Por Daniela Braun
A empresa americana de entregas de refeições prontas Doordash, número um no delivery de comida nos Estados Unidos à frente da Uber Eats, está de olho no mercado brasileiro.
O momento é decisivo para a entrada de competidores na categoria no país, após um acordo firmado em fevereiro entre o líder iFood e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que busca equilibrar a concorrência no setor e atrair novas empresas ao país.
Conforme o Valor apurou, recentemente a Doordash, que conta com 59% do mercado de delivery de comida nos EUA, segundo dados da consultoria Statista, contratou uma empresa de recrutamento em busca de profissionais de tecnologia e análise de dados que atuam no setor.
Procurada pelo Valor, a Doordash confirmou que está contratando na região e que está “animada com os talentos técnicos locais no Brasil”. A empresa não informou se abrirá uma operação no país.
“Embora estejamos sempre pensando em maneiras de aprimorar e dimensionar nossa plataforma para atender mais clientes, comerciantes e ‘Dashers’ em todo o mundo, isso não está diretamente vinculado a nenhum plano de iniciar operações aí”, disse a empresa por meio de sua área de comunicação.
A entrada de um concorrente de peso no setor é um dos reflexos esperados pelo Cade após ter firmado um Termo de Cessação de Conduta (TCC) com o iFood.
“A chegada de um concorrente seria um sinal muito bacana de que possa haver competição nesse mercado e o setor precisa disso”, afirma Paulo Solmucci, presidente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). “Antes, quem já tinha enxergado o Brasil pulou fora, como a Uber Eats”.
No fim de 2020, a Abrasel juntou-se aos aplicativos Rappi, 99 e UberEats em petições junto ao Cade pedindo que a autarquia investigasse as práticas adotadas pelo iFood em contratos exclusivos com estabelecimentos.
Em 2022, a Uber Eats contava com 24% do mercado americano de delivery, 35 pontos percentuais atrás da Doordash, segundo dados compilados em julho de 2022 pela Statista.
A Grubhub, fundada em Chicago, está em terceiro, com 14% do mercado americano. Em terceiro vem a Postmates, com 3%, que podem ser contabilizados pela Uber Eats já que foi adquirida pela Uber em julho de 2020, por US$ 2,65 bilhões.
Na avaliação de Koen van Gelder, analista da Statista, mesmo após um salto de demanda no auge da pandemia da covid-19, “os aplicativos de delivery tendem a crescer não apenas nos Estados Unidos”.
A consultoria projeta que a receita de entrega de comida on-line em todo o mundo seja de US$ 85 bilhões em 2024, alta de 60,4% sobre o resultado de US$ 53 bilhões em 2019, antes da pandemia. No Brasil, o setor deve fechar 2023 faturando US$ 766,3 milhões, 20% acima do resultado de US$ 638,3 milhões em 2022.
Trajetória
Fundada em 2013 no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), a Doordash tem mais de 32 milhões de usuários em 27 países, incluindo Canadá, Austrália, Japão, Alemanha e Porto Rico, sendo a maioria dos clientes nos EUA.
A crise no setor de tecnologia não poupou a empresa. Desde dezembro de 2020, quando abriu seu capital na bolsa americana New York Stock Exchange (Nyse), a Doordash perdeu mais de três vezes seu valor de mercado, de US$ 72 bilhões para os atuais US$ 20,4 bilhões.
A rentabilidade foi um problema no quarto trimestre. De outubro a 31 de dezembro, a receita de US$ 1 bilhão superou em 57,5% a soma registrada um ano antes, mas o prejuízo líquido de US$ 640 milhões se multiplicou ante a perda de US$ 155 milhões no fim de 2021.
Em 2019, a Doordash ensaiou uma fusão com a Uber Eats, sem sucesso. No mesmo ano, a empresa fundada por Tony Xu, seu atual diretor-presidente, ao lado de dois colegas da Universidade de Stanford, comprou a Caviar, que pertencia à Square, de Jack Dorsey, cofundador do Twitter, por US$ 410 milhões.
Já em 2021 investiu pesado para entrar na Europa com a compra da finlandesa Wolt, por US$ 8,1 bilhões em ações.
As ações da Doordash fecharam em alta de 2,60% nesta quarta-feira (15), negociadas na Nyse a US$ 58,47.
Fonte: Valor Econômico