05/03/2015 às 05h00
Por Letícia Arcoverde | De São Paulo
A chegada em peso da geração Y ao mercado de trabalho significa mais do que a necessidade de as empresas se adaptarem às demandas dos jovens.
Essa também é a geração em que as mulheres são a maioria dos profissionais com ensino superior.
De acordo com uma pesquisa da consultoria PwC, esse contingente de jovens profissionais do sexo feminino tem expectativas mais ambiciosas e mais consciência das dificuldades enfrentadas por mulheres no mercado de trabalho. Desse modo, abordar o assunto da mesma forma que se fez com as gerações anteriores - hoje ainda minoria em cargos de liderança - não será suficiente. “Elas estão mais exigentes em relação à aplicação prática de uma gestão mais inclusiva nos lugares onde trabalham”, diz João Lins, sócio da PwC Brasil e líder de gestão de capital humano.
O estudo ouviu 8.756 profissionais nascidos entre 1980 e 1995, em sua maioria mulheres, com origem em 75 países, entre eles o Brasil. O país tem as mulheres mais confiantes de que conseguirão realizar seus objetivos de carreira (76%) e as que mais desejam trabalhar em outro país, junto com o México (88%). Essa demanda por experiências internacionais nunca esteve tão alta em todo o mundo. Apesar disso, apenas 20% dos expatriados hoje são mulheres.
O principal desafio atualmente, destacado na pesquisa: que as empresas demonstrem que não estão interessadas na questão da diversidade apenas no papel. Uma das tendências apontadas por pesquisas anteriores da PwC é uma preocupação maior por parte dos CEOs com o assunto na comparação com quatro anos atrás de cerca de 10% para quase dois terços hoje, globalmente.
“Há um reconhecimento maior de que o tema não é apenas uma questão de responsabilidade corporativa, mas tem ligação direta com o negócio”, diz Lins.
Não dar atenção ao tema pode fazer com que as empresas percam talentos: a grande maioria das mulheres entrevistadas globalmente (86%) leva em conta as políticas de diversidade de uma empresa ao escolher um emprego. Mas é preciso mostrar resultados, pois 71% consideram que, embora as companhias falem sobre o assunto, não oferecem igualdade de oportunidades de gênero.
Entre 2011 e 2015, cresceu o número de mulheres que acham que as empresas tendem a favorecer homens na hora de contratar, promover e desenvolver funcionários. Na opinião de Lins, isso mostra amadurecimento por parte das profissionais dessa geração e mais disposição no meio corporativo para discutir o tema.
Ao dividir os resultados com base na idade das profissionais, a pesquisa revela que há uma queda na confiança de que elas serão capazes de chegar ao topo das organizações onde trabalham na medida em que assumem cargos mais altos. Entre mulheres em início de carreira, com até três anos de experiência, 49% acham que conseguiriam atingir níveis altos na empresa atual. O número cai para 45% entre aquelas com experiência entre 4 e 8 anos, e para 39% entre profissionais com mais de 9 anos de carreira, que no geral estão em cargos de média gerência. Os números ainda assim são mais baixos do que nos casos de profissionais homens 71% dos jovens profissionais homens em início de carreira acham que serão capazes de alcançar o topo da organização.
A ideia de que a mulher muitas vezes abandona a carreira executiva para focar na família uma das razões mais citadas pelas empresas para justificar a baixa presença de mulheres em cargos de liderança não tem respaldo nos dados da pesquisa. Esse é o motivo menos citado por elas ao deixar um emprego caso de apenas 4% das respondentes. No longo prazo, 19% das mulheres dizem que essa poderia ser uma razão para deixar o emprego, mas o número é praticamente igual ao de homens com a mesma opinião, 18%.
Valor Econômico – SP