Por Luana Rosales – A Pernambucanas, uma das maiores varejistas do Brasil, criou recentemente o Voltei, uma vertical para intermediar a revenda de roupas usadas integrando a operação do digital com as lojas físicas.
Pelo site ou aplicativo da companhia, o cliente acessa o menu “Voltei” e faz o cadastro das peças a serem vendidas, que podem ser de qualquer marca. Isso inclui qualquer item de vestuário, seja feminino, masculino ou infantil, com exceção de calçados e acessórios.
O próximo passo é categorizar e fotografar os itens. Depois disso, o cliente/vendedor tem acesso ao valor prévio pelo qual a peça será comercializada.
Em seguida, é preciso deixar as roupas com um dos colaboradores das mais de 500 lojas da varejista no país. O funcionário realiza a conferência e encaminha as peças ao centro de distribuição da companhia, localizado em Araçariguama, no interior de São Paulo.
No CD, as roupas passam pelo processo de triagem para determinar se precisam de reparos. Nesse caso, o procedimento está vinculado ao projeto que a Pernambucanas tem junto ao SENAI, onde se ensina o ofício de costura para uma posterior contratação pela empresa.
Feitos os reparos, as peças são lavadas e fotografadas profissionalmente para a disponibilização no e-commerce da varejista.
O processo de fotografia é feito através da conexão da Pernambucanas com o Instituto Criar, no qual é oferecida a formação em profissões ligadas ao mercado audiovisual para jovens de baixa renda.
A cada passo, o cliente/vendedor é informado e, ao efetuar a venda, recebe até 50% do valor da peça. Os recursos podem, então, ser recebidos na conta digital da varejista ou doados para o Instituto Gerando Falcões.
“Aí entra todo o processo que a gente construiu da conta e do cartão Pernambucanas, que é uma tecnologia proprietária com algumas parcerias que a gente desenvolveu com Matera e com a Conductor”, conta Sergio Borriello, CEO da Pernambucanas.
A Matera é uma empresa que oferece soluções de TI para o mercado financeiro, entre elas o processamento de transações Pix. Já a Conductor é especializada no processamento de pagamentos e banking-as-a-service, com uma API nativa e aberta em nuvem.
TECNOLOGIAS ENVOLVIDAS
Além da conta digital, estão envolvidas no processo diversas outras tecnologias já utilizadas anteriormente pela companhia.
Do ponto de vista logístico, a Pernambucanas usa o Oracle Retail para todos os sistemas de distribuição desde 2012. No e-commerce, a varejista utiliza a plataforma da VTEX e desenvolveu internamente uma subseção do e-commerce para o Voltei.
Para projetos como esse, a empresa tem um laboratório digital com cerca de 15 pessoas, definidas pelo CEO como um grupo de coordenadores que buscam soluções junto a startups.
“O objetivo do laboratório é a aceleração do processo de inovação e desenvolvimento digital da companhia. Esse laboratório reporta diretamente a mim e, através dele e das conexões com startups, a gente faz o processo de desenvolvimento. Não desenvolvemos tudo internamente, pelo contrário”, explica Borriello.
Para o executivo, um dos maiores desafios de negócio do Voltei é a logística.
“Se eu tenho uma peça feita em Pernambuco que venha a ser vendida no Rio Grande do Sul, ela faz todo esse percurso. Tudo que anda nesse país, em função do custo logístico, é um baita desafio para você ter grande escala. Então a integração do físico com o digital é fundamental”, explica Borriello.
Outro desafio apontado pelo executivo é a sustentabilidade, no sentido de como fazer as conexões para dar maior utilização às peças, ajudando o meio ambiente e, ao mesmo tempo, se conectar com o desenvolvimento profissional de pessoas de baixa renda.
“Com a junção do físico-digital, logística e essa cadeia de sustentabilidade, o resultado é de deixar a gente orgulhoso. Fazer tudo isso funcionar é um desafio de negócio bastante grande. Depois de botar para funcionar, o desafio vai ser dar volumetria a isso”, resume Borriello.
No momento, a Pernambucanas quer que as pessoas conheçam o Voltei para que a ferramenta cresça.
“Esse é o nosso grande objetivo agora, que as pessoas possam saber como faz para comprar, como faz pra entregar. Daí para frente, com as pessoas tomando contato com isso, vira marketing de boca a boca”, acredita o CEO.
Com 115 anos de atuação, a Pernambucanas está presente em mais de 340 cidades, em 15 estados e no Distrito Federal, com mais de 500 lojas e cerca de 14 mil colaboradores.
Além do varejo, a companhia tem a sua fintech, a Pefisa, braço financeiro do grupo, responsável pelo desenvolvimento e gestão de produtos como conta digital, Pix, carteira digital, cartões, empréstimo pessoal e seguros.
ECONOMIA CIRCULAR
O projeto da Pernambucanas se encaixa no conceito de economia circular, definido pela Organização Internacional de Normalização (ISO) como “um sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”.
Outra empresa que recentemente criou um programa parecido foi a Breton, marca brasileira de móveis de luxo. Em junho deste ano, a companhia lançou o Breton Circular, programa voltado à venda de mobiliários seminovos a um preço mais acessível na sua plataforma.
Já a Papirus, fabricante de papel cartão, e a RaiaDrogasil, uma das maiores redes de farmácia do país, se uniram para realizar um projeto que envolve a Natz, linha de produtos naturais da varejista.
Através dele, são recolhidas embalagens usadas para a fabricação de novas embalagens de papel para os produtos.
No exemplo da Coca-Cola, a meta é coletar e reciclar uma embalagem a cada garrafa ou lata vendida até 2030.
Fonte: Baguete