As ações do Alibaba subiram ontem, depois que a companhia anunciou um crescimento de 61% das receitas no trimestre encerrado em junho. Os lucros, no entanto, não conseguiram manter o ritmo de crescimento, reduzindo as margens.
A empresa chinesa de comércio eletrônico anunciou que vai, juntamente com o Softbank, o grupo japonês de investimentos em tecnologia, injetar US$ 3 bilhões em suas operações de entrega de alimentos, que estão envolvidas numa batalha com a Meituan Dianping, apoiada pela Tencent. O Softbank é um grande acionista do Alibaba e um parceiro regular em investimentos.
Com a iniciativa, o Alibaba vai combinar seu aplicativo de entrega de alimentos, o Ele.me, e a Koubei, sua empresa de serviços locais, em uma nova holding.
Joe Tsai, vice-presidente do conselho, disse que o mercado de entrega de alimentos e outros serviços locais “representam uma oportunidade de US$ 1 trilhão”. Ele acrescentou que o investimento do Alibaba e do Softbank “é apenas o primeiro passo… mais dinheiro virá de outros investidores independentes”.
O lucro líquido da Alibaba caiu 45% para 7,65 bilhões de yuans. O resultado foi afetado por um custo extraordinário de 11,5 bilhões de yuans com opções de ações, desencadeado pela revalorização de sua subsidiária de serviços financeiros Ant Financial. Sem isso, o lucro líquido atribuível aos acionistas teria crescido 33%, segundo a companhia.
O Alibaba também ficou aquém das expectativas dos analistas em relação ao lucro líquido ajustado e ao lucro ajustado por ação. O aumento dos custos dos investimentos e subsídios para a conquista de participação de mercado afetou as margens operacionais, que caíram de 35% no segundo trimestre de 2017 para 10% no mesmo período deste ano.
As receitas, de 80,9 bilhões de yuans, foram incrementadas pela consolidação de unidades como a plataforma de logística Cainiao. Sem essas unidades, o aumento teria sido de 49%.
Ontem, a ação da Alibaba encerrou o pregão, em Nova York, com valor de US$ 172,23, uma queda de mais de 3%. Os papéis continuam abaixo do pico de US$ 210,86, alcançado em junho.
Steven Zhu, analista sênior da Pacific Epoch, de pesquisa em investimento, disse que a qualidade das receitas e dos lucros está sofrendo uma deterioração, com mais investimentos indo para negócios que consomem caixa, como a entrega de alimentos, ou que apresentam margens de lucro menores. Ele observou que houve uma desaceleração no aumento das receitas com publicidade para 26%, em comparação com o crescimento de 340% em outras áreas, como as vendas físicas no varejo e o aplicativo Ele.me.
A nova investida do Alibaba no varejo, marcada pela compra de lojas físicas e a aposta em formatos como a rede Hema de produtos alimentícios frescos, além de operações em negócios altamente competitivos e de baixas margens, está mudando seu perfil de investimentos, conforme admite a administração.
“Muitos de nossos negócios recém-adquiridos e recém-desenvolvidos possuem estruturas de custos diferentes, e por isso acreditamos que nossa margem continuará sendo afetada negativamente por esses negócios e o tratamento contábil da receita registrada numa base de valores brutos”, alertou a empresa.
Karen Chan, analista da empresa de serviços financeiros Jefferies, disse acreditar que os investimentos em aquisição de usuários serão contrabalançados pela alavancagem operacional, mas os investimentos em novas iniciativas, como a entrega de alimentos e a consolidação da Koubei, poderão afetar o crescimento do lucro no curto prazo.
As principais operações comerciais do Alibaba, a locomotiva financeira do grupo, aumentaram as receitas em 61% no segundo trimestre, para 69,2 bilhões de yuans. As operações na “nuvem” – uma parte cada vez mais importante do ecossistema do Alibaba, embora ainda não tenha alcançado o ponto de equilíbrio – quase dobraram as receitas. Entretanto, os prejuízos aumentaram bastante na “nuvem” e na área de entretenimento digital; nesta última, as perdas quase dobraram, para 3,13 bilhões de yuans, no âmbito dos resultados ajustados antes dos juros, impostos e amortização.
A Ant, que sofreu uma queda de 54% nos lucros do trimestre, para 910 milhões de yuans, está avaliada, agora, em US$ 150 bilhões, depois da mais recente rodada da captação de recursos, em junho. O custo da conquista de participação de mercado, acrescido das restrições reguladoras, levaram o grupo a colocar em compasso de espera os planos de uma oferta pública inicial de ações.
Assim como ocorrem com a Tencent, o custo das receitas do Alibaba aumentou bastante – de 35% para 54% das receitas -, refletindo o custo crescente da aquisição de usuários e os custos mais altos de vídeo, que no segundo trimestre incluíram a Copa do Mundo de Futebol.
Fonte: Valor Econômico