Se o surfista tivesse ficado desesperado, tinha morrido; ele foi lá e bateu no tubarão; temos de enfrentar o tubarão
NIZAN GUANAES
Acordo todo dia antes das sete da manhã. Gosto de trabalhar. Sempre gostei. Trabalho muito. Se numa crise o líder segue trabalhando igual, não corta os próprios custos, não foca produtividade e processo, quem vai acreditar que tem uma crise?
Mas não adianta desesperar. O desesperado morre afogado. Se aquele surfista do tubarão tivesse ficado desesperado, tinha morrido. Ele foi lá e bateu no tubarão. Nós temos de enfrentar o tubarão.
O dinheiro sumiu dos lugares onde tradicionalmente estava ou diminuiu. No caso do meu setor, a crise é menor no middle market, e há muitas novas empresas surgindo pelo Brasil.
Eu nunca viajei tanto. Tem uma aeromoça da TAM que acha que eu sou artista porque me vê sempre sentado no assento 11D, que tem mais espaço para a perna. Mas viajo mais é na Azul, porque só a Azul voa para alguns dos lugares que tenho ido.
Sabe aqueles lugares do Brasil que o Brasil tradicionalmente esnobava? Ah, meu amigo, vá procurar a crise onde tem Sicredi. Vá a Luiz Eduardo Magalhães, na fronteira da Bahia. Dá uma olhada no grupo Ale na “Maiores e Melhores”. Já ouviu falar no grupo Iron House, de Pernambuco? Da água de coco Obrigado, na Bahia?
Eu não sou Poliana. A crise é brava, é dura, mas temos de ser mais duros e inteligentes do que ela.
Uma das ferramentas que ajudam muito a gerir tudo isso, pois há muito a fazer e só 24 horas no dia, é o WhatsApp. Como nosso grupo tem mais de 3.000 pessoas e várias empresas, não dá para ficar o tempo todo em reunião. Por isso, em cada empresa, faço um grupo no Whats- App e vou acompanhando tudo on-line e em tempo real. É incrível como funciona. O WhatsApp é a melhor sala de guerra da crise.
É fundamental também ter visão setorial. Não dá para cuidar só do seu próprio negócio. É preciso cuidar do seu setor. Mais do que nunca, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.
E a propaganda pode ajudar muito numa crise. O Brasil tem um dos melhores parques publicitários do mundo. Em São Paulo, no Rio, em todas as regiões, a publicidade brasileira produz uma das melhores propagandas do planeta. As empresas brasileiras vão precisar da ajuda dessa criatividade para vender mais com menos verba.
Por isso, aonde eu vou, eu falo de nossas empresas e falo também de empresas que me inspiram, como a Almap, de Marcello Serpa, o Banco de Eventos, de José Victor Oliva, a TV1, de Sergio Motta Melo, a GAD, de Porto Alegre, a Ampla, do Recife. Enfim, agências de gente guerreira e competente que fará a diferença e ajudará a sair deste momento difícil.
Tenho também focado muito a gestão de nossos talentos. Nessas horas, precisamos de Silvio Santos e Faustão em nossas organizações. Temos de ser verdadeiros animadores. Espalho mensagens anticrise até nos banheiros. Celebro cada miniconquista. Porque senão a gente fica todo dia celebrando a crise.
Para fazer tudo isso, é preciso trabalhar ainda mais. Mas a hora do almoço é sagrada. Eu vou fazer ginástica, almoço no escritório e volto renovado para a luta.
Trabalhar é gostoso. Sobretudo quando se ama o que faz. Eu amo muito o que faço. E só gosto de trabalhar com quem gosta de trabalhar e ama o que faz. Na minha churrascaria, não aceito vegetarianos.
Esta coluna está sendo finalizada às 7h09 da manhã. Bom dia, crise. Vamos à luta. Vamos pra cima do tubarão.
NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
Folha de S. Paulo – SP