26/08/2015 às 05h00
Por Fabiana Batista | De São Paulo
Mesmo num cenário de economia debilitada, a Rede D’Or, maior rede de hospitais do país, com as bandeiras São Luiz e D’Or, planeja investir no mínimo R$ 500 milhões nos seus projetos de expansão em 2016. Tratase do mesmo montante destinado pelo grupo neste ano. Segundo Heráclito Gomes, presidente da Rede D’Or, a companhia vem de um processo agressivo de crescimento, principalmente por meio de aquisições, e não é possível desacelerar os investimentos de uma só vez, ainda que ocorresse uma forte desaceleração no segmento de saúde. Nos últimos seis meses, foram fechadas quatro aquisições e atualmente o grupo tem cerca de 30 hospitais, distribuídos nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Recife. “Já carregamos para 2016 esse crescimento. Estamos também construindo novos hospitais e ampliando os já existentes”, disse o executivo, ressaltando que em duas semanas inicia as análises do orçamento de 2016. A estimativa de Heráclito é que o faturamento neste ano da Rede D’Or cresça 30% e atinja R$ 6,5 bilhões. “No primeiro semestre, a movimentação no nosso setor foi normal. Mas em julho e agosto, houve uma redução da demanda”, disse. Ele não acredita, no entanto, que a retração nos dois meses vá comprometer a expansão do ano. O executivo afirmou que o resultado deste ano também é efeito de um forte programa de austeridade realizado dentro da companhia e que garantiu redução de custos importantes. “Os hospitais que adquirimos estão com desempenho ainda melhor do que quando compramos”, afirmou. A Rede D’Or tende a continuar investindo também em aquisições, principalmente, porque neste ano ganhou dois sócios bem capitalizados, o fundo soberano de Cingapura (GIC) e o Carlyle, que juntos injetaram R$ 5 bilhões no grupo hospitalar. O controle continua na mãos da família Moll, que fundou o negócio e detém 60% do capital. O outro sócio é o BTG Pactual que, atualmente, possui uma participação de 15% no negócio. Mas, segundo fontes do setor, o BTG negocia com o Carlyle a venda dessa fatia. Sobre o efeito da crise econômica no ramo de saúde, Heráclito observa que os efeitos costumam demorar mais para chegar nesse setor. Antes de demitir, as empresas tendem a dar férias coletivas e, quando demitem, costumam prolongar a cobertura dos planos de saúde dos dispensados. “Se até 2016, o cenário econômico e político melhorar, a crise pode nem chegar no nosso setor”, disse. Por isso, ele não considera altamente provável que haja demissões no grupo. “Nossos maiores custos são os insumos e os medicamentos. E nessa frente, estamos conseguindo comprar bem, pois temos uma grande escala”, afirmou. Apesar do setor de saúde ser mais resiliente, o presidente da Rede D’Or Mas afirma que existe uma preocupação com o cenário econômico no país. “Se as taxas de desemprego aumentarem, certamente, menos vidas serão cobertas pela área de saúde. A queda será uma consequência natural”. Neste primeiro semestre, o mercado de planos de saúde registrou uma redução de 193 mil usuários devido ao aumento na taxa de desemprego. É a primeira queda em número de usuários em dez anos no setor. Questionado sobre que medidas de curto prazo o governo poderia tomar para estimular a volta dos investimentos, o executivo diz ver com muitos bons olhos a redução dos gastos públicos, a exemplo da extinção de ministérios anunciada na segundafeira pelo governo federal. “Esse é o caminho. Reduzir custos na máquina pública. Não vejo como positiva nenhum aumento de carga tributária”, afirmou. (Colaborou Beth Koike)
Valor Econômico – SP