Em turbulência desde 2013, quando as cotações entraram em queda livre na BM&FBovespa, as ações das administradoras de shopping centers dão os primeiros sinais de recuperação, segundo indica levantamento da consultoria Economática. O desempenho da Aliansce, uma das primeiras no ranking do setor, ilustra bem o que se passou no segmento: segundo a Economática, depois de subir expressivos 73% em 2012, as ações da empresa entraram em rota descendente: caíram 24% em 2013, 9% em 2014 e 31% em 2015. Alguma boa notícia? Sim, indica a Economática: entre janeiro e julho de 2016, os papeis tiveram alta de 38% na BM&FBovespa. Com essa reação, no período de janeiro de 2011 a julho de 2016, o saldo se tornou positivo, com retorno acumulado de 22%. “Incluímos no cálculo a reaplicação dos dividendos, para chegarmos às taxas de retorno nominais”, explica Fernando Exel, presidente da Economática.
Como as demais empresas do setor, faz tempo que os novos projetos da Aliansce permanecem nas gavetas, aguardando a recuperação. Por enquanto, porém, o que há de concreto é a forte queda no número de lançamentos e um alto índice de vacância nos shoppings novos, que, aliados aos altos custos financeiros e à retração da demanda, configuram um cenário complicado para o segundo semestre. Em melhor forma estão os papeis de players tradicionais, como a Multiplan, também segundo o levantamento da Economática. Com uma taxa de retorno de 69% entre janeiro e julho de 2016, as ações da companhia acumularam valorização de 108% em cinco anos e meio, entre janeiro de 2011 e julho de 2016 inaugurar um empreendimento em 2017. Aproveitando o custo menor do metro quadrado construído, a empresa vai lançar um outlet em Santa Catarina. Na BM&F Bovespa, os papeis da Iguatemi seguem com altas taxas de retorno. No acumulado neste ano, até 20 de julho, a valorização foi de 61% em cinco anos, o retorno acumulado foi de 84%.
Segundo analistas, o que vem sustentando a onda de recuperação dos papeis das gestoras são as expectativas mais otimistas dos agentes econômicos, divulgadas recentemente e a perspectiva de início do ciclo de baixa da Selic, hoje em patamar considerado muito elevado.”As empresas que acompanho Iguatemi, Multiplan e BRMalls já devem dar resultado positivo no segundo trimestre, com melhora do ponto de vista operacional em relação ao primeiro trimestre”, diz Daniel Malheiros, analista do Banco Votorantim. “Há também a retomada da confiança dos consumidores, mais à frente vai haver o corte dos juros, a volta do crédito e a queda do endividamento das famílias. Mas será uma recuperação lenta”, diz Malheiros. Segundo o analista, é preciso levar em conta que os dois últimos anos foram muito ruins para o varejo, inclusive para os shopping centers, sempre mais resistentes. “Os shoppings que acompanho têm idade média de 19 anos; são empreendimentos consolidados. E funcionam como um hedge para a inflação, já que os contratos são atrelados aos índices de inflação”, diz Malheiros.
Entre as maiores administradoras, a General Shopping foi a que registrou o pior desempenho na bolsa no longo prazo. De janeiro a 20 de julho, os papeis acumulam uma taxa positiva de retorno nominal de 41%, mas entre janeiro de 2011 e 20 de julho de 2016, apresentam desvalorização de 69%. Com uma parcela expressiva de dívidas em dólares, o grau de endividamento líquido da companhia atingiu 233%, segundo levantamento do Valor, de meados de julho. Muito acima de BRMalls (32% de endividamento líquido) e Multiplan (40%). No curto prazo, a General Shopping venderá ativos e participações relevantes em seus empreendimentos, na expectativa de fazer caixa para honrar seus compromissos financeiros.
A mudança no patamar do dólar ocorrida no último ano tem ampliado o apetite dos investidores estrangeiros por ativos no país. Nos últimos meses, o megafundo de private equity Blackstone surgiu no noticiário especializado como potencial candidado a adquirir o controle do BRMalls, o maior grupo do segmento com ações negociadas em bolsa. A possibilidade de repatriar recursos depositados no exterior, segundo analistas, também é apontada como fator de atração de mais investidores interessados em aplicar em imóveis comerciais no país. No curto prazo, ainda é preciso recuperar o nível de vacância nos empreendimentos em operação, particularmente nos novos empreendimentos. Segundo levantamento do Ibope, entre os 498 shopping centers em operação no país, a taxa de vacância superava 50% no primeiro semestre de 2016, no caso dos empreendimentos mais novos, os lançados a partir de 2012.