Primeiro grande shopping da zona oeste de São Paulo, o West Plaza concentrou durante 25 anos as suas operações de alimentação na praça do terceiro piso. No último ano, entretanto, a configuração mudou: os espaços para lojas no térreo foram desaparecendo para dar lugar a restaurantes, numa tendência que está animando os empreendedores do ramo.
No Brasil, em média, 6,9% da área disponível para locação em shoppings está ocupada com operações de alimentação, de acordo com a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce). Com o crescimento do que está sendo chamado de “restaurantes âncoras”, esse número vem aumentando. Em alguns centros, como o Parque Dom Pedro, em Campinas, já passou de 10%. “O mercado percebeu que eles têm um papel forte no fluxo, atração e fidelização de clientes”, comentou Guilherme Marini, superintendente do empreendimento, que investiu R$ 20 milhões para a construção de uma área gourmet onde antes havia grandes lojas.
Em um cenário de crise, a estratégia dos centros comerciais aparece como solução para combater crescentes índices de vacância. Em 2011, os espaços vazios representavam apenas 1,90% da área, de acordo com a Abrasce. No fim de 2015, esse número alcançou 3,97%, segundo maior dos últimos 11 anos.
Segundo Michel Cutait, consultor especializado no setor, a medida vem trazendo incremento na rentabilidade e na valorização dos espaços novos ou desocupados. “Praticamente todos os empreendedores têm apostado nisso, tanto nas reformas e expansões quanto na reposição de lojas”, destacou.
Para Luís Augusto Ildefonso, diretor da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), a aposta dos investidores acontece devido à resistência do segmento à falta de dinheiro no bolso. “É uma necessidade, todo mundo acha um jeito de usar o serviço”, disse. De acordo com estimativa da instituição, 15% do total de lojas hoje são de alimentação.
No West Plaza, foram oito grandes restaurantes abertos nos últimos dois anos, como Outback e Johnny Rockets. O resultado foi um “quebra-cabeça” para tirar lojas ou realocá-las em outros espaços. “Não tivemos expansão, então precisamos fazer essas mudanças junto aos lojistas”, destacou a superintendente Bettina Quinteiro. No grupo Iguatemi, com participação em 17 shoppings, o destaque é o Market Place. “Os restaurantes estão distribuídos, não estão só na praça. Com isso, nosso crescimento é três vezes maior que outros shoppings do grupo”, revelou o gerente Gunther Schrappe.
A atração das marcas que exigem um grande espaço físico se explica nos cálculos, destacou Salim Maroun, presidente do grupo Bloomin’Brands, detentor das marcas Outback e Abraccio no Brasil. “É uma equação inteligente. Se numa praça de alimentação, uma cadeira gera compras de 18 a 25 reais, nos espaços gourmet essa mesma cadeira vai gerar de 3 a 4 vezes mais”, comentou.
Mesmo em franquias – modalidade de negócio que hoje representa 34,5% das operações gerais dos shoppings, de acordo com a Abrasce -, as oportunidades estão na mesa. “Entramos hoje sem pagar luvas e com aluguel bastante reduzido. Estamos em outro patamar de negociação”, disse Rubens Augusto, presidente da Patroni Pizza, que concentra 95% das suas 210 lojas nos empreendimentos.
Interesse de shoppings ajuda redes de alimentação a prosperarem
Para atrair os empreendedores, os shoppings estão beneficiando os negócios de alimentação. Dois anos atrás, por exemplo, a rede de restaurantes Madero não chegava a receber propostas tentadoras para se instalar nos shoppings de São Paulo. Hoje, a empresa paranaense tem ofertas como isenção nos aluguéis, localização nobre dentro dos centros e até o pagamento total – cerca de R$ 4 milhões – para a construção da loja.
Com os benefícios, a expansão está toda focada nos empreendimentos. “Para a gente, que não tem sobra no caixa, ter um empréstimo só com correção monetária ou ter a construção da loja toda paga é uma grande vantagem”, afirmou Junior Durski, diretor da rede que, só em dezembro, abre lojas em São Paulo, Salvador e Brasília.
Assim como o Madero, a hamburgueria The Fifties é considerada uma “âncora”, localizada sempre fora das praças. “Há uma facilidade, em questões de alvarás e segurança. E, hoje, somos sempre convidados a estar lá”, falou Ellen Beraldo, gerente de marketing da rede, que hoje tem só 4 das 24 unidades como lojas de rua.
De acordo com os empresários ouvidos pela reportagem, nos shoppings inaugurados mais recentemente, a caça pelos restaurantes é ainda maior. A procura se justifica pelo dado de que, nesses locais abertos a partir de 2012, a taxa de vacância pode chegar a 45%, de acordo com levantamento do Ibope Inteligência e da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).
No caso do Cantareira Norte Shopping, inaugurado em 2016, a vacância está em 10% – mas na alimentação não passa de 4%. “São operações que agora são o destino do consumidor”, resumiu o superintendente Geraldo Carvalho.
O investimento em alimentação, então, acaba sendo um forma de ter “segurança” na sustentabilidade do empreendimento. Os shoppings mais recentes já nasecem com essa filosofia, também pautados num novo perfil do consumidor, que preferere ter vários serviços em um só lugar. Inaugurado em 2015, o Parque Shopping Maia, destinado às classes A e B em Guarulhos, já foi inaugurado com um espaço gourmet, com restaurantes como: Outback Steakhouse e Bar do Alemão. “Os restaurantes são hoje um grande chamariz para os shoppings”, destacou Alexandre Dias, diretor-presidente da General Shopping Brasil, grupo responsável pela gestão do empreendimento.