As conversas para a venda do Walmart Brasil avançaram nas últimas semanas e, se as atuais condições negociadas forem mantidas, a empresa de private equity Advent International deve ficar com 80% da operação e os americanos com os 20% restantes, segundo antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A Advent tem direito de exclusividade nas negociações. O grupo varejista faturou R$ 28,2 bilhões em 2017 no país, queda de 4,2% ante o ano anterior.
A fase de auditoria das informações sobre a subsidiária (“due diligence”) foi concluída em abril, após quatro meses de análise mais aprofundada da situação financeira e operacional. O levantamento de passivos fiscais e trabalhistas foi um dos pontos sensíveis da análise – geralmente esse valores são elevados nas varejistas. Semanas atrás, circulavam informações no mercado de que a Advent negociava fatia que poderia superar a faixa entre 50% e 60% da operação, de maneira que pudesse ter controle e autonomia na gestão. Procurada, a Advent não comentou o assunto. O Walmart informou que “não comenta especulações”.
Caso o acordo seja concretizado, a intenção é anunciá-lo ao mercado em maio. Segundo uma fonte a par das conversas, a Advent já busca opções no mercado para a presidência da varejista. Vicente Trius, ex-presidente do Walmart, e Luiz Fazzio, ex-presidente do Carrefour, foram sondados – este último foi responsável pela última reestruturação do Carrefour no país. O atual diretor-presidente do Walmart Brasil é Flavio Cotini, executivo com perfil mais financeiro e no cargo desde 2016.
Consultores em estratégia foram contratados pela Advent neste ano para avaliar o negócio e começar a desenhar um plano estratégico. A McKinsey se envolveu nessa avaliação, apurou o Valor junto à fonte ligada à rede no país. Esse projeto considera que a “virada” na operação do Walmart requer a ampliação mais acelerada do negócio de “atacarejo”, com a rede Maxxi, e a conversão de lojas de hipermercados nesse modelo. Os rivais Carrefour e GPA já trilharam esse caminho, com as bandeiras Atacadão e Assaí, respectivamente.
Os sócios americanos devem se manter na operação por alguns anos, mas já está definido que deixarão a sociedade na empresa. A intenção do Walmart é se desfazer da participação após nova reestruturação liderada pelo fundo, a partir da melhora nos resultados.
Com essa transição, caso sejam identificados eventuais passivos após a compra, o sócio americano seria responsável por arcar com o que for descoberto, diz uma fonte próxima às negociações. Em março, a agência “Reuters” informou que a unidade no país deve até US$ 3 bilhões em impostos atrasados aos governos estaduais. Normalmente varejistas têm dívidas cobradas por não pagamento de ICMS, alegam os governos.
Caso as tratativas avancem nas condições negociadas hoje, outros executivos da empresa, indicados pelos americanos para funções na subsidiária, também devem deixar o negócio, diz fonte. No início de 2017, o Valor informou que o atual comando tinha prazo até 2019 fazer a virada nos resultados e, caso isso não ocorresse, o grupo analisaria a venda da operação. Vendas em queda e trimestres com lucro operacional próximo a zero exigiram que a matriz fizesse aportes em determinados períodos na operação, dizem fontes. A empresa tem informado que seu plano de renovação de lojas, implementado após 2016, tem dado resultado.
Em março, o Valor informou que interessados buscaram o grupo americano com a intenção de avaliar a compra separada das operações no país. Mas com o avanço da venda da rede como um todo, a decisão foi fechar direito de exclusividade das negociações com a Advent O Sonae Sierra chegou a avaliar hipótese de adquirir a operação no Sul – a emprega nega a informação. O empresário Dimitrios Markakis, sócio da Dicico, também esteve em conversas com o grupo para ficar com as lojas paulistas, segundo fontes do setor.
Fonte: Valor Econômico