Grupo terá duas holdings e um conselho de administração
Por Marina Falcão
O grupo pernambucano JCPM dividiu os seus ativos em duas holdings e reestruturou a gestão e a governança da área de shoppings centers, seu principal negócio. Com participação em 11 empreendimentos, o grupo será comandado pela primeira vez por um executivo de fora da família fundadora. Além disso, foi montado um conselho de administração que contará com Marcelo José Ferreira e Silva, ex-presidente do Magazine Luiza, como membro independente.
Com as mudanças, o empresário João Carlos Paes Mendonça quer “preparar o grupo para o futuro” e “melhorar a transparência” dos negócios. Ele não descarta a possibilidade de uma abertura de capital do segmento de shoppings, embora não tenha prazo para que isso ocorra. “Estamos ainda em uma adaptação. O objetivo é cada vez mais atingir o patamar de governança de empresa de capital aberto”, disse, em entrevista ao Valor.
Aos 83 anos, Paes Mendonça está saindo do comando executivo do grupo para ficar na presidência do conselho. O órgão contará ainda com mais três sócios da família, além de Marcelo Silva, que foi presidente da rede Bompreço duas décadas atrás e comandou a varejista Magazine Luiza. Em paralelo, o grupo estruturou quatro comitês estratégicos, incluindo um de auditoria e finanças.
Por conta do período em que os shoppings tiveram que fechar as portas na pandemia, a receita da holding JCPM Empreendimentos e Participações recuou de R$ 521,5 milhões em 2019 para R$ 357,8 milhões, queda de 31,4%. O lucro líquido registrou queda de 20,4%, para R$ 78 milhões, na mesma comparação.
O executivo Jaime de Queiroz Lima Filho, atual vice-presidente do grupo, ficará à frente da holding de shopping centers, no comando da diretoria. A outra holding abrigará o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, outros ativos imobiliários, novos negócios e a área de compromisso social.
Dos 11 shoppings em que tem participação societária, dos quais cinco no Recife, o JCPM participa da gestão de sete deles. Segundo Paes Mendonça, o setor está se recuperando rapidamente do baque sofrido na pandemia. O empresário projeta, inclusive, que o quarto trimestre deve registrar crescimento das vendas da rede de shoppings em torno de 10% em relação ao mesmo período de 2019.
Paes Mendonça diz que a vacância nos empreendimentos do grupo está baixa com “mais lojas entrando do que saindo”. Em setembro de 2019, o grupo tinha 243 contratos com lojistas assinados. No mesmo mês do ano passado, o número caiu para 145, e agora voltou para o patamar pré-pandemia.
Apesar dos sinais evidentes de melhora no setor, Paes Mendonça diz que os negócios devem continuar sendo impactados pela conjuntura econômica do país, que, para ele, passa por uma crise política e social. “É uma tempestade mais do que perfeita”, descreve.
Em que pese o crescimento exponencial das vendas on-line no Brasil, o empresário acredita haverá convivência entre os marketplaces (shopping virtuais) e os centros comerciais tradicionais. Mas o perfil dos empreendimentos deve se adaptar à nova realidade de hábitos do consumidor. As empresas de prestação de serviços devem ganhar cada vez mais espaço nos shoppings, diz Paes Mendonça. “O shopping não será mais apenas um local de compras, mas de convivência e de lazer”, afirma.
O grupo Paes Mendonça fez fortuna no setor de varejo no Nordeste. A trajetória remonta o ano de 1935, quando Pedro Paes Mendonça, pai de João Carlos, montou um mercearia em Serra do Machado, no Estado de Sergipe. O negócio acabou se transformando na rede de supermercados Bompreço, que chegou a ser a terceira maior do Brasil. Em 2000, o empresário vendeu a totalidade das ações do Bompreço para o grupo holandês Royal Ahold. Dez anos depois, a rede foi comprada pela americana Walmart.
Pouco tempo após a venda da varejista, Paes Mendonça começou investir no ramo de shopping centers. Os empreendimentos do grupo hoje somam 640 mil metros quadrados área bruta locável (ABL).
Nos últimos anos, o empresário tem se dividido entre Recife e Armamar, cidade na região do Douro, no norte de Portugal, onde produz vinhos.
Fonte: Valor Econômico