A varejista de moda feminina Barred’s entrou com pedido de recuperação judicial ontem na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais no Foro Central Cível, em São Paulo. A rede fundada em 2006 tem 118 lojas no país e emprega 578 funcionários.
Não se trata de um caso isolado. No mês passado, o grupo GEP, dono das redes de vestuário Cori, Luigi Bertolli, Emme e Offashion, e que no Brasil é franqueado exclusivo da marca americana Gap, entrou em recuperação judicial. A varejista de brinquedos BMart, a segunda maior do segmento no país, também teve de recorrer a esse mecanismo em fevereiro. Seu pedido foi aceito pela Justiça no dia 22.
A recessão tem afetado duramente o comércio. No ano passado, segundo dados do IBGE, as vendas do setor caíram 4,3% em relação a 2014 – o pior resultado desde que o levantamento começou a ser feito, em 2001. No varejo de vestuário, a retração foi de 8,7%. Alguns dos maiores varejistas do país, como Grupo Pão de Açúcar e Magazine Luiza, fecharam 2015 com prejuízo.
Se o cenário é adverso para as grandes companhias, que têm fluxo de caixa maior e mais acesso ao crédito, a situação se agrava para redes de menor porte. Só no primeiro bimestre deste ano, os pedidos de recuperação judicial triplicaram, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Boa Vista SCPC. A tendência é de alta para 2016, segundo especialistas, pois há pouca possibilidade de reversão da atual dinâmica econômica.
No caso da Barred’s, o endividamento que motivou a decisão de recorrer à Justiça, é de R$ 104,2 milhões, segundo informações presentes no processo. Se o pedido for aceito, a companhia terá 60 dias para apresentar uma proposta aos cerca de 330 credores. A maioria deles é formada por administradoras de shopping centers, segundo Jonathan Saragossa, do escritório Nicola, Saragossa e Campos, que representa a Barred’s.
A rede tem débitos também com bancos e fornecedores. A dívida trabalhista é de R$ 340 mil, segundo o pedido de recuperação judicial.
A primeira filial da Barred’s, com sede em São Paulo, foi inaugurada em Brasília no mesmo ano de fundação da empresa, em 2006. Em 2008, a varejista passou a também fabricar peças de vestuário. A companhia chegou a ter 156 lojas no país, mas hoje são 118, além de duas unidades, em Cuiabá e São Paulo, para “beneficiamento dos produtos que serão distribuídos e comercializados nas lojas”, de acordo com o processo.
A empresa quer garantir a manutenção de suas atividades enquanto reestrutura suas dívidas. A Barred’s, segundo uma fonte, passa por dificuldades desde o fim de 2013, prejudicada pela redução do consumo e forte competitividade no setor de vestuário. O custo fixo de locação dos pontos comerciais subiu enquanto a demanda recuou, prejudicando a rentabilidade.
“A empresa passa por um período de grandes perdas de margem e deterioração, inclusive por conta da variação cambial ocorrida nos últimos tempos”, informa o documento do processo. Procurada, a Barred’s não foi encontrada para comentar o assunto. Segundo uma fonte do mercado, o faturamento anual da companhia é de cerca de R$ 90 milhões.