O investimento feito pelo Advent para ficar com 80% do Walmart é o maior cheque já assinado pelo fundo de participações para ficar com um investimento na América Latina, afirmou Patrice Etlin, sócio do Advent. Etlin não revelou valores, mas até então o maior negócio do Advent na região foi a compra do TCP (Terminal de Conteineres do Paranauá) em 2011 por cerca de US$ 450 milhões. Segundo o empresário, a transação com o Walmart envolve “alguns bilhões de reais” que serão investidos integralmente na operação brasileira num período de dois anos. Nenhum dinheiro irá para a matriz.
Etlin disse que o Walmart quis ficar com a participação minoritária de 20% na operação brasileira por acreditar que o Advent, um parceiro com expertise local, tem condições de fazer o negócio se tornar rentável no Brasil. Hoje, o Brasil representa cerca de 2% das receitas globais do Walmart e a operação passou por diversos erros estratégicos que levaram a rede a priorizar, entre os países emergentes, os negócios na Índia e na China.
“O Walmart buscou um sócio aqui para dar foco à operação e agilidade, com gestão local. O nosso objetivo é simplificar o processo decisório que hoje é submetido à matriz e, portanto, muito engessado”, disse.
Ele afirma também que a permanência do Walmart na sociedade fará com que a empresa continue se beneficiando da rede de relacionamento com fornecedores globais e também das marcas que já estão por aqui — pelas quais o Advent pagará royalties pelo uso. “Mas vamos dar uma ‘abrasileirada´ no conceito”, afirmou o executivo.
O Walmart passará, por exemplo, a aumentar a operação de atacarejo, que nunca teve um forte investimento da matriz, e terá promoções nas lojas, abandonando estratégia global da rede, de “preço baixo todo dia”. Ele também planeja aumentar a importância do clube de compras Sam’s Club na operação e o braço de e-commerce.
Etlin espera que a transação esteja fechada entre 45 e 60 dias, após a aprovação do Cade. Nesse período, o fundo espera montar o novo time que comandará a operação no Brasil. O Walmart terá assentos o conselho de administração da operação brasileira.
Não há planos de vender nenhuma parte do negócio, embora Etlin reconheça que há investidores interessados em unidades da operação. “O Walmart teve problemas na integração das marcas que comprou por aqui, mas nós acreditamos que são marcas boas se bem trabalhadas e a venda não faz parte da estratégia inicial. Vamos administrar o negócio que está aí”, disse.
Etlin não quis fazer comentários sobre os passivos trabalhistas da operação brasileira do Walmart, apenas afirmou que tem experiência em lidar com esse tipo de questão por conta de outra aquisições já realizadas no Brasil.
O investimento mantém o perfil do fundo e é de longo prazo, de 5 a 7 anos. Etlin deu as declarações durante o Congresso da ABVCAP (Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity). Ele afirmou que as conversas com o Walmart duraram quase dois anos antes de fechar o negócio e que os recursos virão do fundo Advent que investe na América Latina e do fundo global, diante do tamanho do investimento.
Sobre o fato de o negócio ter sido fechado num período de extrema volatilidade dos mercados brasileiros, como o visto nas últimas semanas em função da greve de caminhoneiros, Etlin afirmou que o Advent já está acostumado com isso. “Nossos investimentos são de longo prazo, duram até 10 ou 12 anos. Num prazo desse, no Brasil, com certeza você vai enfrentar volatilidade”, disse. Ele citou exemplo de outros investimentos fechados em meio a crises no país, como a Cetip, em 2009, com a crise imobiliária americana, ou a Microsiga, que depois transformou-se na TOTVS, na desvalorização cambial de 1999; ou o Fleury em 2015, quando o assunto era o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Nós sempre analisamos no detalhe o negócio, não os aspectos macro. Focamos o setor e o que pensamos em fazer com a empresa. O Advent tem essa expertise setorial muito forte em varejo, que vem do fundo lá fora”, disse.
Fonte: Folha de S.Paulo