A comparação dos índices de inflação de 2015 permite ver claramente para quem pesou mais a alta de preços no ano passado: a camada mais pobre da população. Se a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2015 em 10,67%, os índices que medem a alta de preços para as classes de renda mais baixa ficaram acima de 11%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 11,28% e o IPC-C1, da Fundação Getúlio Vargas, encerrou 2015 com aumento de 11,54%.
O IPC-C1 mede em quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife) a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços para famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos. O INPC abrange famílias com renda entre um e cinco salários mínimos mensais que vivem nas mesmas regiões pesquisadas pelo IPCA.
A Federação do Comércio e Serviços de São Paulo (Fecomercio) foi mais longe, com metodologia própria, e mapeou o que seriam os dados do IPCA separados por classe. Para a classe A, o índice subiu 9,7%. Para a B, 10,6%. Nas classes C, D e E, respectivamente, subiu 11,9%, 13,5% e 13,6%. Ou seja: quanto menos renda, mais influência percentual do aumento de preços, de acordo com a entidade
“A inflação atrapalha muito mais os pobres do que os ricos, que têm como se proteger, com aplicações financeiras indexadas ao próprio aumento dos preços. A inflação funciona como um imposto regressivo”, diz Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE), centro de estudos em Washington.
Mesmo os mecanismos de proteção contra a inflação para os mais pobres, segundo Monica, podem trazer mais prejuízos do que benefícios. Ela critica, por exemplo, o mecanismo de aumento do salário mínimo baseado na inflação passada que, diz, acaba gerando mais aumento de preços no futuro. “Você resolve o problema do dia seguinte aumentando o problema do mês seguinte”, afirma.
Para 2016, é consenso entre analistas que a inflação será menor – embora ainda exista muita divergência sobre a intensidade da queda – sobretudo pela menor pressão dos administrados, que subiram 18% em 2015. Isso ajudará as classes de menor renda, que sentem mais o peso das tarifas que dos serviços, mas os especialistas acreditam que os preços dos alimentos continuarão em alta, com forte efeito sobre a cesta de consumo dos mais pobres.
Outro aspecto que deverá contribuir para a queda na inflação em 2016 é justamente o efeito do aumento do desemprego na inflação de serviços, que foi de 8,08% no ano passado. O ajuste do mercado de trabalho começou em 2015, mas ele continuará este ano.
Monica, no entanto, é mais pessimista que a média do mercado e calcula que a inflação cairá apenas cerca de um ponto percentual em 2016. Ela lembra que as empresas não recuperaram seu caixa completamente e deve haver novas pressões por reajustes dos administrados. Além disso, segundo ela, a recessão evitou que boa parte da desvalorização do câmbio em 2015 se refletisse em aumento de preços. “Se houver uma melhora ligeira da economia, esses custos vão começar a ser repassados”, diz.
Valor Econômico – SP