Após registrarem uma valorização média de 84,3% no ano passado, contra um ganho de 26% do Ibovespa, as ações das companhias de moda refrearam o ritmo em 2018. Os papéis de Renner, Guararapes (dona da Riachuelo), Marisa, Cia. Hering, Alpargatas, Grendene, Arezzo e Vulcabras Azaleia acumulam uma perda média de 4,3% na B3 de janeiro até agora. No mesmo intervalo, o Ibovespa acumula uma alta de 10,4%.
De acordo com analistas que acompanham essas ações, boa parte dos papéis se valorizou no ano passado, com a perspectiva de recuperação nas vendas. Por isso, neste ano, o potencial de valorização é menor.
Entre as empresas, apenas a Vulcabras Azaleia acumula ganhos próximos ao do Ibovespa neste ano, chegando a 9,9%. Guararapes teve ganhos de 2,3%, abaixo do indicador. Alpargatas (-1,9%), Renner (-3,6%), Grendene (-6,5%), Marisa (-8%), Arezzo (-8,9%) e Cia. Hering (-17,3%) tiveram queda.
“De um modo geral, o mercado antecipou a boa notícia da recuperação econômica no ano passado. Agora os investidores estão demandando outras novidades positivas para voltar a comprar as ações em 2018”, afirmou Thiago Macruz, analista de bens de consumo e varejo do Itaú BBA.
Macruz considera que, neste ano, a Renner pode surpreender, com redução do custo de operações de proteção contra variação cambial (hedge) da ordem de 17% no ano. No primeiro trimestre de 2017, a varejista trabalhou com um custo médio de hedge com o dólar a R$ 4,00, no segundo trimestre, o dólar médio era de R$ 3,70. Neste ano, o custo médio está a R$ 3,30. “No primeiro trimestre, a Renner tem um hedge mais benigno. É razoável esperar surpresas positivas vindas do varejo da Renner”, afirmou o analista.
Os analistas do Credit Suisse, Toias Stingelin, Pedro Pindo e Leandro Bastos, observaram em relatório que as ações da Renner já são negociadas a 24,6 vezes o lucro esperado para o ano. “Acreditamos que esse preço já reflete o status premium da empresa.”
Laurence Gomes, diretor financeiro e de relações com investidores da Renner, disse que espera um aumento gradual da margem bruta de lucro neste ano. A companhia também informou que pretende abrir em torno de 70 lojas, mantendo o ritmo de inaugurações de 2017.
Já a Guararapes, dona da Riachuelo, teve um desempenho forte em 2017, com alta de 79% no lucro. Mas, precisa dar mais sinais de que será capaz de manter o bom impulso das vendas, manter as despesas operacionais sob controle, margens saudáveis e elevar retornos aos acionistas. A avaliação é dos analistas Guilherme Assis e Andres Estevez, da Brasil Plural.
Tulio Queiroz, diretor financeiro da Guararapes, disse que o ritmo de vendas no primeiro trimestre de 2018 está mais forte do que no mesmo período do ano passado e que espera ganhos neste ano com o reforço das operações de perfumaria e celulares. A companhia também prevê abrir “pouco mais de 12 lojas” neste ano, ante 12 unidades em 2017.
A Marisa também apresentou sinais de recuperação em 2017. Mas, para os analistas da Brasil Plural, precisa dar sinais mais claros de que será capaz de sustentar a melhoria na margem bruta de lucro nos próximos trimestres. Marcelo Araujo, presidente da Marisa, disse em teleconferência que espera um “crescimento pequeno e sustentável nos negócios em 2018”.
Papéis de grandes redes de moda mostraram ganho de 84% na bolsa no ano passado – neste ano, até agora, estão caindo
Já a Cia. Hering liderou as perdas da categoria de moda na bolsa neste ano. A empresa teve mais dificuldades para recuperar resultados em 2017. “Os esforços da companhia para renovar o crescimento e a lucratividade das vendas estão começando a mostrar resultados. Mas a visibilidade do crescimento a longo prazo permanece nebulosa”, afirmaram, em relatório, os analistas Joseph Giordano, Olivia Petronilho e Nicolas Larrain, do J.P. Morgan.
Em teleconferência, Fabio Hering, presidente da Cia. Hering, disse que espera manter a margem bruta de vendas estável em 2018, com melhoria nos níveis de estoques e nas coleções.
Entre as calçadistas, a Vulcabras Azaleia foi a que mais ampliou valor de mercado em 2017, com uma valorização de 402,5%, para R$ 2,24 bilhões. A companhia valorizou-se na bolsa graças à reformulação das operações e a uma oferta de distribuição primária e secundária de ações, que movimentou R$ 686,5 milhões.
Neste ano, a valorização chega a 9,9%. Para os analistas do Credit, Suisse, Tobias Stingelin, Pedro Pinto e Leandro Bastos, a Vulcabras Azaleia dá indícios de que terá crescimento forte nos lucros neste ano. Os analistas acrescentaram que a ação da companhia tem sido negociada a um valor equivalente a 12,1 vezes o lucro por ação esperado para 2018, o que a torna uma das opções mais baratas de ações no setor de consumo.
Na telefeconferência de resultados, Pedro Bartelle, presidente da Vulcabras Azaleia, disse recentemente que espera crescimento nas vendas a partir do segundo trimestre do ano.
A Arezzo também apresentou ganhos expressivos em 2017, com valorização de 120,6% nas ações. Em 2018, as ações apresentam queda acumulada de 8,9% até sexta-feira. Os analistas do Credit Suisse observaram que o preço da ação vinha sendo negociado a 27,4 vezes o lucro por papel estimado para 2018. Esse valor é alto e limita o potencial de valorização neste ano, segundo o Credit Suisse.
O presidente da Arezzo, Alexandre Birman, disse que o forte aumento do número de lojas feito no fim de 2017 dará uma base maior de crescimento para a companhia neste ano. Ele também disse que as vendas no primeiro trimestre apresentam crescimento de um dígito alto.
A Alpargatas teve valorização de 82,8% na bolsa em 2017, com alta principalmente após a venda do controle acionário da companhia – os 54,24% que pertenciam à J&F Investimentos foram comprados por Itaúsa, Cambuhy Investimentos e Brasil Warrants. As ações da companhia, dona da marca Havaianas, apresentam queda de 1,94% neste ano, na esteira de resultados fracos no quarto trimestre de 2017.
O presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, disse em teleconferência que o desempenho foi prejudicado por uma base de comparação alta em 2016. E que a companhia apresentou melhora no ritmo de vendas em janeiro deste ano, em comparação ao mesmo mês de 2017.
A Grendene, por sua vez, teve valorização de 61,8% na bolsa em 2017. De janeiro até sexta-feira passada, acumulava perda de 6,5%. Francisco Schmitt, diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene, disse que não deve atingir neste ano as metas de receita bruta e lucro líquido definidas em 2008. A previsão era atingir um crescimento médio de 8% a 12% na receita e de 12% a 15% no lucro líquido. Ainda assim, segundo Schmitt, a Grendene deve apresentar recuperação no mercado brasileiro de calçados, com crescimento de 3% a 5%.
Fonte: Valor Econômico