Por Cristiana Euclydes
A inflação que ainda se mantém como uma ameaça pelo mundo e o risco de uma possível recessão nos países desenvolvidos colocaram as condições econômicas e a estratégia de capital no topo da lista de prioridades dos conselhos de administração das empresas das Américas neste ano, de acordo com um estudo realizado pela consultoria EY com mais de 400 membros de conselho de diversos países da região, como Brasil, Argentina, México e Estados Unidos.
Segundo a pesquisa, 80% dos conselheiros participantes classificaram condições econômicas entre as cinco prioridades. Já 70% classificaram estratégia de capital e disponibilidade, inovação e evoluções tecnológicas, e agenda de talentos como parte dos cinco temas mais importantes a serem abordados em 2023.
A diretora executiva de empresas familiares da EY no Brasil e na América Latina, Carolina Queiroz, afirma em entrevista ao Valor que a entrada de condições econômicas no topo da lista de prioridades reflete a preocupação dos conselhos em especial com a inflação, na medida em que países como os Estados Unidos não estão acostumados a lidar com esse tema.
Segundo ela, as empresas enfrentam desafios únicos nessa área. “O momento atual requer atenção”, afirma. A alocação de capital, por sua vez, já aparecia em pesquisas anteriores, na medida em que as empresas repensam sua estratégia e exploram opções para atingir metas estratégicas, afirma Queiroz.
Ainda no topo das prioridades, para 64% dos conselheiros, segurança cibernética e privacidade de dados é um tema prioritário. Já as mudanças climáticas e considerações geopolíticas – mesmo após a guerra da Ucrânia – ficaram nas duas últimas posições da lista, mostrando que o cenário mudou significativamente em relação aos anos anteriores.
Outro estudo da EY, com mais de 750 diretores-presidentes de empresas realizado em outubro de 2022, mostrou que 64% pretende aumentar investimento de capital, em especial em recursos digitais, enquanto fusões e aquisições continuam como opção crítica para aumentar capacidades. O desinvestimento também pode desempenhar um papel fundamental na condução da estratégia, liberando capital, diz.
Com relação à transformação digital e inovação, tratam-se de temas presentes nas pesquisas anteriores. “Não tem como fugir disso, é algo que faz parte da estratégia do dia a dia”, diz Queiroz. Já a agenda de talentos entre as prioridades mostra a importância de reter profissionais e os desafios de manter engajamento, lidar com mundo híbrido e atender demandas de cada geração e de cada indústria, afirma.
A pauta de segurança cibernética, por sua vez, fazia parte de gestão de risco, mas ganhou magnitude devido a seus impactos para a companhia, podendo até mesmo interromper a operação. “As consequências podem ser tão severas que não pode ser delegada como pauta operacional”, afirma. “O conselho passou a ter maior envolvimento nestas questões.”
As mudanças climáticas, por sua vez, não estão no topo das prioridades, assim como no ano passado. “Existe muito debate sobre o tema, é uma pauta relevante, mas ainda está evoluindo, amadurecendo”, afirma Queiroz. Segundo ela, para as empresas de capital fechado em especial ainda não é uma temática clara, mesmo que a pauta seja antiga.
Queiroz diz ainda que a percepção da responsabilidade dos conselheiros vem mudando, e eles têm questionado qual é o seu papel, como agregar valor para organização que seja efetivo e traga resultado. A experiência é relevante, bem como o conhecimento no negócio, pois o conselheiro não consegue agregar se não conhecer o negócio, afirma.
Segundo ela, um dos desafios para os conselhos em 2023 é ajudar as companhias a se prepararem para temas que vão surgir, se atentar para riscos que não são mapeados facilmente em análises de risco. “Nunca vai ser um ano fácil, empreender é uma arte, e no Brasil mais ainda.”
Fonte: Valor Econômico