POR ANA PAULA RIBEIRO
19/07/2015 22:00
SÃO PAULO – Economia fraca, tendência de aumento de desemprego e inflação em alta. Esses três fatores fazem com que o consumidor pense duas vezes antes de ir às compras. Em geral, as primeiras vítimas são, portanto, as empresas ligadas ao setor de consumo. Mas o desempenho de algumas dessas companhias na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) mostra que alguns produtos não saem do carrinho de compras, o que pode ser uma oportunidade para quem investe em ações.
A RaiaDrogasil é uma das empresas que faz parte desse grupo que, mesmo em um cenário de crise, está se saindo bem. As ações da companhia acumulam no ano uma alta de 70,2% a título de comparação, o índice Ibovespa sobe apenas 6,1%. A razão é simples: por mais que a situação esteja difícil, medicamento é um dos últimos itens a serem cortados da lista de compras. Além disso, o envelhecimento da população também estimula a maior demanda por remédios.
A RaiaDrogasil é líder com uma fatia de 7% do mercado, ou seja, ainda há espaço para crescer. É uma empresa que tem capacidade de expansão e, neste momento, é interessante, já que a desaceleração econômica deixa o custo de abertura de uma unidade menor afirma Luis Gustavo Pereira, analista chefe da Guide Investimentos.
CARÁTER DEFENSIVO AJUDA
Essa possibilidade de crescimento é o que faz com que a empresa esteja em uma série de carteiras recomendadas pelas corretoras, mesmo não sendo integrante do Ibovespa, o índice de referência da Bolsa. A BB Investimentos é uma das instituições que recomenda a RaiaDrogasil em sua carteira mensal.
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Já existe a expectativa de que, em algum momento, o papel passe a fazer parte da carteira teórica do índice, o que pode aumentar a demanda e o volume de negócios dessas ações. A analista Maria Paula Cantusio ressalta que a valorização recente já deixou o papel um pouco caro, mas considera que esta ainda é uma boa opção para quem procura investimentos de longo prazo. Para ela, a companhia tem um caráter defensivo, ou seja, consegue crescer mesmo em momentos difíceis.
Essa característica também está presente nas Lojas Renner, se descolaram muito do comportamento de suas concorrentes e acabaram se tornando uma empresa com características defensivas. E, apesar da crise, não há perspectiva de desaceleração relevante em suas vendas explica a analista.
De olho nessa manutenção das receitas, os papéis da empresa já subiram 52% em 2015.
Outras companhias com comportamento mais discreto no ano também estão no radar dos especialistas. É o caso da Hypermarcas, que detém marcas de bens de consumo e medicamentos. Na expectativa de Maria Paula, as ações da empresa podem chegar em dezembro a R$ 24,30, o que significa uma valorização de 12,6% em relação à cotação da semana passada.
Outra com potencial de valorização são as Lojas Americanas. Embora não esteja atrelada a bens essenciais, os analistas avaliam que o varejo especializado em produtos de baixo valor sofre uma desaceleração nas vendas inferior à das empresas que trabalham com itens de maior valor, como as redes de eletrodomésticos. Nos cálculos do BB, as ações das Lojas Americanas podem chegar a R$ 19,50 no fim do ano, um incremento de 7,6%.
Celson Placido, estrategista chefe da XP Investimentos, também avalia que as Lojas Americanas podem ser menos afetadas. Além de os produtos da rede não serem de valor elevado, ele lembra que, por não se tratar de uma franquia, a adequação dos itens ao perfil dos clientes de cada região é feita de maneira rápida, o que também ajuda na geração de caixa.
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Ninguém vai deixar de comprar um item de baixo valor, mesmo não sendo essencial. Além disso, diferentemente de outras varejistas, as Lojas Americanas, e também a Renner, não são uma franquia. Isso dá uma melhor margem de manobra avalia.
BAIXA CONCORRÊNCIA É POSITIVO
Mas, apesar de concordar que algumas empresas ligadas ao setor do consumo têm potencial de se destacar, Placido alerta que o cenário econômico está muito indefinido, por isso é preciso cautela na escolha das ações. Na área de consumo, sua escolha é a Ambev. Segundo ele, a empresa tem uma boa estrutura de caixa e baixa concorrência, o que a torna resiliente para enfrentar momentos de crise. Além disso, é uma boa pagadora de dividendos.
Já o Grupo Pão de Açúcar não encontra unanimidade entre os analistas. Embora alimentação não seja um item a ser cortado do orçamento em caso de crise, há sempre uma substituição por produtos mais baratos. E a companhia, além das redes de supermercados, tem a Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio), que são mais afetadas pelo cenário de desaceleração econômica e maior dificuldade de acesso ao crédito.
O Globo – RJ