Por Fernanda Guimarães e Monica Scaramuzzo | A rede de supermercados St Marche, controlada pelo fundo de private equity (que compra participação de empresas) L.Catterton, entrou em fase de negociação exclusiva para a aquisição da Hortifruti Natural da Terra, apurou o Valor. A companhia é controlada pela Americanas, varejista em recuperação judicial desde janeiro deste ano, quando se tornou público um rombo contábil de mais de R$ 20 bilhões. A dívida da Americanas é de R$ 42,5 bilhões.
A venda da Hortifruti Natural da Terra deverá ficar em torno de R$ 700 milhões, disse uma das fontes, que falou em condição de anonimato. A negociação exclusiva teria começado na semana passada, disse uma das fontes.
A St Marche tem conversado com bancos para levantar financiamento e bancar a transação, disse uma das pessoas a par do assunto. No mercado financeiro, o entendimento é que a operação depende desse financiamento, ainda está em discussão.
Fontes do setor afirmam que a aquisição da Natural da Terra pode ser complementar para a operação da St Marche. Esta tem 31 lojas e a Hortifruti Natural da Terra, 75. A bandeira Hortifruti é mais concentrada no Rio de Janeiro. E Natural da Terra e St Marche, na cidade de São Paulo.
As mesmas fontes veem certa dificuldade no financiamento. Um ponto que pode dificultar o processo, de acordo com interlocutores, é o fato da Natura da Terra já ter sido integralmente incorporada à rede Americanas.
A Natural da Terra foi comprada pela varejista em 2021. Nessa época a Americanas saiu às compras para diversificar sua operação. O valor do cheque, de R$ 2,1 bilhões, foi considerado salgado. A venda agora será feita via Unidade Produtiva Isolada (UPI), dentro da recuperação judicial. Esse formato garante que o comprador não seja responsabilizado por contingências da Americanas, o que daria certo conforto ao novo dono.
A Americanas teve de colocar à venda ativos para ajudar a compor os recursos que serão necessários para ajustar sua estrutura de capital, sendo essa também uma das exigências dos credores.
A empresa também buscou comprador para a Uni.Co, dona das marcas Imaginarium e Puket, mas tirou a operação da mesa por não ter recebido propostas apropriadas. O Citi foi mandatado para buscar compradores para os ativos não estratégicos do grupo.
O processo de recuperação judicial da Americanas já dura pouco mais de nove meses. Após meses de negociação com os credores, em especial os bancos, um acordo parece estar próximo. A companhia divulgará seu balanço referente ao ano de 2022 em 13 de novembro, cerca de duas semanas de atraso em relação à data inicialmente divulgada (31 de outubro).
Com o balanço auditado e publicado, a expectativa é de que seja assinado um acordo, no qual os acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – se comprometem a injetar R$ 12 bilhões na Americanas, sendo que R$ 2 bilhões disso são referentes a um empréstimo já feito, na modalidade debtor-in possession (DIP). Os bancos, por sua vez, converterão o mesmo valor (R$ 12 bilhões) da dívida em ações, processo que ao ser finalizado os tornará acionistas da companhia.
Procuradas, Americanas e St Marche não comentaram.
Fonte: Valor Econômico