01/06/2015 | 09:54 – Atualizado em: 01/06/2015 | 10:47
Sob a bandeira da inovação aberta, gigantes de diferentes segmentos tradicionais da economia estão investindo na aproximação com empreendedores e companhias novatas, por meio de concursos, premiações e programas de incentivo
No mercado de tecnologia, a associação entre grandes companhias e start-ups é uma prática comum e que há anos alimenta o ciclo de inovações do setor. Agora, essa mesma abordagem começa a ganhar força muito além do mundo dos bits e bytes. Sob a bandeira da inovação aberta, empresas de grande porte de diferentes segmentos tradicionais da economia estão investindo na aproximação com empreendedores e companhias novatas, por meio de concursos, premiações e programas de incentivo.
Quando as empresas atingem um grande porte, é difícil conseguir enxergar todas as oportunidades de mercado, pois elas naturalmente se tornam mais burocráticas e lentas, diz Renata Chilvarquer, diretora de Educação Empreendedora da Endeavor, organização sem fins lucrativos de apoio ao empreendedorismo. Essas companhias estão começando a enxergar o valor da inovação aberta e da interação com a cadeia de empreendedorismo, pois essa é uma alternativa que permite acessar as principais tendências do mercado, sem necessariamente precisar investir e correr grandes riscos, afirma.
A Braskem é uma das empresas que está iniciando essa jornada. A companhia acaba de lançar um programa para incentivar o desenvolvimento de projetos sustentáveis em segmentos como saúde, moradia e mobilidade. O ponto em comum é a busca por novas aplicações que tenham como base o uso do plástico. Batizado de Braskem Labs, o programa é voltado aos projetos de pequenos empresários, e de alunos, professores e pesquisadores das universidades. Nós enxergamos a possibilidade de apoiar projetos que não priorizamos no nosso fluxo normal de inovação, e de estimular ideias que casam o impacto socioambiental com a abertura de novos mercados para o plástico, diz Patrick Teyssonneyre, diretor de Inovação da Braskem.
Para fazer a ponte com esse mundo relativamente novo, a Braskem escolheu como parceira a Endeavor. O programa vai selecionar vinte projetos, que passarão por mentorias com profissionais da Braskem e da Endeavor. Posteriormente, essas ideias serão apresentadas em um evento que reunirá diversos elos das cadeias de plásticos e empreendedorismo. Vamos dar acesso a uma rede de empresas do setor, além de instituições de ensino e pesquisa, e de fundos de investimento, diz André Leal, líder de Responsabilidade Social da Braskem. Dois projetos serão selecionados e continuarão a receber o apoio da companhia. Será muito mais um aporte intelectual e de relacionamento com a cadeia. Não descartamos um aporte financeiro. Mas esse não é o foco, explica.
A sustentabilidade também dá o tom da entrada da Dow nesse universo. O Brasil foi escolhido para ser a ponta de lança de um concurso de apoio a novos projetos em áreas diretamente relacionadas aos negócios da companhia, como alimentos frescos; agricultura; segurança hídrica; e produtos químicos renováveis. Temos muitas universidades e pesquisadores de qualidade no Brasil, mas a conexão desse universo com a indústria ainda é limitada, diz John Biggs, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Dow. Na área de renováveis, por exemplo, o país tem uma ótima alternativa de custo e disponibilidade na cana-de-açúcar. Temos boas parcerias nessa frente, mas queremos mais, afirma o executivo.
Os projetos serão apresentados a um júri formado por profissionais da Dow, parceiros comerciais e instituições de fomento, como a Finep, além de representantes da Dow Venture Capital, braço de investimentos da companhia. A projeção é selecionar de seis a 12 ideias, diz Biggs. A partir dessa escolha, a empresa estará aberta a diversos formatos de parceria com esses empreendedores, o que inclui desde o compartilhamento de sua infraestrutura de pesquisa até a compra de participação acionária, por meio da Dow Venture Capital.
As possibilidades de associação também são amplas no programa global desenvolvido pela Saint-Gobain, que está aberto à participação de start-ups brasileiras, com foco em áreas como construção civil, meio ambiente e eficiência energética. Além de premiações de US$ 50 mil, US$ 25 mil e US$ 15 mil para os primeiros colocados, todos os participantes serão analisados pela Nova External Venturing, divisão voltada à inovação aberta da companhia. A Nova avalia os projetos e identifica quais áreas de negócios da Saint-Gobain podem se interessar por aquela start-up, diz Paul Houang, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Saint-Gobain. A partir daí, as parcerias podem envolver desenvolvimento, produção, marketing e distribuição e mesmo aquisições, explica.
Segundo o executivo, essa abordagem de colaboração traz benefícios para os dois lados da parceria. A Saint-Gobain é muito forte financeiramente e na distribuição. Por outro lado, por conta desse porte e das nossas diversas áreas de negócios, não conseguimos capturar todas as oportunidades do mercado. As start-ups são muito mais ágeis para inovar, afirma.
O Itaú Unibanco é mais um exemplo dessa troca entre grandes corporações e o mundo das start-ups. Em parceria com o fundo de investimentos Redpoint e.ventures, o banco anunciou nesta semana o investimento em um centro de empreendedorismo em São Paulo. Estamos nos aproximando de um mercado que futuramente poderá contribuir direta ou indiretamente para servir melhor nosso cliente, diz Erica de Carvalho Jannini, superintendente da área de canais de atendimento da instituição. Batizado de Cubo e previsto para setembro, o centro irá abrigar até 50 empresas novatas em uma estrutura de 5 mil metros quadrados, no modelo de coworking. Entre outros recursos, o local contará espaços multidisciplinares, profissionais de mentoria e eventos, além do acesso às redes de relacionamento das duas parceiras na empreitada. Apesar de não ser o objetivo principal, haverá possibilidade de o Itaú investir nas start-ups, bem como realizar parcerias em diferentes formatos, diz Erica.
Brasil Econômico on-line – SP