Por Adriana Mattos | O Grupo Alfa vendeu a rede C&C (Casa & Construção) para a Arcos Gestão e Investimento (AGI), empresa formada por ex-executivos da Legion Holdings, e que atuaram na reestruturação das redes Leader e Casa & Vídeo.
A transação com a C&C foi concluída no fim do mês passado e, segundo fontes ouvidas nesta segunda-feira (9), girou em torno de R$ 400 milhões. A companhia confirma a venda, mas não informa valores. A Legion Holdings é a empresa de investimentos de Fábio Carvalho, e informa que não tem relação com essa operação.
Pouco conhecida no varejo brasileiro, a AGI, criada em 2020, tem entre seus diretores André Peixoto, Leonardo Macedo e Wallace Henriques, que deixaram a Legion para se concentrarem em investimentos que não estavam mais no foco de Fábio Carvalho. Esta é a primeira grande transação da AGI desde a sua formação.
Wallace Henriques foi diretor financeiro da Leader e André Peixoto, ex-sócio na Legion, recebeu a Leader das mãos da holding de Carvalho em 2020, numa operação por valor simbólico, pouco antes de a varejista pedir recuperação judicial. Peixoto foi CEO da Leader, loja departamento com itens de moda, cama, mesa e banho.
O BTG Pactual assessorou os donos da C&C na venda, e a Prisma Capital, gestora fundada por Marcelo Hallack, João Mendes e Lucas Canhoto, trabalhou como assessora financeira da AGI, e pode se tornar uma espécie de parceira da AGI no negócio, diz em nota a C&C.
A rede afirma que a Prisma continuará a oferecer “apoio” para a C&C, “trazendo uma visão técnica e complementar, além de fornecer soluções financeiras e de capital”, sem detalhar que soluções seriam essas. “Onde houver oportunidades que faça sentido com o perfil, a Prisma irá avaliar, mas não há nada estruturado neste momento”, diz uma fonte a par do tema.
A Prisma opera com foco em operações mais estruturadas e sofisticadas para empresas, parte delas em dificuldades e com maior risco, e foi fundada sob o modelo de “partnership” em 2017. Ainda faz investimentos em variadas classes de ativos e papéis, mas não tem grande apetite pelas operações de varejo no país, com base na carteira atual.
Com receita projetada de cerca de R$ 1 bilhão para este ano, apurou o Valor, a C&C não tem problemas relacionados a alta alavancagem, mas em relação ao modelo de negócio. Parte do foco da nova gestão daqui para frente terá que se voltar para esse trabalho.
Já estava em andamento um plano de reestruturação da empresa neste ano, pela Galeazzi & Associados, mas apenas a primeira fase foi concluída. A Galeazzi não está mais na companhia.
As conversas com a AGI nos últimos meses ocorreram paralelamente ao processo inicial de reorganização. Na metade do ano, eram 36 lojas, e hoje são 28, além de dois centros de distribuição. “Eles precisam mudar o modelo para lojas menores e para outro sistema de distribuição. É um negócio com margens muito baixas e o setor está sofrendo muito”, diz uma fonte a par da reestruturação.
Pelo menos desde 2019, existiam informações no mercado sobre a venda ou fusão da C&C com empresas do setor, mas as conversas não passavam de sondagens de bancos de investimento, em parte pela decisão dos controladores do Grupo Alfa de manter o ativo.
O empresário Aloysio de Andrade Faria, fundador do Grupo Alfa, preferia recuperar a operação antes de buscar compradores, diziam fontes na época, e após a sua morte, em 2020, as herdeiras passaram a analisar a possibilidade de se desfazer de alguns negócios, como a C&C.
Ao longo deste ano, quando a busca por comprador se intensificou, não houve grande interesse no ativo por parte de fundos de private equity e de varejistas do setor. Na prática, desde o período em que Faria liderava o grupo, havia pouca abertura para negociações pelos resultados pouco animadores do varejo da construção no Brasil, e pelo fato de ser um segmento muito suscetível a variações de taxa de juros e aos investimentos das grandes construtoras.
Como o varejo de eletrônicos, trata-se de um comércio de tíquetes de compra elevados, e que depende de financiamento, algo que encareceu após a subida da Selic.
Nos últimos 12 meses, o varejo da construção tem queda de 5,8% no volume de vendas, segundo o IBGE. Neste ano, o recuo é de 3,1%. Ontem, a Abramat, associação da indústria de materiais da construção, informou que, de janeiro a setembro, a receita caiu 2,2%.
Fonte: Valor Econômico