Captação é fundamental para reduzir a alavancagem da rede de hamburguerias, que ganhou prazo após estender vencimentos de dívidas com bancos para 2022
Por Adriana Mattos e Mônica Scaramuzzo
O Grupo Madero, do empresário Luiz Durski Junior, pôs em compasso de espera a sua oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês) e está monitorando, semana a semana, se avançará ou não com a operação ainda neste ano, e em qual formato.
Duas fontes próximas à empresa não veem espaço para uma oferta aberta ao investidor de varejo, baseada nas regras da instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em vez disso, dizem que a rede pode seguir pelo modelo destinado apenas a investidores profissionais (CVM 476).
A captação é fundamental para reduzir a alavancagem da rede de hamburgueria, que ganhou algum prazo após estender parte de seus vencimentos de dívidas com bancos deste ano para 2022.
“Eles podem avançar com a oferta, com base nos números do segundo trimestre, até metade de novembro. Então, há alguma margem ainda, mas falta visibilidade pelo nível de incerteza”, diz uma fonte com conhecimento da operação. “Agora, estão acelerando com o balanço do terceiro trimestre, que deve sair entre a última semana de outubro e o início de novembro, para deixar algo mais engatilhado também com esses números mais recentes.” Segundo outra fonte, “a ordem é deixar a empresa pronta e esperar a melhor janela”.
Outra pessoa próxima à companhia confirma que a volatilidade do mercado atrapalhou os planos, afetando projeções sobre o valor da companhia. Há ofertas que foram adiadas ou suspensas nas últimas semanas, de empresas como Havan, Blue Fit e Althaia. O “valuation” (valor de mercado) da rede, por parte de gestores que estiveram nas primeiras rodadas de conversas com o comando, teria ficado abaixo do desejado pelo empresário, que também não gostaria de ver uma diluição maior de sua fatia numa eventual oferta nas condições atuais.
Nas conversas iniciais, antes da piora nos mercados, a direção projetava o valor da empresa na faixa de R$ 7 bilhões, o que levaria a um múltiplo de 28 vezes o lucro antes de juros, impostos amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) projetado para 2022. O Valor apurou que a empresa estima R$ 250 milhões de Ebitda para o ano que vem. A BK Brasil, dona do Burger King, opera com múltiplos, para 2022, de 9,8 vezes e a Arcos Dorados, dona do McDonald’s, em 7,4 vezes, segundo cálculos de analistas e bancos.
Como o Valor antecipou em julho, a princípio, o plano era de uma oferta total de R$ 2 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão a R$ 1,5 bilhão de emissão primária, com recursos para o caixa da companhia. Júnior venderia parte de seus papéis numa oferta secundária, com possibilidade de saída parcial do Carlyle, que tem 27,6% da empresa. Júnior tem 64,8% da rede.
Cálculos de duas gestoras têm considerado um valor da empresa de R$ 2,4 bilhões a R$ 2,5 bilhões hoje, para uma dívida líquida de pouco mais de R$ 900 milhões em junho (sem considerar passivo de arrendamento, de R$ 600 milhões). Isso leva a um “equity value” — conta que inclui valor de mercado e todos os passivos da companhia — de cerca de R$ 1,5 bilhão.
Caso a oferta avance nas condições que hoje estão sendo analisadas, como informa o prospecto, metade da oferta primária deve ser usada para reduzir dívida, e outra parte, para expansão orgânica. A rede tem R$ 2,3 bilhões em obrigações financeiras totais, de curto, médio e longo prazos, mostra balanço de janeiro a junho, que inclui obrigações tributárias, com fornecedores e bancos, entre outros.
Desse total, quase metade são empréstimos de bancos (R$ 1,1 bilhão). Cerca de R$ 900 milhões venciam até junho de 2023, mas a empresa abriu renegociações após a divulgação desses dados. Nessas conversas com BTG Pactual, Banco do Brasil e Bradesco, o prospecto publicado em agosto mostra que os bancos concederam “waiver” (uma espécie de perdão) à empresa, relativos a descumprimentos de cláusulas de contratos de crédito, e abriram novas linhas, postergando parte das dívidas.
Na Faria Lima, o ceticismo sobre IPOs, de modo geral, é grande. Para a safra de outubro, havia uma expectativa de 28 empresas fazendo a precificação de seus papéis. “Mas a taxa de mortalidade de boa parte dessas ofertas deverá ser alta. Muitas empresas preferem aguardar melhor cenário a conceder pesados descontos”, afirma fonte de um dos bancos que fazem parte da coordenação da oferta do Madero.
O Valor antecipou em junho que a empresa admitiu “dúvidas substanciais sobre a continuidade da operação” em seu resultado do primeiro trimestre. Depois disso, a empresa ressaltou que vem recuperando vendas, após a reabertura do comércio, com aumento no tráfego de clientes, e mantido projetos, inclusive com aberturas de unidades. Durski afirmou em rede social que a rede está indo “muito bem”. O Madero está em período de silêncio e, procurado pela reportagem, não se manifestou.
Fonte: Valor Econômico