26/08/2015 às 05h00
Por Vanessa Barone | De São Paulo
Há 26 anos, a grife francesa Louis Vuitton abria a sua primeira loja no Brasil: na rua Haddock Lobo, no bairro dos Jardins, em São Paulo. De lá pra cá, a relação se solidificou: hoje a marca mantém seis lojas ao todo (duas em São Paulo, duas no Rio, uma Curitiba e uma em Brasília) - incluindo um e-commerce e a primeira “global store” LV da América do Sul, no shopping Cidade Jardim. Para o presidente e CEO para as Américas, Anthony Ledru, no cargo desde janeiro deste ano, esse é um claro sinal das intenções da grife de luxo no mercado brasileiro: “nossa relação é de longo prazo.”
E é com essa frase que Ledru responde quando questionado sobre a rentabilidade das lojas, no País: “O que posso dizer é que a nossa relação com o Brasil é de longo prazo e que esse mercado continua a ser interessante e importante para nós”, afirma o executivo. “Não é uma questão de ser otimista, mas realista”, diz Ledru, em sua primeira entrevista a um veículo de imprensa brasileiro. “Nós vemos esse momento como uma oportunidade para a Louis Vuitton crescer e ganhar ‘market share’, com novas linhas, novos produtos.”
A Louis Vuitton não divulga números de vendas. De acordo com o executivo, a despeito da crise econômica e política fartamente divulgada inclusive no exterior, a grife segue investindo no País. Recentemente, reformou e reinaugurou a butique do shopping Iguatemi, de São Paulo. “Continuamos com investimentos porque é isso que uma marca de luxo precisa fazer”, afirma Ledru. Ter lojas grandes e sofisticadas, diz, faz parte da experiência que a Louis Vuitton quer passar aos seus consumidores.
E experiência é algo que o consumidor da grife valoriza, diz o CEO. “Há três coisas que os nossos clientes brasileiros exigem: sofisticação, exclusividade e relacionamento”, afirma Ledru. Segundo o executivo, além do apego às peças mais requintadas da marca, o cliente local quer ter a certeza de que o mix de produtos é igual ou melhor do que ele encontraria nas lojas de Nova York e Paris. E isso, muitas vezes, ocorre: “Nas lojas brasileiras há peças que não são vendidas nos Estados Unidos, por exemplo.” Vale citar os casos da mesa de pebolim e da bolsa Montaigne de couro de avestruz roxo: exclusividades da Louis Vuitton para o mercado brasileiro.
“Esse é um País de extremos: basta ver a quantidade de helicópteros que sobrevoam a cidade de São Paulo ou o tamanho do mercado de jatos particulares”, afirma Ledru. “Isso mostra como a sofisticação e até a extravagância precisam fazer parte do que é oferecido aos consumidores - principalmente para os paulistas.”
Por conta disso, afirma o executivo, a questão da equiparação dos preços entre as butiques daqui e as dos outros mercados da LV tem menos relevância. “Nós não controlamos os preços e não podemos atuar na flutuação cambial”, diz Ledru. Para o CEO, o que realmente importa ao cliente local é a combinação de artigos de primeira e serviço atencioso. Isso basta para convencê-lo a comprar aqui.
“Os clientes gostam de ser aconselhados e de ter tempo para decidir”, afirma. Por conta disso, não basta ser um vendedor: quem trabalha nas butiques da grife, no Brasil, têm outro perfil. “São profissionais que conhecem bem os hábitos dos clientes e funcionam como conselheiros”. O relacionamento mais estreito entre cliente e vendedores, diz Ledru, é algo cultural, que se repete em outros lugares da América Latina e também na Itália.
Na receita da Louis Vuitton para um casamento feliz entre grife e consumidor não há espaço nem mesmo para infidelidades. “É um grande desafio para as grifes de luxo se fazer presente na cabeça do consumidor”, afirma. Até porque, atualmente, a palavra ‘luxo’ é usada para definir muitas coisas - de café a hoteis. Para o executivo, é preciso relembrar o que isso realmente significa. “Luxo envolve trabalho artesanal que passa de geração para geração, envolve história, tradição, envolve tempo coisas que marcas jovens não podem comprar”, diz Ledru.
O fator atualização também é essencial. Mesmo ainda sendo relacionada com o universo dos acessórios para viagens, a grife conseguiu ser bem sucedida explorando outros territórios, diz o CEO. “Lançamos outras categorias de produtos hoje temos até óculos e joias o que mostra que não tememos correr riscos”, afirma. É assim que se mantêm relevantes. “Nós começamos em 1854, somos uma marca de luxo, não uma tendência passageira.”
Valor Econômico – SP