Crescer apesar e com a crise. Enxergar oportunidades para crescer e abrir o próprio negócio, em meio a retração da economia. Estabelecer metas, “mesmo beirando a inconsequência”, acreditar netas e executa-las é o que faz, na avaliação do empresário do ramo de alimentação e fastfood Robinson Shiba, a diferença de um empreendedor. Ele mesmo desafiou o momento de crise vivido no Brasil, em 1992, e abriu a primeira loja da rede China in Box. Hoje, a rede conta com mais de 160 franquias em 70 cidades do país. “Eu, particularmente, não acredito que exista isso de empreendedor por oportunidade, até porque considero que todos fazem por alguma necessidade. E a crise aumenta essa procura mas também as condições de negociar e crescer”, afirma. Em Natal para participar do 1º Congresso de Empreendedorismo Universitário – CEU, com o tema “Construindo um RN Empreendedor”, realizado pela Universidade Potiguar, Robinson Shiba falou sobre a atual crise financeira e expectativas para o mercado, as formas como se colocar no mercado e os planos de expansão de lojas. Além da rede China in box, ele está a frente da Gendai, do restaurante oriental Owan, da rede de restaurantes italianos Brevitá e do Grupo Trendfoods. Confira a entrevista.
Como este cenário de recessão tem afetado o setor de alimentação? Vocês tem registrado queda nas vendas, prejuízo?
O cenário não é favorável. O setor de alimentação, e no caso do China in box e do Gendai, que é de fast food, também foi afetado. E não vemos com expectativa positiva para 2016 até mesmo pelo cenário político, com toda essa indefinição, de impeachment, de conseguirem aprovar as leis pára que a economia volte a se recuperar. Esta semana, inclusive devem votar alguma coisa e a partir do resultado dessas votações é que teremos boas expectativas ou não. O setor vem tendo prejuízos. Tivemos uma queda de 5% a 6% no número de comandas vendidas em 2015 na comparação com o resultado de 2014. na verdade, a queda nas vendas começou desde o final da Copa do Mundo de 2014, o segundo semestre não foi bom. E 2015 também não tivemos um bom desempenho, continuou em queda e, nesses primeiros cinco meses deste ano, já temos recuo, mas percebemos que a queda tem sido menor e deve se manter na média de 3% a 2,5% agora.
E deve se manter, quais as projeções para o restante do ano?
Sim, deve se manter com este quadro. A nossa meta para 2016 é empatar com 2015. manter este ritmo. Tivemos o primeiro quadrimestre negativo, mas em abril já começamos a reagir e o desempenho tem melhorado.
Com a retração do consumo, se percebe um esvaziamento de lojas ou mesmo mudança no perfil do consumidor?
Sim, com o consumidor mais receoso em gastar, a queda foi mais forte nas vendas de final de semana. Ou seja, comer fora por lazer tem sido mais afetado, as pessoas tem deixado de lado por questão de economia mesmo. Nosso maior fluxo está na semana e em horário de almoço, o que caracteriza que é uma compra por necessidade, as pessoas estão fora de casa, no trabalho e precisam se alimentar. Percebemos uma queda já no horário de jantar e maior no fim de semana, quando as pessoas podem optar se vão comer fora e optam por não gastar, deixam de consumir.
E quais as estratégias para atrair clientes e se manter no mercado?
As estratégias vão desde criar novos canais, estamos trabalhando muito forte a venda pela internet, por meio de aplicativos, estamos atuando forte em praças de alimentação virtuais, como o ifood, além disso criamos pratos individuais. O China in Box tem como característica as porções generosas, bem servidas para mais de uma pessoa e, para ter um preço mais acessível, estamos trabalhando os pratos individuais como forma de manter os pedidos, em box mais individuais, com preço mais atrativo. Incluímos a comida japonesa também no cardápio do China, que antes era apenas do Gendai. Estamos buscando alternativas para encontrar novos clientes, manter o que já temos, além de realizar promoções mais agressivas nos finais de semana como forma de alavancar essas vendas que estão sendo mais afetadas.
Há planos de expansão, abertura de novas lojas esse ano? Alguma no Rio Grande do Norte?
Sim, devemos abrir até o final do ano mais seis lojas, com contratos já assinados. A rede China in box conta já com 166 franquias no país. E com o quadro de crise o setor de franquias costuma atrair investidores. Nenhuma no Rio Grande do Norte. Aqui já temos duas e a praça é do franqueado.
A crise oferece condições mais favoráveis para este setor?
Em período de crise a procura por franquias cresce, porque existe o desemprego. Então, muitos executivos, diretores gerentes, que são demitidos percebem nas franquias uma forma de voltar ao mercado, desta vez com o próprio negócio. E buscam formas de manter a renda porque têm suas responsabilidades já firmadas e veem nas franquias um porto-seguro para este recomeço. Por isso continuamos com a expansão e abertura de lojas mesmo em períodos de maior recessão. No caso da China in box, nós selecionamos muito bem nossos candidatos a franqueados. E há muitos ex-executivos, que estavam acostumados a demandar, e que buscam as franquias. Só que em franquias, sobretudo no ramo de alimentação, têm que fazer e não apenas delegar funções, principalmente agora que as vendas não estão tão favoráveis e é mais difícil de contratar colaboradores, o franqueado muitas vezes tem que cruzar, bater escanteio, cabecear, atuar em todas áreas. Então, a gente vem vetando bastante candidato também, mas a expansão continua.
Esta expansão se deve ao que muitos chamam de empreendedorismo por necessidade. O senhor também começou assim. O que garante o sucesso?
Obviamente, é muito dito no mercado, como um todo, isso de empreender por oportunidade e empreender por necessidade. Eu, particularmente, não acredito que exista isso de empreendedor por oportunidade, até porque considero que todos fazem por alguma necessidade. Contando o meu caso, eu sou um empreendedor por necessidade também. Sempre se está em busca de algo, há uma necessidade de resolver o problema dele, o problema do mundo, há uma necessidade por trás do ato de empreender. Obviamente que em épocas de crise essa necessidade se ressalta porque é a necessidade puramente financeira, não apenas de buscar alternativas, soluções.
Mesmo que seja para resolver a questão financeira, é mais fácil empreender em momentos de crise? Que fatores permitem consolidar o negócio em período de maior recessão econômica, como o senhor fez?
Eu quando comecei, em 1992, era a época do impeachment do presidente Collor. Outubro de 1992, a primeira loja, e o Collor tinha confiscado o dinheiro de todo mundo, era um momento bastante difícil. E eu vi ali oportunidade porque coube dentro do meu orçamento, porque tinha mais condições de negociar com fornecedores, de conseguir o aluguel mais barato, de preços de equipamentos, obra civil. Em períodos de crise, tudo está mais barato porque todos estão na mesma dificuldade. Obviamente que naquela situação, o consumidor também era bem mais disputado, a concorrência era menor. Os momentos de crise são bastante propícios para as negociações, fornecedores estão trabalhando com mais prazo, parcelamento, retirando juros, se consegue aluguel mais barato. Também se encontra um número de bons colaboradores que foram demitidos e estão esperando para voltar ao mercado de trabalho. Há condições mais favoráveis neste sentido. Mas eu acho que, independente de estar ou não em crise econômica, se o empreendedor encontra o seu modelo de negócio, que coube no seu orçamento, tem que aproveitar. Eu aproveitei esse momento de crise.
Essa onda de demissões também atingiu a rede China in box?
Sim, com a queda nas vendas tivemos uma redução de cerca de 10% da equipe.
E deve permanecer dispensando ou já há projeção de voltar a contratar?
Nós trabalhamos com a expectativa de poder contratar de volta esses profissionais. Mas isso vai depender do quadro político e econômico do país. Não temos como prever prazos de quando vai ocorrer.
A palestra em Natal vai tratar sobre empreendedorismo. O que define um empreendedor? (a entrevista foi feita antes da palestra).
Empreendedor é aquele que tem como principal característica acreditar no projeto e implantar, é aquele que vai lá, corre atrás e executa, mesmo beirando a inconsequência. Depois ele vai ajustando. O empreendedor é aquele que vai sofrer se empreender e errar, mas sofre muito mais se não fizer.
O alto custo pra manter um negócio, com inflação, juros altos, tem sido apontado por empresários do setor de alimentação como motivo de fechamento de empresas.
Este é um problema. E não temos como repassar esses aumentos de inflação para o consumidor final, se temos aumento na carne, por exemplo, de 10% temos que ver na composição de preço o que podemos repassar, não tem como repassar os 10%. O setor sofre com alta carga tributária, cerca de 36% de todo o custo de produção são impostos. Não tivemos aumento de impostos recente, mas o peso já é grande.
Retomada do crescimento, na avaliação do senhor, deve ocorrer ainda este ano ou só a partir de 2017?
Retomada de crescimento do PIB eu acredito que só em 2019, quando houver as eleições de 2018. E para isso é preciso que ocorram as reformas da previdência, política, tributária, os ajustes nas contas do governo. Com esse cenário político atual, com essa questão da Lava Jato fica muito difícil quem for preso vai delatar e puxa outro e outro protagonista.
Fonte: Tribuna do Norte