Por Daniel Giussani | Quando a enchente atingiu o Rio Grande do Sul, a Lojas Renner, nascida no Estado, entendeu que era um bom momento para agir. Rapidamente, mobilizou forças para dar suporte aos cerca de 5.000 funcionários que tem no estado e ajudar a sociedade com doação de roupas e de dinheiro — somente para o projeto ReconstróiRS, que ajuda na recuperação da infraestrutura gaúcha, doou 15 milhões de reais.
Agora, é a hora da segunda fase da reconstrução, disse à EXAME o CEO da empresa, Fabio Faccio. Nessa fase, é preciso olhar para frente, mas seguir apoiando quem precisa de apoio.
Uma das iniciativas para esse apoio é lançada nesta quinta-feira, 25, pela empresa. Trata-se da coleção especial Todos Unidos pelo RS, para apoiar vítimas das enchentes.
O projeto, uma parceria com o Instituto Lojas Renner (ILR), pilar social da companhia, e três fornecedores de Santa Catarina e do Paraná, prevê a doação de 400 mil reais para mulheres em situação de maior vulnerabilidade social após a tragédia climática.
São camisetas masculinas, femininas e infantis, além de bonés, meias e ecobags, das marcas Renner e Ashua, com preços de até 49,90 reais. Os fornecedores produziram as peças sem repassar o custo. Já a varejista destinará 100% da receita gerada pela venda desses itens, sem qualquer margem de lucro na operação, e o Instituto Lojas Renner dobrará o valor arrecadado, para amplificar o impacto da campanha.
Os parceiros envolvidos são a N8 Têxtil e a Cotton Star Industrial, de Blumenau (SC), e a Itália Milano, de Apucarana (PR).
Confira a entrevista de Fabio Faccio à EXAME.
Dois meses depois, como a Renner vê a recuperação do Rio Grande do Sul?
Para nós, é importante olhar para a reconstrução do Estado, da vida das pessoas, das empresas e da infraestrutura do estado. Passamos por uma das situações mais tristes da história do Estado, e a ideia agora é reconstruir melhor do que era. Por sermos uma empresa nascida no Rio Grande do Sul, temos um cordão umbilical muito forte com o estado. A Renner é nacional, é global, mas a sede é no Rio Grande do Sul e tivemos que agir assim. No início, focamos no resgate das vítimas, acolhimento. Já beneficiamos mais de 100.000 pessoas. Desde o primeiro momento, conseguimos ajudar no resgate de toda nossa equipe, seja em casa de amigos, familiares, hotéis, quando necessário também. Conseguimos apoiar em mais de 1.000 resgates. Doamos 200.000 peças de roupa. E temos mais coisas para fazer, porque algo importante é ter a consciência de que o risco passou, mas as pessoas ainda precisam muito de suporte. Naquele momento, era importante o resgate das pessoas. Neste momento, é importante a reconstrução do guarda-roupa das pessoas, dos empregos, das casas, do aeroporto.
A Renner ajuda nesta etapa também?
Sim. Já doamos 200.000 peças de roupas, e faremos mais doações. Além disso, já doamos cerca de 38 toneladas de alimentos, 117.000 litros de água. Doamos colchões, cobertores, itens para esse primeiro momento. E nosso time fez muitas horas de voluntariado. Estimulamos muito ao time que fizesse voluntariado. Quem sabia cozinhar, ajudava com comida. Quem sabia entreter, foi conversar. Quem era psicólogo, foi dar suporte.
É a segunda fase da reconstrução.
Temos patrocinado eventos que estão revertendo toda receita para reconstrução do Rio Grande do Sul. Temos um evento no início de agosto em que vão ser contadas as histórias de pessoas que ajudaram, e 100% da receita dos ingressos são para reconstrução do Estado. Fomos a primeira empresa a aderir o Reconstrói RS, um fundo de reconstrução. Nos comprometemos, nesse fundo, com 15 milhões de reais.
E agora terá também uma nova coleção nas lojas da Renner?
Estamos lançando, no dia 25 de julho, uma coleção desenvolvida pelo nosso time, que chama Todos Unidos pelo RS. É uma coleção que estamos lançando em parceria com alguns de nossos fornecedores. São peças muito bonitas, ecobags, e nossos fornecedores produziram isso sem custo, e 100% do valor dessas vendas será revertido ao Rio Grande do Sul. E tudo que for comprado, a Renner vai dobrar a doação do próprio bolso. Somente nessa ação, imaginamos um aporte de 400.000 reais.Nosso cálculo é que desde que começou a enchente até uma fase final de reconstrução, no período de um ano e pouco, vamos ter impactado positivamente o estado em torno de 50 milhões de reais.
A Renner foi muito impactada pela enchente?
O maior impacto foi da equipe. Temos 5.000 funcionários no Rio Grande do Sul. Até porque temos muitas lojas, mas principalmente porque nossa sede fica no Estado. O nosso time foi bastante afetado, cerca de 10% tiveram perdas relevantes, alguns perderam tudo. Nós conseguimos ter certeza que todos foram resgatados. Muitos dos resgates foram feitos pelos recursos que contratamos. Para alguns, colocamos em hotéis até que houvesse um local apropriado. Montamos fundo com recursos do instituto, do time e pessoas que quiseram fazer doações para apoiar financeiramente esses funcionários. O maior problema foi com as pessoas. Mas pelo trabalho, todos que fazem conosco, conseguimos recursos.
E para o negócio?
Para o negócio, a perda foi praticamente insignificante. Temos muitas lojas no estado, mas poucas em situação de alagamento. Tivemos que fechar lojas por horas ou poucos dias, mas por causa da locomoção das pessoas. A única loja que permanece fechada para gente é a do Aeroporto Salgado Filho. Reabriu para embarque e desembarque, e estamos avaliando o melhor momento para reabrir a loja. Não temos centro de distribuição no estado. E da nossa rede de fornecedores, a grande maioria está em Santa Catarina, São Paulo, em outros estados brasileiros.
Como será o Rio Grande do Sul quando tudo isso passar? Qual vai ser a vocação econômica do estado e como ele se reergue depois disso?
Muita coisa está andando mais rápido do que o esperado. Foi lindo ver a solidariedade no momento mais crítico. Nós que temos condição, precisamos ajudar. Na pandemia, tínhamos pouca condição e ajudamos muito. Agora, que temos condição, temos que ajudar mais ainda. Temos visto algumas casas sendo construídas muito rápido. O próprio agro, pessoal se mexeu muito, conseguiu salvar a maior parte da receita. Tem muitas pequenas e médias empresas que sofreram um pouco mais e que perderam seus negócios, e estão tentando dar a volta por cima. Tem empresas fortemente afetadas e que não pararam. Conseguiram encontrar por rede de parceiros, outros fornecedores, e manter a capacidade produtiva deles, mesmo com a fábrica alagada. Nós mesmos, temos poucos fornecedores no Sul, mas vamos dar prioridade para eles. As coisas estão se recuperando. Nosso crescimento no Rio Grande do Sul, por exemplo, está fora da curva, as pessoas precisam repor a roupa, tem muita gente que quer comprar o que quer, não receber doação. Estamos com problemas de infraestrutura que prejudicam o fluxo de turismo no Estado. Assim que recuperar o aeroporto e voltar a crescer, não tenho dúvida que o interesse mundial pelo Estado aumentou, e temos uma vocação de turismo enorme. As pessoas estão se interessando mais pelo Rio Grande do Sul. Somos os queridinhos do Brasil agora, e isso é bom para ajudar a economia a voltar. E temos ainda a inovação. O Instituto Caldeira, capitaneado pelo Pedro Valério, sofreu muito pelo impacto, mas está dando a volta por cima. Estamos junto com eles, patrocinando, fazendo eventos lá.
Há preocupações?
As preocupações são sobre a recuperação da infraestrutura. A falta de aeroporto afeta os negócios. Além disso, o que tem me preocupado um pouco mais, porque eu não tenho visto um esforço urgente nessa parte, é no desassoreamento dos rios, do Guaíba, da Lagoa dos Patos. Como a enchente trouxe muita areia e lama, os rios estão mais rasos. Surgiram ilhas onde antes não existia. Precisa tirar isso de lá. A dragagem tinha que ter começado no dia seguinte.Qualquer país no mundo, no minuto seguinte, você veria 10 dragas no Guaíba. Eu ainda não vi nenhuma. Precisa disso para que não volte a acontecer tragédias assim num curto prazo. Do restante, tem caminho. Quem pode mais, peço que faça mais também.
Fonte: Exame