A perda da massa salarial das famílias ganhando força no segundo semestre de 2015, o aprofundamento da crise na indústria e o corte de gastos das empresas levaram a uma queda recorde do volume de serviços prestados no país, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Em novembro, o setor recuou 6,3% na comparação com igual mês de 2014, pior resultado da série histórica, iniciada em janeiro de 2012. Com indústria e comércio ampliando as quedas, o setor de serviços deve continuar descendo a ladeira em 2016.
O volume de serviços prestados vai fechar o quarto trimestre pior que no terceiro, destacou a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências. A consultoria prevê queda de 4% do PIB de serviços no último trimestre de 2015, mais profunda que no período anterior, de 2,9%.
A queda de novembro foi a oitava seguida, maior sequência de baixa, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ante igual mês de 2014, o rendimento médio mensal caiu 8,8%. E a expectativa é que a renda das famílias continue em retração, avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, levando junto os serviços consumidos pelas famílias.
Com o bolso mais vazio, as famílias cortam serviços como lazer, idas ao salão de beleza e fazem menos cursos. De junho de 2014 a novembro de 2015, os serviços prestados às famílias apresentaram resultados negativos. Em novembro, ante igual mês do ano anterior, a queda foi de 6,6%. “É uma função direta com a renda do trabalhador”, disse Roberto Saldanha, técnico da coordenação de serviços e comércio do IBGE. Naquele mês, a massa salarial recuou 12,2%, ante novembro de 2014.
A produção industrial com recuo de 12,4%, na comparação com novembro de 2014, e queda no varejo de 7,8% no mês período, influenciaram grande parte da retração do setor de serviços no penúltimo mês do ano passado.
O grupo transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio recuou 8,2% em novembro. Foi o principal impacto negativo no resultado do setor no mês. Dependente do setor industrial e do comércio, o segmento de transportes cai há oito meses seguidos. Entre janeiro e novembro de 2015, a perda foi de 6%. “Enquanto a indústria estiver passando por esse desaquecimento o transporte de carga vai acompanhar”, disse Saldanha.
“A dependência brasileira do transporte rodoviário de mercadorias e a estreita relação deste com o nível de atividade econômica explicam o tombo de 10,2% no ano do transporte terrestre”, informou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Apenas em novembro, transporte terrestre recuou 13,8%.
Com o corte de custos das empresas e de gastos das famílias, os serviços de informação e comunicação, que respondem por 35% da PMS, aprofundaram a queda, que em novembro chegou a 4,4%, contribuindo com -1,6 ponto percentual para a taxa total do mês.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares caíram 6,6%. Primeiro, há o corte dos técnico-profissionais, que recuaram 7,1% e correspondem aos serviços intensivos em conhecimento. Depois, ocorre a redução dos administrativos e complementares, com queda de 6,4% em novembro, que são atividades intensivas em mão de obra.
O grupo outros serviços, que inclui atividades imobiliárias, manutenção e coleta de lixo, vem sofrendo bastante com a crise. A queda de 7,4% foi a 12º consecutiva, refletindo a crescente deterioração do setor no segundo semestre.
Valor Econômico – SP