Por Paulo Gratão.
O “novo normal” que tanto se falou em 2020 e 2021 parece ter finalmente chegado: mais tecnológico, mas bem semelhante ao antigo normal. Essa foi uma das conclusões a que chegou a Associação Brasileira de Franchising. Em parceria com a BTR Varese, a ABF realizou nesta terça-feira (7/2) o Pós-NRF, um painel para mostrar as análises a respeito do NRF’s Big Show 2023, maior convenção de varejo do mundo, que aconteceu em Nova York, em janeiro.
“Alguns dos principais elementos apresentados sempre estiveram na agenda do varejo. A tecnologia entra para levar tudo isso a um patamar nunca experimentado antes”, afirmou Tom Moreira Leite, presidente da ABF, na abertura do Pós-NRF. Ele ainda disse que “os desafios de curto prazo, como a inflação, não podem impregnar a visão do empreendedor” e que é preciso manter o “olhar atento para a transformação dos negócios”.
A conversa de tendências começa pela febre do ChatGPT, quetomou o noticiário especializado no Brasil nos últimos dias. A ferramenta, que já era realidade durante o NRF, foi criada pela Open AI e lidera o movimento de massificação de uma tecnologia que é a grande aposta dos especialistas presentes no evento para 2023: a inteligência artificial. Ela aparece não só aplicada à experiência do consumidor, mas também aos processos internos das empresas.
“Deixem de tratar inteligência artificial como ficção científica. Passem a olhar como a tecnologia vai resolver seu problema de expansão, de inventário, de sortimento da loja. É o presente, não mais o futuro”, afirmou Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) durante o evento.
Em apenas dois meses, o ChatGPT alcançou a marca de 100 milhões de usuários no mundo, de acordo com o banco suíço UBS. Para efeito de comparação, o TikTok precisou de nove meses para chegar à mesma marca e o Instagram levou 30 meses.
Terra ainda apresentou alguns dados sobre o potencial da inteligência artificial para os negócios. De acordo com um estudo da Grandviewresearch, a tecnologia movimentou US$ 136 bilhões em 2022 e a projeção é chegar a R$ 1 trilhão em 2030.
O especialista ainda ponderou que, apesar das boas perspectivas em relação a tecnologias parecidas com o ChatGPT (o Google anunciou o Bard na última segunda-feira), é necessário ficar de olho em aspectos legais — uma das discussões atuais é sobre direitos de propriedade sobre o conteúdo produzido pela IA. “Uma das teses é que, se eu dou o briefing, o direito do material produzido é meu. Mas não há nada regulado sobre isso”, alerta. O ChatGPT funciona a partir de “prompts” ou pedidos do usuário.
Saiba mais sobre o ChatGPT
A ascensão da IA corre na direção oposta ao freio no metaverso. A tecnologia que se apresentou como a grande tendência na NRF 2022 ainda não decolou. De acordo com Terra, o metaverso “chegou antes da tecnologia necessária” para criar o se esperava dele. A popularização, para o especialista, pode ocorrer com o advento do 5G ou do 6G. “Hoje, há mais marketing do que o uso propriamente dito para o comércio. É possível [o metaverso aportar no varejo], mas não em 2023.”
A pausa no metaverso, entretanto, não significa o fim da busca por experiências imersivas no varejo eletrônico. O comércio 3D, aposta de empresas como Levi’s e Charlotte’s Beauty Secrets, por exemplo, consiste em um passeio virtual por uma loja, em que é possível escolher produtos, experimentar maquiagens e interagir de forma mais dinâmica do que a busca online tradicional. “É algo bem mais pé no chão e que abre caminho para um dia chegarmos ao metaverso”, afirma Terra.
Loja física como hub
No ano passado, o e-commerce brasileiro cresceu 2%, de acordo com a NielsenIQ/Ebit, ritmo bem abaixo de 2020 e 2021, mas Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail considera que o resultado mostra uma consolidação do canal, que não deve ser desprezado pelos varejistas. Na outra via, as lojas físicas reduziram o fluxo, mas aumentaram o faturamento. “A conversão de vendas cresceu, o cliente tem feito visitas mais assertivas”, diz.
Mais do que nunca, a loja física se fortaleceu nos últimos anos, e provou que continua relevante. “A principal contribuição de uma loja para o varejo atualmente não é monetizada. Trata-se da capacidade de reter, engajar e conquistar clientes”, afirmou. Um estudo da Statista apresentado no evento mostrou que 36% das compras da geração Z já eram realizadas de forma híbrida em 2021.
De acordo com Serrentino, as lojas precisam se reinventar para atender as diferentes jornadas de consumo, uma vez que cada cliente tem necessidades diferentes. Mas para isso é necessário repensar o negócio como um todo, não somente readequação pontual do ponto de venda. “É menos sobre que cara vai ter a loja e mais sobre qual vai ser o papel da loja no futuro”, diz.
Fonte: PEGN