Eegloo vai capacitar empreendedores da comunidade para se tornarem licenciados da marca em condomínios
Por Gabriela Caseff
Paraisópolis, em São Paulo, foi escolhida para receber a primeira loja autônoma em favela do país. Sem vendedor, caixa ou segurança, o acesso ao minimercado que funciona 24h é feito por aplicativo no celular, que também escaneia produtos e processa o pagamento.
O projeto foi desenvolvido pela eegloo, braço social da startup Onii, dona de pelo menos 200 lojas em condomínios e empresas. Além da conveniência do consumo, o objetivo é capacitar empreendedores da comunidade para operarem outras unidades, se tornando licenciados da marca.
“É um projeto de geração de renda”, diz Ricardo Podval, fundador da Onii, que apostou em 2019 na democratização do modelo Amazon Go, loja autônoma da varejista norte-americana.
“As lojas são abertas em parceria com grandes marcas como Ambev, Coca-Cola e P&G, entramos com equipamento e tecnologia e o empreendedor é responsável pela unidade.”
Quem toca a primeira loja de Paraisópolis é Daniel Cristovão, 36, dono do mercado Brasileiríssimos. “Aqui o povo empreende por natureza, temos 14 mil pontos de comércio e a maioria não teve formação”, afirma.
Daniel passou por treinamento com mentoria e apoio jurídico. Uma das expectativas da Onii é que empreendedores de periferia possam operar lojas autônomas em condomínios na região.
“Somos cercados de condomínios que não têm esse serviço”, diz Daniel. “Os R$ 50 que o morador do Morumbi gasta são os mesmos R$ 50 que o morador de Paraisópolis gasta.”
Instalado em um contêiner na frente do pavilhão social do G10 Favelas, o minimercado tem produtos sortidos em pequenas quantidades. “Tem feijão, óleo, suco, mas também tem chocolate, cerveja e fralda.”
Segundo Daniel, não há competição com mercadinhos de bairro, que funcionam em horário comercial em pontos diversos da favela. O modelo da eegloo se volta à conveniência e aos moradores que preferem fazer compras em horários alternativos.
Durante a pandemia, lojas autônomas se espalharam por condomínios residenciais na busca pelo consumo de moradores em home office.
Levantamento do Instituto Locomotiva, em junho de 2020, mostrou que o supermercado foi destino principal de 85% dos moradores de comunidades brasileiras durante o distanciamento social.
“É uma quebra de paradigma de achar que tecnologia não funciona na periferia”, diz Podval. As lojas contam com inteligência artificial para controle, abastecimento e relacionamento com o comprador. “Se a pessoa sai sem pagar, temos como rastrear pelo aplicativo.”
O estoque do mercado Brasileiríssimos abastece a eegloo, que dá conta do consumo de 150 moradores. Pães caseiros, bolos e pimentas fabricadas na comunidade devem estar em breve nas prateleiras.
“Produtos de empreendedores de Paraisópolis podem estar não só nos Egloos, mas em todas as Oniis”, diz Ricardo Podval.
O G10 Favelas –grupo de líderes das maiores favelas do país– fará a triagem dos interessados, que receberão treinamento para se tornarem licenciados. “Entendemos que a capacitação vale muito, então criamos pílulas de empreendedorismo em vídeo e teremos treinamento, além de material online.”
O resultado financeiro será dividido entre empreendedor, grupo G10 Favelas, ONG Turma do Jiló, Onii e o Instituto Kobra, do artista Eduardo Kobra, que desenhou e doou o logo da Egloo.
Com planos para abrir mil unidades em todo o Brasil nos próximos dois anos, as eegloos devem chegar a outras favelas. “Vamos colocar no Complexo do Alemão, na Rocinha, no Vale do Dendê e muitos outros lugares”, diz Podval.
Fonte: Folha de S. Paulo