28/05/2015 às 05h00
Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
Quando completar 60 anos de fundação, em 4 de junho, a fabricante de calçados femininos Piccadilly também irá concluir a passagem do comando executivo da segunda para a terceira geração da família controladora. No total, são sete sucessores, incluindo dois representantes de acionistas minoritários que já trabalhavam há anos na empresa. Eles, agora, assumem definitivamente a tarefa de tocar os negócios após dois anos de transição apoiada por uma consultoria em governança familiar. A conjuntura econômica complexa com incertezas no mercado interno, apesar das boas expectativas para as exportações com o dólar valorizado , acrescentou um ingrediente novo ao processo. “Quando começamos, há dois anos, não sabíamos que chegaríamos em 2015 com estas dificuldades, mas confiamos neles e mantivemos o planejado”, disse o presidente Paulo Grings, 62 anos, que passará o cargo para a sobrinha Cristine Grings Nogueira, 34 anos. “O primeiro semestre está bem desafiador”, diz Cristine. Mesmo assim, a companhia espera atingir alta real de 4% a 5% em relação à receita de R$ 386 milhões apurada em 2014, puxado em boa medida pelo mercado externo. Os primeiros cinco meses, de acordo com Grings, mostraram que o quadro está “menos ruim do que estavam pintando” e a produção praticamente empatou com a do mesmo período do ano passado. A sede da empresa fica em Igrejinha (RS). Segundo ele, houve uma redução no ritmo de vendas depois do Dia das Mães, mas esse movimento mostrou recuperação na semana passada. O portfólio da empresa inclui sapatilhas, sandálias, sapatos e botas femininas vendidas no varejo entre pouco menos de R$ 100 e R$ 300. A Piccadilly pode produzir até 10 milhões de pares por ano em sete fábricas no Rio Grande do Sul e está rodando a 75% da capacidade instalada. Nas exportações, a Piccadilly projeta expansão, a partir de agora, com o lançamento das coleções primaveraverão para o hemisfério Norte com preços entre 8% e 10% menores em dólar ante igual período do ano passado. A redução da tabela deveuse à sustentação da moeda americana acima de R$ 3 nos últimos meses e deve permitir um aumento da participação das vendas externas para 30% das receitas em 2015, ante 25% em 2014. A empresa exporta para 90 países e em nove deles os importadores mantêm 31 lojas exclusivas da marca, número que deve chegar a 35 ou 36 unidades até o fim do ano com novas lojas previstas nos Estados Unidos e na América Central. Até na Argentina, que nos últimos anos reduziu as compras de 1,2 milhão para 400 mil a 500 mil pares por ano, a expectativa é positiva com a oferta de uma linha de financiamento para os importadores pelo banco Patagonia, controlado pelo Banco do Brasil, disse Paulo. Filho do fundador Almiro Grings, já falecido, Paulo deixará o posto que ocupa desde 1996 e assumirá a presidência do conselho de administração, a ser criado também no dia 4. Ele ocupará essa função ao lado do irmão Adair, de 68 anos, que até 2014 era diretor administrativo e financeiro, e de outros dois conselheiros profissionais em fase final de contratação. O terceiro irmão, Tibúrcio, de 65 anos, deixou de participar da gestão em 2012, mas segue como acionista. Os três núcleos da família dividem entre si cerca de 92% do controle da Piccadilly. A turma que assume o comando tem entre 29 e 39 anos de idade e de cinco a 25 anos de casa. Cristine é filha de Tibúrcio e até agora era vicepresidente e diretora de marketing. O grupo inclui ainda três filhas de Paulo: Ana Carolina, que assume a vicepresidência, Ana Paula, nova diretora administrativa e financeira, e Ana Clara, que será a diretora de vendas. Josué Leandro Kunst assume a diretoria de compras, que até 2013 era ocupada pelo pai, Luiz Edson, primo e sócio dos irmãos Grings. Marlon Almiro, filho de Adair, permanece como diretor industrial ao lado de Renato Klein, único que não tem relação de parentesco com os demais e representa a outra família de acionistas minoritários.
Valor Econômico – SP