25/03/2015 às 05h00
Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
Enquanto alguns choram, outros vendem lenços. As redes de franquias brasileiras escolheram a segunda opção em 2015, de acordo com Cristina Franco, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A entidade espera um avanço no faturamento do setor entre 7,5% e 9%, além de incremento de 8% no número de marcas e de 9% a 10% em volume de unidades. “Embora os percentuais pareçam altos diante dos demais índices econômicos, são viáveis, se levarmos em conta 2014, um ano difícil para o país”, afirma. No ano passado, as franquias movimentaram R$ 127,3 bilhões, 7,7% acima de 2013, somando 125.641 unidades e 2.942 redes franqueadoras. Tal performance coloca o Brasil na quarta posição do ranking mundial do World Franchise Council (WFC) em número de marcas e na sexta em volume de unidades. Na outra ponta, as redes registraram baixo índice de fechamento. Levantamento feito pela ABF revela que a mortalidade no sistema de franquias foi de 3,7% em 2014, enquanto os negócios tradicionais atingiram 24,9% em um período de dois anos, segundo o Sebrae. Fazer mais com o mesmo é o principal desafio das redes brasileiras, na visão do consultor Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto. “Assim como fez o mercado americano após a crise de 2008, o momento é de muito trabalho, profissionalismo e aprimoramento da gestão para extrair da cada unidade o máximo que ela possa render”, afirma. “É preciso melhorar processos, manuais, ferramentas de gestão e a qualidade das consultorias de campo, a fim de que os dados apurados nos indicadores sejam analisados de forma qualitativa e garantam uma tomada de decisão ágil e eficiente.” O consultor observa, ainda, que nos últimos anos o país passou por um período de abundância, quando era permitido tropeçar. Hoje, ao contrário, ninguém será perdoado se não acompanhar a gestão muito de perto. Ciente de que os dias não serão fáceis, a rede de franquias Mr. Beer começou a trabalhar em 2014 sobre três pilares: maior capacitação das pessoas, a fim de ganhar eficiência operacional nos processos, com ênfase na gestão financeira& 894; diagnóstico do ponto de venda, com um acompanhamento mais individualizado do custo operacional de cada unidade e, por último, ações comerciais diretamente ligadas ao aumento do faturamento. “Paramos para arrumar a casa, colocando o pé no freio na expansão mais agressiva”, admite o franqueador Fabiano Wohlers. No olhar mais detalhado, a franqueadora percebeu, por exemplo, que algumas unidades gastavam R$ 350 com serviços de contador e outras R$ 1.300, o que comprometia os resultados. A ordem foi operar com uma média de R$ 500. O mesmo procedimento foi feito em relação aos custos de locação, eficiência da mão de obra e com possíveis desperdícios em toda a operação. “Procuramos firmar novas parcerias com uma única operadora de máquina de cartão para toda a rede, reduzindo a taxa de administração em 2,2%& 894; passamos a ser o importador direto do negócio, o que diminuiu o custo da mercadoria vendida, além de criar o Programa Fidelidade Mr. Beer, em parceria com uma empresa conceituada do mercado, com mais de 12 milhões de CPFs cadastrados”, afirma Wohlers. A rede espera fechar o ano com 110 unidades (30 acima de 2014) e faturamento 10% maior, de R$ 66 milhões Mais do que olhar os detalhes com atenção, a rede de alimentação Patroni Pizza, com cerca de 200 lojas e faturamento de R$ 335 milhões em 2014, desenhou novos modelos de franquia. O objetivo é ganhar outros endereços fora da praça de alimentação dos shoppings e ocupar espaço em cidades menores. “Nos últimos dois anos já sentíamos uma certa desaceleração e a demanda de candidatos a franquia com disponibilidade para investir entre R$ 150 mil e R$ 200 mil, 50% menos do valor de uma unidade convencional”, observa o franqueador Rubens Augusto Júnior. Atenta ao novo momento, a rede criou a Patroni Expresso, nas versões loja (30 m2 ), quiosque (15m2 ) e food truck. A modalidade, ideal para áreas de grande tráfego de público, como metrô, rodoviárias, faculdades e centros comerciais, conta, também, com um cardápio diferenciado à base de pizza fatiada, café, sorvete e sanduíches. A primeira unidade abriu em novembro, outras oito estão em fase final de montagem e até dezembro a estimativa é que 50 estejam em atividade, a um custo médio de R$ 150 mil, em comparação a R$ 450 mil da loja convencional. Além disso, a rede está inaugurando o novo Centro de Distribuição em Recife (PE), que reduzirá o valor do frete no Norte e Nordeste, além da diminuição do prazo de entrega dos produtos de sete para dois dias. “O desafio é continuar crescendo 20% ao ano, embora o setor de alimentação tenha uma peculiaridade: quando há crise na economia é o último a se abater e o primeiro a se reerguer”, afirma Augusto Júnior. Um dos segmentos mais disputados dentro e fora do franchising, a alimentação fora do lar é apontada, ao lado dos serviços, educação e cuidados com saúde e bemestar, como uma das áreas que tendem a se manter estáveis, ainda com boas chances de crescimento, mesmo com conjuntura adversa. Segundo estudo da ABF, negócios, serviços e outros varejos respondem por 21% do faturamento do setor, seguido por alimentação, responsável por 20,1% e esportes, saúde, beleza e lazer, com 18,3%. Embora casa e construção tenha sido o terceiro segmento que mais cresceu no franchising no ano passado, 17% em relação a 2013, as estatísticas revelam que a construção civil tende a pisar no freio em 2015. Miguel Pierre, sócio da Escola Concretta, rede especializada em capacitação para o mercado de construção civil com 28 unidades e faturamento anual de R$ 18 milhões, percebeu que era preciso se mexer. “Decidimos oferecer um modelo de escola mais barato, para cidades abaixo de 150 mil habitantes.”
Valor Econômico – SP