26/08/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
Abilio Diniz, membro do conselho de administração do Carrefour Brasil e presidente do conselho da BRF, disse ontem entender que a crise do país é muito mais política do que econômica e que “o momento atual não é, nem de longe, o pior momento do Brasil”, mas ressaltou que há uma “enorme crise de ceticismo no país”, e que “os investimentos estão atravancados”. “Há uma crise de confiança de grandes proporções e o setor privado não está investindo, mas se empresários se unirem e voltarem a investir, a coisa muda”, afirmou. “Quando acabar a crise política, eu garanto que sairemos disso com relativa facilidade”, disse a centenas de empresários e executivos durante o evento Latam Retail, promovido pela consultoria GS&MD. Minutos antes, fez uma análise crítica da situação da China, que tem tomado medidas como corte de juros e compulsórios, e gerado incertezas no mercado. “O governo chinês não divulga muito o que está acontecendo, e fui para lá trabalhar pelo Carrefour, e de fato a China está sofrendo um tranco e a dúvida é se a aterrissagem vai ser ‘soft’ ou mais barulhenta”, afirmou ontem, após a “Black Monday”, a segundafeira em que todos os principais mercados fecharam em forte queda. “Olhando o momento, a fotografia, a situação é difícil, mas a China continua um mercado altamente promissor para BRF e Carrefour e vamos continuar investindo lá”. Sobre suas experiências, o empresário disse que aprendeu a não ficar “reclamando” em períodos mais adversos, ou em “tentar achar um culpado, se fazendo de vítima”. “A primeira coisa que aparece numa crise é o espírito de sobrevivência. Tem que olhar para o lado e não ficar só olhando o bico do seu sapato. Eu sempre cresci na crise. Se você está fragilizado, com dificuldades de agir, mas estiver minimamente preparado pode se sair melhor disso. Na crise de 2008, eu estava no Pão de Açúcar e decidimos ‘sentar no caixa’. Ao fim de 2009 tínhamos dobrado de tamanho [o grupo usou recursos e adquiriu Ponto Frio e Casas Bahia]”. “No início de 2015, eu dizia na BRF que parecia que ia acontecer uma crise e se acontecesse mesmo, seria má notícia para nossos concorrentes [..] Crescemos na BRF e no Carrefour porque decidimos vender lenço e não chorar na crise. Hoje sou um vendedor de frangos e de lenços”. O empresário tem 12% das ações do Carrefour Brasil, 5% do Carrefour no mundo e fatia de pouco menos de 3% na BRF. Ele fez uma análise do país nas últimas décadas, ressaltou ganhos da era Lula, porém disse que nos últimos anos, “as coisas começaram a andar de lado”. “Mas na minha visão, os fundamentos da economia são sólidos, claro que está muito difícil, mas são sólidos”. Sobre corrupção, disse que “ela tem que ser atacada”, porém ressaltou que “não é só o Brasil que vive esse problema”. A respeito da busca da governabilidade no país, falou na necessidade de união dos setores. “É preciso união, se não somarmos, não vai”. Questionado por jornalistas sobre como recebeu a informação de que um tribunal arbitral foi favorável a Lily Safra no caso da venda do Ponto Frio (Lily era controladora da rede) Abilio se disse surpreso. O Grupo Pão de Açúcar (GPA) deve ter que pagar R$ 212 milhões à Lily. “Não tenho nada a ver com isso, não posso dizer nada, mas fiquei surpreso. É uma coisa que o grupo ganharia com facilidade”. Abilio evitou comentar possível interesse em ampliar sua fatia no Carrefour no mundo, assim como o processo de avaliação de suas 62 lojas alugadas ao GPA. “A Península está olhando para isso”.
Valor Econômico – SP