Uma “tempestade perfeita de eventos econômicos lançou as empresas brasileiras no que um diretor da agência Fitch chama de “maior crise de geração de caixa em pelo menos uma década”. Segundo a avaliação da firma de classificação de risco, estrangula a saúde financeira das companhias a combinação de pouca demanda, desemprego, inflação e juros elevados, real e commodities enfraquecidos e retração no crédito. Com isso, o Brasil tem encabeçado a lista de calotes de títulos internacionais na América Latina. Em 2014, três empresas da região entraram em default, sendo duas brasileiras. Este ano, foram sete calotes de firmas brasileiras entre oito defaults na região, num total de US$ 4,5 bilhões em dívidas. METADE DO CAIXA VAJ PARA DÍVIDA O aumento na inadimplência reflete o elevado custo de financiamento, com as empresas pagando juros na casa dos 20% ao ano, e comprometimento maior do caixa com as dívidas. Para 2016, a expectativa é de um novo aumento no número de calotes. É um verdadeiro pesadelo.
Há um forte enfraquecimento na geração de caixa operacional das companhias. Olhando-se para os ratings das empresas, o que deve acontecer é um número assustador de downgrades afirmou Ricardo Carvalho, diretor-sênior da Fitch. Em 2016, a linha referente às despesas nos balanços terá uma pressão ainda maior. A agência estima que um terço das companhias brasileiras que ela monitora já gasta mais de metade de sua geração de caixa com o serviço da dívida, contra 24% no fim de 2013. Entre as empresas em situação mais crítica estão America Latina Logística (ALL), GOL, CSN, Eletrobras e Oi. Um dos fatores que influenciou o aumento da carga de dívida foi a alta dos juros. De 2013 para cá, a taxa básica Selic subiu de 7,25% para 14,25%. Algumas empresas têm alto percentual de débitos em moeda local atrelado à Selic, como CSN (93%), Camargo Corrêa (84%), Votorantim Cimentos (76%) e Usiminas (83%). Mas não foram apenas juros básicos que subiram.
A deterioração da economia como um todo também multiplicou as taxas atreladas aos riscos corporativos. Segundo Carvalho, há dois anos, uma empresa com bom perfil de crédito precisava pagar entre 1% e 3% além da Selic para o investidor que comprava seus títulos de dívida. Hoje, esse “spread” está entre 3% e 6%. O resultado é um custo financeiro de quase 20%, algo muito elevado. O crédito está mais caro. Nas linhas oferecidas pelos bancos, os critérios estão mais seletivos. A verdade é que os bancos estão operando sobre uma base muito mais restrita de concessão de crédito acrescentou. IMPACTO DA OPERAÇÃO LAVA-JATO A piora também se reflete na nota de crédito atribuída às firmas. Para 2016, a Fitch espera que o número de rebaixamentos seja dez vezes maior que o de aumentos. Nos últimos 12 meses, a relação foi de 3,6 vezes e, em 2014, de 2,5. Entre 2004 e 2013, com a economia em expansão, houve 60% menos downgrades que upgrades. Hoje, cerca de metade das empresas avaliadas pela Fitch tem perspectiva considerada negativa, contra apenas 6% com prognóstico positivo. Muitos dos calotes brasileiros foram precipitados pela Operação Lava-Jato, como no caso de Galvão Cresce calote de empresas brasileiras 12/12/2015 | O GLOBO/RIO DE JANEIRO Participações, OAS e Schahin. Não temos um número. Mas o cenário que vislumbramos para 2016 indica nível ainda maior de defaults disse Carvalho.
O Globo – RJ