06/10/2015 às 05h00 Por André Ramalho | Do Rio O grupo francobelga Engie (exGDF Suez) pretende manter o ritmo de investimentos em novos projetos no Brasil no próximo ano. O presidente da companhia no país, Mauricio Bähr, antecipou ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que a empresa tem pelo menos R$ 1 bilhão já comprometido para 2016. Ele afirmou ainda que a multinacional se prepara para um momento de transição energética no mercado brasileiro, onde espera reforçar sua presença em projetos de eficiência energética, a partir da divisão Cofely Emac. Segundo o presidente da multinacional, o portfólio de investimentos da Engie no Brasil é “bem razoável” e deve se manter elevado, mesmo com a conclusão das obras da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em 2016. “Temos investimentos já comprometidos para 2016 de pelo menos R$ 1 bilhão. Isso mantém ritmo parecido com o deste ano. O que [a usina de] Jirau deixa de representar em investimentos passa a ser substituído por Pampa Sul [termelétrica a carvão, de 340 MW, no Rio Grande do Sul]”, afirmou o executivo. Bähr destacou, ainda, a importância da construção do complexo eólico Santa Mônica (97,2 MW), no Ceará, negociado no último leilão A3, e que a Engie está de olho em novas oportunidades de investimento. “Temos coisas no pipeline [em avaliação] para o A5 de janeiro.” O executivo afirmou que por ora não há uma definição sobre a participação da empresa no leilão de Tapajós, sem data prevista para acontecer. Bähr disse que a Engie ainda está avaliando o projeto hidrelétrico e que o foco da companhia, no momento, é concluir primeiro a usina de Jirau. A estratégia de crescimento do grupo no país passa não somente pela expansão do parque gerador, como também pelo foco em projetos de eficiência energética. “Estamos enxergando uma transição energética, momento em que se pensa em não só aumentar a oferta como também mais qualidade e eficiência. A prestação de serviços nessa transição energética vai representar uma oportunidade de diversificação, crescimento e complementação das nossas atividades no Brasil”, afirmou. Em setembro, a Engie fechou com o Aracaju Parque Shopping o primeiro contrato da sua subsidiária Cofely no Brasil. A subsidiária entrou no país há dois anos, após aquisição de 51% da brasileira Emac, especializada em sistemas de refrigeração. O contrato com o shopping por desempenho energético, de dez anos, prevê a operação da central de água gelada que abastecerá o shopping sergipano. Diretor da Cofely Emac no Brasil, Philippe Roques, afirmou que a empresa estima fechar novos contratos a partir de 2016. A companhia, segundo o executivo, tem outros três acordos encaminhados e vê um espaço para captar de dois a três novos clientes por ano. Roques admite que a crise econômica tornou a meta inicial de alcançar um faturamento de R$ 150 milhões no Brasil em 2016 “um pouquinho mais difícil”, mas que o momento adverso é também de oportunidades. “Num momento de crise, a única forma de solucionar isso [queda de receitas] é diminuir os custos, buscar a eficiência”, afirmou o diretor, que relata um aumento na busca por projetos de eficiência no país este ano. O executivo cita que o custo do financiamento no Brasil é alto, mas que as barreiras para o desenvolvimento de projetos de eficiência energética no país são “basicamente culturais”. “Os clientes não sabem o desempenho dos seus equipamentos. Isso é um pouco maior no Brasil que nos países vizinhos”, compara. Roques destaca, contudo, que o fato de a eficiência não ser tão enraizada torna o potencial de crescimento da empresa no país muito alto. No Brasil, explica, a Cofely consegue trabalhar em projetos com uma faixa de eficiência de 30% a 40%, enquanto na França, por exemplo, a média é de 20%. A Cofely Emac faturou, em 2014, R$ 88 milhões, com base nas receitas de clientes incorporados com a aquisição da Emac. Este ano, a expectativa é fechar com um faturamento um pouco maior, de R$ 90 milhões. “Foi um ano muito difícil na parte da economia. Sentimos isso, mas ainda estamos em crescimento”, comentou Roques. Com faturamento global de 15,8 bilhões, a Cofely responde por 20% das receitas da Engie. No Brasil, a empresa ainda dá seus primeiros passos e representa 2% dos negócios da holding.
Valor Econômico – SP