Por Sérgio Ripardo | A Aliansce Sonae, maior administradora de shopping center da América Latina que há seis meses realizou uma fusão com a concorrente brMalls, decidiu fazer um rebranding que a transformou em Allos. O próximo passo é trocar o ticker da ação listada na B3 para ALOS3.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO, Rafael Sales, disse que o objetivo com a nova marca é tornar a companhia mais conhecida dos consumidores, em um momento em que seu portfólio de 62 shoppings próprios, presentes em 16 estados, nas cinco regiões do país.
Segundo ele, 11 shoppings vendem cada um mais de R$ 1 bilhão por ano. Em seis meses desde a fusão com a brMalls, de acordo com o executivo, a Allos tem conseguido capturar sinergias com a integração e apresenta ganhos de escala em seu balanço do segundo trimestre.
“Aliansce é um acrônimo de Aliança de Shopping Centers. É difícil a pessoa ler, ouvir e já saber. Fora do varejo, um achava que nós éramos do Allianz Parque [estádio do Palmeiras], outro da seguradora. Nosso nome tinha poder com lojistas e empreendedores de shopping, ao contrário do grande público. Por isso buscamos uma marca poderosa com o consumidor”, explicou o executivo.
A história da Aliansce não está atrelada a um negócio de família, como de outros gigantes do setor, a exemplo da Multiplan (MULT3), da família Perez, e do Iguatemi, da família Jereissati. “O tema da marca é muito caro devido ao legado”, afirmou.
A Aliansce surge com a construção do primeiro shopping center do Nordeste do Brasil: o Nacional Iguatemi Salvador, inaugurado em 1970 por Newton Rique. Em 1975, inaugurou o segundo shopping, o Shopping da Bahia. A companhia ganhou forma em 2004, quando o filho de Newton, Renato Rique, monta uma sociedade com a Gávea Investimentos.
“Não queríamos perder vínculos com essa marca, que tem uma visão muito positiva com pessoas do ramo de shopping center. É uma empresa que começou com um empreendedor sozinho”, diz o CEO.
Em 2019, a Aliansce enfrentou sua primeira grande fusão, com a Sonae Sierra Brasil, fundada em 2002 a partir da construção do Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas, no interior paulista. A fusão somou os 31 empreendimentos da Aliansce aos 9 da Sonae.
Em janeiro deste ano, após a fusão com a brMalls, a companhia passou a 62 shoppings em 40 municípios. Destes, 53 propriedades são próprias e nove administradas de terceiros. A combinação de negócios levou à soma de 2,5 milhões de m² de ABL (área bruta locável) total, incluindo próprios e administrados.
“Não tivemos nenhum susto nesses seis meses de fusão. Isso nos dá ânimo. A integração fez sentido”, avalia Salles.
As ações da Aliansce acumulam valorização de 48% neste ano, acima do desempenho do Ibovespa (10%), da Multiplan (28%) e do Iguatemi (14%).
A atração de lojas de marcas internacionais voltou ao radar da companhia. O CEO citou o anúncio da H&M, rede de vestuário de origem sueca, feito no mês passado, de que deve iniciar operação no Brasil no início de 2025, com possibilidade de abrir lojas em shoppings da Allos e Multiplan, como divulgou o jornal Valor Econômico no dia 17 de julho. A negociação da rede para escolher os espaços das suas unidades no país ainda não foi concluída.
“É uma novidade legal, mas não temos por enquanto muitas marcas globais querendo vir para o Brasil. É um processo de retomada de confiança, aproveitando que o real está voltando à estabilidade”, diz.
Centro-Oeste
Hoje uma das estratégias da Allos se volta para a região Centro-Oeste. Cuiabá, capital de Mato Grosso, é uma das principais apostas. “O Shopping Estação Cuiabá é o mais legal da região. Temos seis shoppings no Centro-Oeste, a fronteira agrícola do país”, afirma.
Na região, a Allos deixou de operar em Brasília, na capital federal, após a venda de sua participação no Boulevard Brasília para um fundo do Banco Master, do banqueiro mineiro Daniel Vorcaro.
O retorno da Allos a Brasília não está descartado pelo CEO. Hoje há dois grandes shopping em construção no Distrito Federal, um deles é tocado pelo empresário, senador e ex-governador Paulo Octávio, o outro pelo Grupo Partage, uma das famílias fundadoras do laboratório farmacêutico Aché.
“Podemos voltar à praça de Brasília um dia para um projeto grande ou comprando participações. Gostamos de consolidação, mas não estamos falando com ninguém agora. Brasília é um dos mercados interessantes de maior renda per capita e densidade. Os funcionários públicos possuem renda estável”, observa o CEO.
Novas compras?
Sales considera que o processo de consolidação do setor de shopping center no Brasil ainda não acabou. Ele cita exemplos de players na Ásia e na África com participação de mercado de até 80%, para dimensionar o gigantismo das operadoras do setor no exterior.
“Estamos focados em fazer a integração com a brMalls. Como se diz, o varejo é o detalhe, retail is detail. Nosso foco é em melhorar a experiência do cliente”, resume o CEO.
Ou seja, por enquanto, a companhia não estuda nenhuma aquisição relevante, mesmo com o início de um ciclo de redução dos juros pelo Banco Central no começo do mês.
“Mesmo com a perspectiva de queda, os juros ainda estão em um nível elevado e difícil. Temos um custo financeiro de CDI + 0,80%”, observa Sales.
No estado de São Paulo, a Allos administra 12 shoppings, sendo os de maiores receitas o Parque Dom Pedro, em Campinas, o Villa Lobos, na capital paulista, e o Tamboré, em Barueri, na Grande São Paulo.
O shopping Eldorado também é administrado pela companhia, mas pertence à família Veríssimo, ex-acionista do extinto Hipermercado Eldorado, vendido para o Carrefour em 1997. A Allos também é dona do Shopping Metrô Santa Cruz, Plaza Sul, Jardim Sul, Mooca Plaza Shopping e Santana Plaza Shopping.
“Em São Paulo, o Parque Dom Pedro ainda opera abaixo do seu potencial”, avalia o executivo, indicando o empreendimento como uma das prioridades.
No Rio de Janeiro, o Allos é dono do Shopping Leblon e do NorteShopping, enquanto no Nordeste, o principal ativo é o Shopping Recife, na capital pernambucana, onde enfrenta a concorrência com o RioMar, do grupo local JCPM. Nos últimos anos, o mercado chegou a alimentar expectativas de venda dos ativos de shopping do JCPM, como as duas unidades do RioMar em Fortaleza, no Ceará, mas o grupo pernambucano desistiu do processo de venda, segundo fontes ouvidas pela reportagem.
Como foi o rebranding
A diretoria de marketing do grupo teve o apoio da Design Bridge & Partners no processo de rebranding e da nova identidade visual da Allos.
“Nosso ponto de partida foram as alianças que construímos até aqui. Somos um elo com as cidades onde atuamos, as comunidades do entorno, nossos clientes, lojistas e colaboradores. A nova marca precisava traduzir essa potência, esse ecossistema”, afirmou Ana Paula Niemeyer, diretor de marketing da Allos.
O CEO da companhia espera que a nova marca seja parceira em eventos de ativação de marcas internacionais, mobilizando seu amplo portfólio de shoppings.
Analistas
Para analistas, a Allos deve seguir se beneficiando da tendência de consolidação do setor. O Morgan Stantey manteve, neste mês, sua recomendação de “equal weight” (em linha com o mercado) para a ação da companhia, elevando o preço-alvo de R$ 22 para R$ 24. Já o Itaú BBA tem reiterado o papel da Allos como sua top pick do setor. Não é a única instituição a fazer isso.
˜É a nossa top pick. Vemos a empresa como o melhor nome para surfar a tendência de consolidação do setor, considerando o seu potencial de destravar até R$ 1,5 bilhão por meio da venda de ativos não core a cap rates atrativos, enquanto se beneficia da captura de sinergias da combinação de negócios com a brMalls”, avaliou relatório da Guide Investimentos, divulgado no mês passado
Os analistas Fernando Siqueira e Lucas Rietjens consideraram que a companhia será favorecida pela queda de juros. “De acordo com nossas estimativas, a cada corte de 100 bps na Selic, há um impacto positivo de +2,4% no FFO 2024e [fluxo de caixa decorrente das operações estimado para 2024] da companhia, em linha com Iguatemi e consideravelmente acima de Multiplan. O valuation é atrativo: vemos a Aliansce Sonae como o nome com o maior upside entre as empresas de nossa cobertura (+35%)”, escreveram Siqueira e Rietjens.
Balanço
No segundo trimestre, a receita líquida da companhia atingiu R$ 644 milhões, alta de 9,1%, enquanto o Ebitda cresceu 14,1%, com margem de 73,5%, uma melhora de 113 bps no indicador em 12 meses.
O lucro líquido ficou em R$ 152,984 milhões, queda de 3,6% em 12 meses. A taxa de ocupação fechou junho em 95,7%, abaixo dos 96,9% em igual período do ano passado.
O indicador Same Store Rent alcançou 11,5% ano contra ano. As vendas totais tiveram aumento de 5,4% para R$ 9 bilhões, na comparação anual. Esse resultado se aproxima à performance da receita de locação, refletindo a convergência da rentabilização das áreas de renovações e de novas locações, segundo a empresa.
Três das cinco regiões geográficas apresentaram expansão de dois dígitos no primeiro semestre, com destaque para o Centro-Oeste, expandindo 12,3%.
Em relatório, a companhia comentou que a performance de aluguéis refletiu a captura de sinergias através da expressiva redução de descontos. Estacionamento e desenvolvimento imobiliário também foram destaque do desempenho no trimestre.
Fonte: Bloomberg Linea