Por Paulo Gratão | Faz quase um mês que o mercado foi surpreendido com a notícia da compra do Grupo CRM, dono da Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee, pela multinacional Nestlé. O negócio estava em tratativas finais quando se tornou de conhecimento público e foi selado na madrugada do feriado de 7 de setembro. A transação aguarda a aprovação do Cade e deve ser concluída em 2024.
Em entrevista a PEGN, Renata Moraes Vichi, CEO do grupo CRM, afirma que “nada mudou nem mudará” até a aprovação do órgão regulador. E, mesmo depois desse passo, pouco deve ser alterado no negócio de franquias, diz ela.
Uma das condições para o acordo, segundo comunicado da própria Nestlé, era a permanência de Vichi. “A gente continua tocando o plano de 2024, com entrega do orçamento para o ano que vem e [das metas] de 2023. O plano é dar continuidade ao projeto de crescimento já conhecido da CRM. Não vemos nenhum cenário de mudança”, diz a executiva, que está há 25 anos na empresa e participou da implantação do franchising no negócio.
Nestlé compra Kopenhagen:
O anúncio prematuro fez Vichi se reunir com o conselho de franqueados às pressas na tarde de 6 de setembro. De acordo com ela, a percepção foi positiva. “Eles viram com bons olhos, pois mostra uma consistência e legitima tudo que a gente já fez. Eles confiam muito no meu trabalho e no trabalho do meu time”, diz. Ela acrescenta a que o CRM continuará como uma empresa independente dentro dos negócios da Nestlé — não deve ser uma aquisição nos moldes do Grupo Acerte Franchising pela Unilever, por exemplo, que colocou a marca Omo na Quality Lavanderia.
Hoje, o Grupo CRM tem 60 profissionais dedicados à área de franquias, para expansão e suporte das redes Kopenhagen e Brasil Cacau. De acordo com Vichi, “todo mundo fica”, e as mudanças com a entrada da Nestlé serão “da porta para dentro”.
“Vemos a possibilidade de sinergia intelectual. Teremos acesso a mais estudos de consumidores. Também teremos a parte mais ‘hard’, de tecnologia, além da compra de commodities”, diz.
Não há previsão de alteração na produção, que deve continuar concentrada na fábrica de 230 mil metros quadrados em Extrema (MG), tampouco de estratégias comerciais ou canais de venda. A internacionalização, em um primeiro momento, também não está na mesa da executiva. O foco agora é o crescimento no Brasil.
“Da porta para fora, não mudaremos absolutamente nada. A qualidade do produto, o canal de distribuição, estratégia comercial, crescimento com franquias, tudo isso se mantém, porque esses sempre foram os maiores ativos do CRM. Seria uma loucura mudar o que faz a companhia valer que ela vale hoje”, diz Vichi.
200 lojas extras para o Natal
Enquanto aguarda pela resposta do Cade, Vichi está focada no Natal, a próxima data comemorativa, que até tirou a Páscoa do topo no balanço da empresa nos últimos anos. As primeiras entregas para o Natal 2023 devem ser finalizadas nos próximos dias, mas não apenas nos pontos já estabelecidos. Algumas lojas temporárias de Kopenhagen e Brasil Cacau começaram a pipocar em pontos comerciais desde o fim de setembro, e a ideia é que permaneçam ativas por cerca de seis meses, entre Natal e Páscoa. A informação foi adiantada com exclusividade a PEGN.
“O plano prevê aproximadamente 200 pontos extras. O franqueado pode prospectar algum ponto que seja interessante na região, como um shopping ou hipermercado. Estamos esperando um Natal forte, com crescimento de 30%”, diz. A rede já vem experimentando um crescimento de 20% mês a mês neste ano. A previsão é fechar o ano com R$ 1,7 bilhão em faturamento.
Cerca de 16 unidades temporárias da Kopenhagen e 35 da Brasil Cacau devem ser inauguradas em novembro. O maior número de lojas é esperado para novembro e dezembro.
De acordo com ela, o investimento do franqueado para a montagem desse ponto extra, que consiste em um quiosque modular, deve girar em torno de R$ 15 mil e pode servir como um teste e estímulo para o crescimento orgânico da rede. “Se o franqueado perceber que o quiosque modular está indo bem, ele pode, depois de seis meses, assinar um contrato de franquia para essa operação. Pode ser um caminho interessante para acelerarmos a expansão no ano que vem.”
2 mil novas lojas em dois anos
Das 2 mil lojas que o grupo pretende abrir até 2026, 1,2 mil serão da Brasil Cacau e 800, da Kopenhagen. A ideia é fomentar o crescimento orgânico, dentro da própria rede de 590 franqueados que já trabalham com o grupo, mas também abrir oportunidades para empreendedores do mercado.
Atualmente, a proporção é de 1,8 lojas por franqueado, e de acordo com Vichi, a expansão tem sido de 40% com multifranqueados e 60% com novos investidores, sobretudo em novas praças, onde as marcas ainda não têm presença. “A prioridade [em cidades menores] é por um empreendedor local”, diz. O CRM trabalha com modelos de investimento que vão de R$ 150 mil a R$ 500 mil.
Franquias:
No ano passado, o Grupo CRM abriu 130 lojas. A previsão é terminar 2023 com 200 novos pontos de venda. De acordo com a empreendedora, grande parte dessa expansão se deu pela entrada em novas cidades – a empresa tem mais de 400 municípios mapeados que podem receber lojas das duas marcas.
Hoje, Kopenhagen está em 430 cidades e tem plano de abrir mais 240, e Brasil Cacau está em 620 cidades, com projeto de expansão para mais 403.
Venda direta turbina vendas da Brasil Cacau
O canal de venda direta foi incorporado às unidades da Brasil Cacau em 2022 e ainda está em piloto, de acordo com Vichi, mas já representa entre 10% e 12% do faturamento da marca. A ideia é que ele se torne um incremento tão poderoso quanto o digital se tornou para a marca. “O digital hoje já representa de 15% a 20% das marcas”, diz Vichi.
Os próprios franqueados fazem a gestão e o abastecimento das revendedoras e revendedores. A estimativa é que a marca já trabalhe com cerca de 2 mil revendedores. “Tem sido até um aprendizado para expansão, porque uma revendedora se abastece em uma cidade, por exemplo, e vende em outra, e vemos que a marca vai bem nesse novo mercado.”
Fonte: PEGN