Diretora de relações com investidores explica as estratégicas para passar pela crise da covid-19 sem sufoco, os planos de expansão e como a empresa, que administra shoppings, enfrenta a concorrência do varejo físico e agora também as vendas on-line
O ano de 2020 foi desafiador para todos os tipos negócios, mas aqueles que necessariamente envolvem muitas pessoas reunidas em um só lugar enfrentaram ainda mais obstáculos. Foi o caso dos shoppings. Imagine ser responsável pela administração de dezenas desses centros de compras e, praticamente do dia para a noite, precisar fechar as portas como medida de contenção de uma pandemia. Foi o que a Aliansce Sonae (ALSO3) precisou fazer — e a dificuldade do momento se traduz na queda de 40% das ações no ano até agora.
“Logo no começo da pandemia nós nos estruturamos internamente e montamos um comitê de crise que contemplava a liderança da empresa e várias pessoas da operação da empresa para fazer um brainstorm [reunião de ideias] de tudo o que estava acontecendo a cada dia. Os momentos de decisões se tornaram muito rápidos, diários”, conta Guanabara.
Em tempos de e-commerce em alta, a executiva explica que a carta na manga da empresa para driblar concorrentes — on-line e offline — é tornar cada um de seus shoppings em mais do que centros de compras, oferecendo ampla diversidade de serviços e entretenimento exclusivos. Segundo a executiva, esse é um dos pilares da Aliansce Sonae para fazer com que o negócio seja lucrativo nos próximos anos e entregar retorno aos investidores.
“Uma parte muito forte da estratégia da Aliansce Sonae é focar cada vez mais em shoppings dominantes. Uma característica muito forte do nosso portfólio é ter shopping extremamente relevante para aquela região onde ele atua. Nós chamamos o shopping de um ‘life center’, porque é onde o consumidor vai para resolver todos os problemas da vida dele. Ele não vai só para comprar”, explica Guanabara. A ideia da Aliansce, segundo a executiva, é fazer com que os consumidores se sintam em casa.
Mas com a pandemia, os planos de expansão de aquisição de novas unidades previstos para esse ano foram adiados temporariamente.
“Temos vários shoppings dominantes que têm uma taxa de ocupação super alta que acreditamos que são oportunidades de expansão do nosso portfólio. Muito provavelmente no começo do ano que vem, se a recuperação se estabilizar e não tivermos novos casos de fechamento por conta da pandemia, com mais visibilidade, vamos voltar a falar sobre oportunidade de expansão”, conta a executiva.
Que empresa é essa? Dinheiro que entra e sai
A companhia tornou-se a maior operadora de shoppings do Brasil após a fusão da Aliansce Shopping Center e da Sonae Sierra Brasil em julho de 2019. “O nosso negócio é de locação de espaços. Nós temos os shoppings e a gente loca para os lojistas. Uma das fontes de receita é o aluguel, tanto de lojas quanto de quiosques. Também temos administração de shoppings de terceiros – esse é um diferencial da Aliansce”, conta Guanabara.
O time de integração revisou os ganhos operacionais com a fusão, chamados de sinergias, inicialmente estimados entre R$ 55 milhões a R$ 60 milhões para R$ 70 milhões a R$ 80 milhões nos próximos três anos. Na prática, com as companhias unidas, há economia na atividade operacional e ganhos operacionais.
Hoje a empresa tem 39 shoppings, sendo 27 próprios e mais 12 de propriedade de terceiros e administrados pela companhia. A Aliansce também contabiliza receita pelos valores cobrados pelos estacionamentos dos shoppings.
Do lado dos gastos da empresa, a maior parte é com funcionários e serviços, como emissões de boletos.
Aumentando o cofrinho
Em dezembro de 2019, a companhia realizou uma oferta subsequente (follow-on) de 20,5 milhões de ações ordinárias em dezembro. Com o movimento, a empresa passou a ter 265.772.778 ações circulando na bolsa e a oferta rendeu R$ 1,2 bilhão aos cofres da companhia.
A executiva explica que os objetivos com o movimento foram dar continuidade à consolidação do mercado de shoppings, expandir as operações das unidades já existentes e adiantar o pagamento de dívidas que tinham o custo elevado.
“Reduzimos o custo de juros que temos com nossas dívidas e isso, independente da pandemia, está trazendo uma economia importante para os nossos resultados em comparação com 2019”, diz Guanabara. “Chegamos na pandemia com um balanço bem equilibrado”, acrescenta.
O que mais foi abordado?
- Como tornar os shoppings já existentes cada vez mais rentáveis
- Estratégias para enfrentar a concorrência e aproveitar o crescimento nas vendas on-line no país
- Principais riscos do negócio hoje
- Vá além do lucro líquido: o que o investidor deve olhar com atenção nos balanços da Aliansce para entender se o negócio está prosperando
- Critérios ESG (sigla em inglês para padrões ambientais, sociais e de governança) já adotados pela empresa
- Por que comprar uma ação da Aliansce e não de concorrentes ou até mesmo de gigantes do varejo
- Planos para aumentar participação de investidores pessoa física na base de acionistas da empresa
Na bolsa, a Aliansce faz parte de um grupo de companhias com os melhores níveis de governança corporativa, o time chamado “Novo Mercado”. Esse segmento da bolsa foi lançado no ano 2000 e inclui empresas com padrão elevado de transparência e governança – acima do exigido por lei. Entre as diversas exigências, as empresas desse setor podem emitir apenas ações ordinárias, ou seja, com direito a voto.
A política de dividendos da empresa é de distribuição de 25% dos lucros, parcela mínima estabelecida pelas regras da Lei das Sociedades por Ações, para ter caixa para expansões.
“Temos mapeado dentro da empresa muitas oportunidades, então por enquanto vamos manter a política de distribuição de 25% de dividendo”, diz Guanabara, mais uma vez sinalizando que a Aliansce Sonae deve focar em expansão e aquisição nos próximos anos.