As vendas do Echo Dot dizem muito sobre o nível de maturidade que a Amazon atingiu no país
A Amazon Brasil divulgou na última terça-feira (3) que a Black Friday 2019 foi o maior evento de vendas da sua história. O recorde compreende vendas de todos os itens, mas o verdadeiro destaque ficou com o Amazon Echo, dispositivo de áudio alimentado com a assistente virtual Alexa: o Echo Dot, versão mais barata da linha, foi o produto mais vendido no 1P (vendido e entregue pela Amazon) e seus “irmãos” Echo e Echo Show 5 ficaram entre os 10 mais encomendados.
Segundo especialistas, essa métrica é importante porque indica uma evolução no nível de maturidade da companhia no mercado nacional e, principalmente, do relacionamento com os clientes brasileiros. Nos Estados Unidos, onde a Amazon é líder absoluta em comércio eletrônico, os dispositivos de som da linha Echo já são os itens mais vendidos da plataforma há anos.
Edmour Saiani, Sócio-diretor da Ponto de Referência e especialista em gestão de atendimento e tendências de varejo, lembra que pessoas que clientes que interagem com varejistas de forma multicanal tendem a comprar duas vezes e meia mais que a média daqueles que entram em contato apenas por uma frente. No caso da interface de voz, ele explica, o potencial é especialmente relevante.
“Ajuda quem tem essa intimidade com a interface de voz a comprar mais fácil que os outros, principalmente itens recorrentes, que é o maior foco da Amazon”, diz Saiani. Ele lembra que, enquanto o ser humano é capaz de digitar cerca de 40 palavras por minuto, pode falar até 150 palavras no mesmo tempo. “É uma coisa quase inconsequente: vai ter interface de voz em todo lugar, e quando se estabelece essa relação fica muito mais fácil comprar”, aponta.
Graças à interação frequente, a Amazon também se torna muito mais assertiva nas sugestões de compra para os clientes multiplataforma. Isso incrementa as vendas. Uma pesquisa de 2018 mostrou que o cliente Amazon com Alexa compra, em média, 29% mais que os compradores sem acesso à tecnologia.
“A Alexa está dentro da casa das pessoas, conhece seu gosto musical, onde você mora, todas as suas compras, calendário”, diz Leandro Costa Schmitz, superintendente de inovação da Flex Relacionamentos Inteligentes, consultora de varejo. “A personalização da jornada de compra chega a um nível muito melhor”, argumenta.
Próximo passo: comprar lojas físicas?
Apesar do avanço, quem acompanha o setor tem um pé atrás sobre a probabilidade da Amazon dominar o mercado brasileiro como fez nos EUA. Em primeiro lugar porque, assim como o Walmart, chegou “atrasada” na comparação com players como Magazine Luiza, B2W e Mercado Livre: essas marcas já estão na ponta da língua do consumidor brasileiro, logo, vai ser difícil ameaçar sua liderança no e-commerce.
Eduardo Guimarães, especialista em ações da casa de análise Levante Ideias de Investimentos, lembra que, apesar do avanço, a Amazon está longe de atingir o volume de vendas das empresas brasileiras no mercado nacional. “O algoritmo é muito melhor, claro, mas uma parcela pequena da população vai ter uma Alexa em casa, pelo menos por enquanto. Já celular, todo mundo tem, e pode usar os aplicativos de todas as varejistas”, explica.
O outro fator que entra na conta são as lojas físicas, essenciais não apenas no fortalecimento de marca, como, cada vez mais, para facilitar a entrega rápida. O Magalu, por exemplo, entregou mais de 50% das vendas feitas na Black Friday em menos de três dias na Grande São Paulo – muito em função da operação de entrega utilizando suas mais de mil lojas.
Para Saiani, “não existem dúvidas” de que a Amazon irá comprar, eventualmente, uma marca com presença física no país – como fez com a Whole Foods nos EUA. Até Frederico Trajano, CEO do Magalu, já disse em algumas ocasiões que fazer essa aquisição possivelmente seria a única forma da varejista de Jeff Bezos vingar no país.
Já Guimarães, da Levante, não vê a loja física como essencial para o negócio de vendas de bens não-duráveis e de tíquete médio relativamente baixo, caso da maioria das compras feitas na Amazon. “Precisa sim de uma estrutura melhor de distribuição”, diz. “Mas acho que o Fred fala em loja física pensando na sua operação, de bens mais duráveis”, aponta.
Fonte: Infomoney