Place. Outros ‘marketplaces’ não têm isso”, diz.
O shopping virtual da empresa concorre com plataformas de grupos como as do Mercado Livre e da B2W. São cerca de 300 lojistas na AJ Place hoje e 50 mil itens à venda – chegará a 90 mil nas próximas semanas. Do total de R$ 100 milhões a serem investidos no projeto, R$ 20 milhões foram desembolsados até agora.
A respeito de negociações de venda da empresa, Jaimes descarta isso agora. Em 2019, houve conversas com a BR Malls, como confirmaram as empresas. Antes disso, em 2011, o fundador chegou até a vender 50% do negócio por US$ 450 milhões para os australianos da Westfield, mas recomprou a fatia só dois anos depois por causa de desentendimentos em relação à estratégia. “Eles decidiram sair de shoppings pequenos, só que eu não queria sair de nada. Não teve briga”, disse.
Fonte: Valor Econômico