Por Isabela Fleischmann | O mercado de consumo no Brasil continua a atrair atenção e investimento de gigantes asiáticas de e-commerce. Depois de a chinesa Shein anunciar planos para a produção de roupas com parceiros no Brasil, a Shopee informou a expansão da sua rede logística com dois novos centros de distribuição (CDs), de 10 mil e 6 mil metros quadrados nas regiões metropolitanas de Recife e Salvador, respectivamente.
A plataforma de e-commerce do grupo de tecnologia Sea (SE), de Cingapura, diz que os novos centros no Nordeste vão permitir aumentar em mais de 40% o número de cidades atendidas no país e otimizar os processos de coleta dos produtos de vendedores locais até a entrega aos consumidores.
O formalização do plano de expansão das operações da empresa ocorre após o governo brasileiro ter recuado da decisão de taxar produtos importados de até R$ 50 de marketplaces estrangeiros. A cobrança atendia a uma reivindicação de grandes empresas de varejo do Brasil e poderia representar uma arrecadação extra de R$ 8 bilhões ao ano, segundo cálculos do Ministério da Fazenda.
As vendas do comércio eletrônico brasileiro somaram R$ 262,7 bilhões em 2022, de acordo com pesquisa da NielsenIQ Ebit, um crescimento de 1,6% depois de uma expansão de 27% no ano anterior.
Além da Shopee, cujo sortimento é mais variado do que o de moda da Shein, o mercado de e-commerce no Brasil tem grandes players digitais como Mercado Livre (MELI) e Amazon (AMZN), além de empresas tradicionais do varejo como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), entre outras.
Faz alguns anos, consumidores têm sido atraídos por ofertas de varejistas asiáticos, como AliExpress e Shein. Segundo a NielsenIQ Ebit, cerca de 72% de um grupo de mais de 3.000 consumidores consultados em uma pesquisa disseram que fazem compras em sites internacionais.
A Shopee tem buscado se distanciar da imagem de site de compras estrangeiro e tenta se estabelecer como uma plataforma que conecta vendedores e usuários brasileiros, assim como concorrentes como o Mercado Livre, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg Línea.
A empresa diz que 85% dos produtos vendidos no Brasil são de vendedores locais que anunciam na plataforma.
A Shein, por sua vez, fabrica suas próprias roupas, a maior parte na China, e informou que passará a produzi-las de forma crescente e gradual no Brasil para atender o mercado latino-americano, na esteira das discussões sobre taxação de importados com o governo. O plano é chegar a 85% em 2026.
Logística no Nordeste brasileiro
Os novos CDs da Shopee no Nordeste têm a função de armazenar, reorganizar e direcionar as mercadorias para centros de menor porte, que, depois, destinam os produtos ao consumidor final, em um modelo conhecido como cross-docking.
A plataforma também inaugurou nos últimos meses mais de 60 centros de operação menores, tanto aqueles responsáveis pela coleta das mercadorias e separação para envio ao centro de distribuição quanto outros que cuidam da fase de entrega dos produtos aos consumidores.
São utilizados parceiros logísticos para a coleta em vendedores (primeira milha) e a entrega de pacotes de produtos comercializados na Shopee para os consumidores. A frota de veículos cresceu mais de 40% versus o segundo semestre de 2022 e alguns veículos receberam o “envelopamento” da marca.
Empresa reduz operação em países da região
A estratégia de focar no mercado local brasileiro tem sido acompanhada pela redução das operações em outros países da região, como México, Colômbia e Chile, onde a empresa optou por manter apenas as vendas internacionais para cortar custos.
Na Argentina, a Shopee encerrou as operações, pois era possível operar só com vendas locais. A estratégia na América Latina tem sido se concentrar em países de língua espanhola com vendas cross border.
O único mercado da América Latina com vendas locais passou a ser o Brasil, com mais de 3 milhões de vendedores brasileiros e onde iniciou suas operações em 2019. São mais de 3.000 funcionários no país.
Fonte: Bloomberg Linea